Bilionários do Brasil crescem com a crise
Sérgio Fontenele
Na Pensar Piauí
Enquanto o País afunda num quadro de estagnação ou recessão econômica, devendo ter crescido menos de 1% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), em 2019, com cerca de 13 milhões de desempregados formais e outros 40 milhões na informalidade, sem quaisquer direitos trabalhistas, há outro fenômeno em curso. O Brasil sempre foi profundamente desigual. Isso remonta o início da colonização, com a escravização dos índios, depois, dos negros, continuou com o advento da república, iniciada com um golpe militar, e vai até os dias atuais.
O processo em questão diz respeito ao aprofundamento da concentração de renda e riqueza, que se intensificou a partir de 2012, e hoje chega a patamares insuportáveis à sociedade brasileira, delineando um quadro caótico no qual a situação social se agrava a cada dia e com maior velocidade e voracidade. Comentando a edição especial da revista Forbes, uma publicação de luxo direcionada sobretudo aos mais ricos, o renomado economista carioca Eduardo Moreira chamou a atenção para algo alarmante.
A revista trata do espantoso crescimento de bilionários brasileiros, que ultrapassou o contingente dos 200, ou seja, o Brasil hoje tem mais de 200 bilionários – e esse número de privilegiados está crescendo. De acordo com a Forbes, em 2012, quando o tamanho da economia era maior do que o da economia nacional de hoje, 2020, os bilionários brasileiros eram bem menos numerosos. Para os mais ingênuos – muita gente supostamente esclarecida –, isso é um bom sinal, pois, se aumentam os bilionários, haveria uma expansão econômica.
Recessão econômica
Ocorre que é exatamente o contrário. Os bilionários do País estão se multiplicando à medida que a economia continua patinando num quadro de recessão ou estagnação econômica. O PIB real, descontada a inflação do período, encolheu em oito anos, desde 2012, enquanto a atividade produtiva entrou em depressão. Quando se observa a queda vertiginosa da indústria – em especial, a construção civil –, do comércio e do setor de serviços, etc., explicando melhor, a produção de riqueza é hoje menor do que a de oito anos atrás.
Então, de onde vem esses bilionários, que se multiplicam como coelhos, se a economia está muito mal? Em 2012, eles acumulavam quase R$ 350 bilhões, e hoje têm R$ 1,205 trilhão. Há oito anos, juntavam uma fortuna que equivalia a 7% do PIB, e atualmente, sua acumulação de dinheiro corresponde a 17%. Nenhum negro entre eles. De onde vem esse R$ 1,2 trilhão? Vem do seu bolso, da exploração dos trabalhadores, empobrecendo a olhos vistos, cujo dinheiro é em parte desviado para setores como os bancos e seus juros escorchantes.
Estamos diante de uma década perdida – a dos anos 10 do século XXI –, quando a economia brasileira em média não cresceu, entrando numa das recessões mais graves da história, em 2015 e 2016, e permanecendo praticamente no estágio em que a recessão deixou a economia nesse biênio. De 2017 até hoje tivemos crescimento pífio. Por isso, os mais de 50 milhões de desempregados – juntando aqueles com carteira assinada e os que estão na informalidade, de aplicativo, por exemplo. Mas isso faz muito bem aos bilionários.