Como secretária de Cultura, Regina Duarte tem histórico de conservadorismo político

Como secretária de Cultura, Regina Duarte tem histórico de conservadorismo político

Aliada de Bolsonaro, atriz Regina Duarte é associada a pautas políticas conservadoras e virou símbolo do antipetismo  - Créditos: Foto: Reprodução/Instagram

Atriz já defendeu corte de verbas de Bolsonaro na Cultura e fez manifestações contrárias a demarcações indígenas

Cristiane Sampaio

Brasil de Fato | Brasília (DF)

A atriz Regina Duarte deverá assumir o posto de secretária Especial de Cultura no lugar do dramaturgo Roberto Alvim, que foi demitido na semana passada após protagonizar um vídeo com conteúdo nazista. A informação sobre o aceite, o qual ela caracterizou como um “teste”, do convite por parte da atriz foi divulgada nesta segunda-feira (20), após uma reunião entre ela e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).   

“Tivemos uma excelente conversa sobre o futuro da cultura no Brasil. Iniciamos um ‘noivado’ que possivelmente trará frutos ao país”, disse o chefe do Executivo por meio de sua conta no Twitter.

A atriz ficou de dar a reposta definitiva, no entanto, na quarta-feira (22), quando viajará a Brasília. 

A nomeação da atriz para a pasta é controversa mesmo dentro do meio artístico por conta do perfil de Regina, que é associada à defesa de pautas conversadoras na política e medidas neoliberais na economia. Ao longo de 2019, ela fez diferentes postagens nas redes sociais em que defendeu o presidente Bolsonaro e ministros como Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, e Paulo Guedes, da Economia.  

No ano passado, por exemplo, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, da TV Globo, a atriz chegou a defender os cortes de verbas do governo na área de Cultura, afirmando que seria o momento de “controlar os gastos” – a asfixia orçamentária é uma das principais críticas encampadas pelo meio artístico à gestão do capitão reformado.

Além disso, em 2017, quando o então presidente Michel Temer (MDB) sinalizou que acabaria com o Ministério da Cultura, Regina Duarte defendeu a extinção da pasta, que havia sido criada em 1985.  

“Se o país está ’em coma’, não entendo a insistência no autoengano de achar que a Cultura pode se safar, sadia, do desconserto geral que nos abateu. Na teoria (linda!) a prática é outra (dolorida). Sou a favor da ideia de manter a Cultura internada no ‘Hospital’ da Educação. Depois da possibilidade de ‘alta’, vamos ver o que pode ser melhor para ela e para todos nós, brasileiros”, disse, na época.  

Agora, segundo jornais da mídia empresarial, Bolsonaro estaria reavaliando a recriação do ministério para que a atriz pudesse ficar à frente da pasta. Em tom de deboche, o ator José de Abreu criticou a indicação dela para o cargo de secretária.

“Breking Faking News: Regina Duarte exige a recriação do Ministério da Cultura para participar do governo. ‘Sempre fui a protagonista, não será agora que vou ser a secretária. Quase não tem fala!’”, ironizou, pelo Twitter.  

A documentarista Debora Diniz se somou às reações críticas, afirmando que “personagem e criatura se confundem na adoração que ela devota ao presidente Bolsonaro”. “Ela é a matéria que incorpora a libido do poder patriarcal. Uma mulher em submissão encantada”, disse, também pela rede social.   

Histórico político

A indicação para a secretaria e a defesa da extinção do ministério não são as únicas controvérsias que circundam o nome da atriz, que já protagonizou outras polêmicas relacionadas ao mundo político.  

Nas eleições presidenciais de 2002, por exemplo, a frase “eu estou com medo”, proferida por Regina Duarte em campanha nacional a favor de José Serra (PSDB), marcou a disputa. Na ocasião, ela se referia à possível eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao se engajar no pleito, a atriz acabou se tornando um dos símbolos da polarização política entre PT e PSDB e passou a ser associada a manifestações de caráter conservador e antipetista.

Contra indígenas

Regina Duarte também tem histórico de críticas às demandas pautadas pelo movimento indígena no que se refere às demarcações de terra – bandeira principal das comunidades tradicionais e alvo frequente do ruralismo.  

Em 2009, por exemplo, ao participar da 45ª Exposição Agropecuária e Comercial (Expoagro), em Dourados (MS), a atriz se mostrou solidária aos produtores rurais do estado que lutavam contra demarcações indígenas e quilombolas.

“Podem contar comigo, da mesma forma que estive presente nos momentos mais importantes da política brasileira”, disse, na ocasião, acrescentando que “o direito à propriedade é inalienável”. “Confesso que em Dourados voltei a sentir medo”, destacou ainda, ao se referir a despachos da Fundação Nacional do Índio (Funai) que previam a criação de reservas de comunidades tradicionais na região.

Casada com o pecuarista Eduardo Lippincott desde 2002, a atriz mantém junto com o marido um criatório de gado de elite apontado como um dos melhores do país. Lippincott atua no ramo há mais de 40 anos e os dois frequentam os espaços de poder e prestígio do agronegócio.

Apesar de a Secretaria Especial de Cultura não ter ligação com demandas de reconhecimento e demarcação de terras indígenas, entidades que acompanham o tema se mostram críticas à nomeação da atriz para o cargo.

“A gente lamenta isso e acha que esse tipo de postura [dela] em nada vai contribuir pra cultura no Brasil e tampouco pra questão indígena, porque ela vai respaldar um governo que é contra as demarcações e os direitos indígenas. A nomeação dela vai significar simplesmente um reforço nessa postura extremamente preconceituosa e de ódio que está existindo no Brasil”, avalia o secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Eduardo Cerqueira de Oliveira.  

O governo Bolsonaro ainda não confirmou em que data a atriz tomará posse. Com a saída de Alvim, o secretário-adjunto da pasta, José Paulo Martins, assumiu o cargo interinamente.

Edição: Vivian Fernandes

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