Segundo testemunhas, os tiros partiram de um carro e mataram Raimundo e Firmino Guajajara. Outras quatro pessoas ficaram feridas. Ataques na região já deixaram três nativos mortos neste ano.
No El País
Dois indígenas da etnia Guajajara foram assassinados neste sábado no município de Jenipapo dos Vieira, no Maranhão. Segundo testemunhas, os tiros partiram de um carro e mataram Raimundo e Firmino Guajajara. Outras quatro pessoas ficaram feridas. O crime ocorreu por volta de 12h30 às margens da rodovia BR-226, entre as aldeias Boa Vista e El Betel, a 506 quilômetros ao sul da capital São Luís. Outros Guajajara bloquearam a pista em protesto.
Um vídeo que circula pelas redes sociais mostra Nelci Olímpio Guajajara baleado na perna à espera de atendimento médico na estrada. Ele confirmou que os tiros partiram de um carro branco. O relato coincide com o do cacique Magno Guajajara, que estava no local. Segundo afirmou à Deutsche Welle, cinco pessoas estava dentro do veículo. “Eles passaram atirando e atingiram nosso parente. É muito preconceito, muita intolerância”.
O ministro da Justiça, Sergio Moro, se manifestou pelo Twitter e disse lamentar o episódio. “Assim que soube dos tiros, a Funai foi até a aldeia tomar providências, junto com as autoridades do governo do Maranhão”garantiu. “A Polícia Federal já enviou uma equipe ao local e irá investigar o crime e a sua motivação. Vamos avaliar a viabilidade do envio de equipe da Força Nacional à região. Nossa solidariedade às vítimas e aos seus familiares”, acrescentou.
Essa região do Maranhão vive uma escalada de violência contra os povos nativos que ali vivem. Com o atentado deste fim de semana, um total de três indígenas Guajajara foram assasinados neste ano. No começo de novembro, o líder Paulino Guajajara, de 26 anos, foi assassinado na terra Arariboia Terra Indígena Arariboia enquanto caçava. “Mais dois parentes Guajajaras foram assassinados hoje no Maranhão. Basta de vítimas, não queremos mártires, queremos vozes vivas! Toda solidariedade aos parentes da terra indígena Cana Brava”, tuitou neste sábado a líder índigena Sônia Guajajara, que no ano passado foi candidata a vice-presidenta na chapa de Guilherme Boulos (PSOL). Coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), ela encontra na Europa para denunciar a política ambiental e indigenista do Governo Jair Bolsonaro e participou nesta sexta-feira de uma manifestação em Madri, sede da última Cúpula do Clima da ONU (COP-25), para exigir ações emergenciais contra o aquecimento global.
A escalada de violência contra os indígenas no Maranhão fez com que o governador Flavio Dino (PCdoB) criasse por decreto, ainda no início de novembro, a Força Tarefa de Proteção à Vida Indígena (FT-VIDA), “para auxiliar os órgãos federais em dificuldades e para atender emergências em terras indígenas”, segundo explicou na ocasião. Neste sábado, expressou também por meio do Twitter sua solidariedade às vítimas. “As equipes estaduais de segurança estão colaborando com as autoridades federais competentes para questões indígenas. Policiais civis já em atuação na área e foi feito contato com a Polícia Federal”, garantiu.
A ONG Anistia Internacional, que atua em defesa dos direitos humanos em todo o mundo, também se manifestou após o atentado deste sábado. “Os ataques aos povos indígenas, os primeiros habitantes do país, violam uma série de direitos: desde o mais básico e valioso, o direito à vida, passando pelo direito a seus territórios, seus modos de vida e a sua segurança”, disse. “Exigimos esclarecimento sobre as circunstâncias dessas mortes e a efetivação dos direitos humanos dos povos indígenas!”, completou.
Bolsonaro se elegeu no ano passado afirmando que não permitiria novas reservas indígenas e, desde que assumiu, vem defendendo a exploração de recursos mineirais em suas terras. Seu discurso permissivo com relação ao desmatamento e à exploração das riquezas naturais da Amazônia é visto por especialistas e ambientalistas como fator determinante no aumento do desmatamento e dos incêndios neste ano. A maior parte da destruição se deu justamente em terras indígenas e reservas naturais protegidas, segundo indicam os dados. Essas terras são ambicionadas por madereireiros e grileiros, movidos pelas promessas do Governo de fazer uma regularização fundiária na região, o que poderia resultar também na legalização das áreas invadidas de forma criminosa.