Empresa de chefe da Secom tem ‘um monte, dezenas de clientes’, diz administrador

Empresa de chefe da Secom tem ‘um monte, dezenas de clientes’, diz administrador

Firma recebe dinheiro de contratos com emissoras e agências que foram contratadas pelo governo Bolsonaro.

Fábio Fabrini
FSP

empresário Fabio Liberman —nomeado como administrador da FW Comunicação pelo chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), Fabio Wajngarten— afirma que a empresa tem uma lista extensa de clientes privados, entre agências de publicidade e veículos de comunicação.

“Tem um monte [de contratantes], tem várias agências de propaganda, tem dezenas de clientes”, disse em entrevista à Folha, nesta quarta (15).

Questionado pela reportagem, Wajngarten não apresentou a relação completa dos contratantes, tampouco os valores pagos. Em pronunciamento no Palácio do Planalto nesta quarta, ele afirmou: “Eu não temo nada, zero. 100% das receitas das minhas empresas estão à disposição de todos que quiserem”.

Reportagem publicada pela Folha nestaquarta mostrou que a FW, fornecedora de pesquisas de mídia para o mercado, recebe dinheiro de agências e de TVs contratadas pela própria Secom, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro, entre elas a Band e a Record, cujas participações na verba publicitária da Secom vêm aumentando.

Wajngarten é o sócio majoritário da empresa, com 95% das cotas.

Fabio Liberman disse que a firma tinha negócios com SBT e Rede TV!, mas os contratos se encerraram. “Esses grandes são clientes”, disse.

Ele não informou, contudo, as datas em que o vínculo citado com essas emissoras se encerrou.

Fabio Liberman foi nomeado para gerir a FW em abril do ano passado, dias antes de Wajngarten assumir o cargo na Secom.

Como a Folha mostrou, no mês seguinte, Wajngarten chamou para assessorá-lo na pasta o irmão do administrador, Samy Liberman.

Em maio de 2019, Samy foi nomeado subsecretário de Comunicação Digital. Depois, em agosto, foi alçado à função de secretário-adjunto de Comunicação Social, segundo cargo na hierarquia da Secom.

Nessa função, Samy participa de decisões sobre o rateio da verba publicitária do governo.

A lei 12.813/2013, que trata do conflito de interesses na administração federal, proíbe o agente público de exercer atividade que implique a “prestação de serviços ou a manutenção de relação de negócio” com empresas com interesse nas suas decisões.

Também veda que o ocupante de cargo no Executivo pratique “ato em benefício de pessoa jurídica de que participe ele próprio, seu cônjuge, companheiro ou parentes até o terceiro grau”, ou mesmo que “possa ser por ele beneficiada ou influenciar seus atos de gestão”.

Procurados nesta quarta, Wajngarten e Samy não se pronunciaram.

Fabio Liberman disse que ele e o irmão são amigos de infância de Wajngarten, que, por isso, confiou neles para auxiliá-lo, um na esfera privada e o outro na pública.

Questionado sobre se a nomeação do secretário-adjunto foi motivada pelo parentesco que tem consigo, Fabio Liberman declarou: “Claro. A relação é que a gente conhece o Fabio [Wajngarten] faz quase 40 anos. Sou publicitário, trabalho com isso há muito tempo. Quando ele foi convidado para o governo, eu era o cara mais próximo dele, em que ele confiava”.

Segundo ele, Samy foi “a primeira pessoa” que Wajngarten convidou para a Secom.

O chefe da secretaria é ainda sócio da Wajngarten Intermediações de Negócios, empresa também administrada por Fabio Liberman e que, segundo ele, não emite notas fiscais desde 2015. Ele não informou que serviços a firma presta.

A família do secretário atua no setor de publicidade. A mulher dele, Sophie Wajngarten, é sócia da CCB Desing Publicidade, que presta serviços de computação gráfica para publicidade e marketing direto, entre outros.

À Folha Wajngarten sustentou que a CCB não atende ao setor público ou aos seus fornecedores.

A Band, em nota, reiterou nesta quarta que contrata a FW e que a empresa presta serviços ao mercado de comunicação “há anos”.

A Rede TV! Informou, também por escrito, que não mantém mais relações comerciais com empresas de Wajngarten.

O SBT alega que seu “código de conduta resguarda toda e qualquer informação” sobre seus parceiros e fornecedores. “O que a Folha nos pede [informações sobre vínculos com a FW] fere esta ética”, acrescentou.

A Record não comentou. 

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