Para honrar os povos originários

Para honrar os povos originários

Fotojornalista consagrado no cenário político, o brasiliense Ricardo Stuckert revela toda sua sensibilidade também ao retratar indígenas brasileiros.

Jornal de Brasília

Em 1997, o fotógrafo brasiliense Ricardo Stuckert teve o primeiro contato com os povos originários do Brasil, no Estado do Amazonas. Lá, ele fez um retrato da indígena Penha, da etnia Yanomami — a moça, com 22 anos na época, chamou atenção pelos olhos verdes. Quase 17 anos depois, Stuckert decidiu procurá-la, a encontrou na mesma comunidade e a fotografou novamente. Os dois retratos fazem parte da exposição Índios Brasileiros, que entra em cartaz hoje na galeria da Aliança Francesa.

A mostra é uma prévia do livro homônimo que o fotógrafo está trabalhando para lançar. Ricardo Stuckert — descendente de indígenas e de família de fotógrafos — percorre o Brasil há três anos em busca dos povos tradicionais, seus hábitos de vida, a riqueza cultural, além da preservação de costumes e tradições para documentar, com sensibilidade e precisão, a pluralidade dos grupos indígenas do país. Para o livro, ele já fotografou 12 etnias — são cerca de 300 em todo o Brasil.

Experiente — com mais de 30 anos de profissão —, Ricardo Stuckert tem carreira conhecida no fotojornalismo político. No currículo, coleciona cargos importantes — foi fotógrafo oficial da Presidência da República entre 2003 e 2011 —, mas acredita que também faz política ao fotografar os indígenas. “A minha fotografia documental dos indígenas é política porque mostra como eles estão; mostra que existe uma cultura e uma beleza ancestral. Eu estou tentando resgatar o que ainda existe. Quero mostrar que há, sim, indígenas no Brasil — e eles vivem, têm cultura, cuidam dos seus e resistem”, disse, em entrevista ao Jornal de Brasília.

Complementares

De acordo com Ricardo, os dois trabalhos são complementares. À política, o fotógrafo levou a calma e a humanidade que aprendeu a cultivar com os povos originários. “Com a política, é tensão 24 horas. Reuniões importantes, momentos tensos, manifestações… então eu aprendi a manter a tranquilidade nesses momentos — e acredito que evoluí muito como ser humano e como profissional. Acabei virando uma chavinha e desenvolvendo um outro olhar para a notícia política”, relata.

Esse olhar foi lapidado durante os esforços para estabelecer relações de confiança com os indígenas: é necessário respeitar o espaço deles. “A abordagem é sempre feita no tempo deles e com isso a gente aprende a moldar uma relação com os nossos povos originários. Geralmente não tenho muitos dias para ficar na aldeia, mas sei que preciso agir sempre no tempo deles — e, a partir daí, eu busco entrar na atmosfera do grupo”, explica. “Os ensaios com os indígenas me proporcionaram desenvolver uma relação mais humana; talvez fosse o que faltava para o meu trabalho com a política”, completa.

Em um fim de semana na aldeia com o Cacique Raoni — uma das principais lideranças indígenas da atualidade —, Stuckert contou que só conseguiu fotografar nas últimas horas da visita. “Imagina a minha tensão? Era o último dia e não tinha feito a foto que eu queria. Quando fui tomar banho no rio para ir embora, o Raoni apareceu com mais seis indígenas para tomar banho também — e perguntou se eu não ia fazer as fotos antes de ir embora! Tudo o que eu tinha que fazer em um fim de semana eu fiz em poucas horas, priorizando a construção de uma relação de confiança com eles.”

A ideia é continuar em busca de outras etnias de indígenas brasileiros para fotografar. “Quero fortalecer esse conteúdo; se eu conseguir fotografar pelo menos 30 etnias — 10% do que existe no Brasil — acho que já vai ser um grande legado para a fotografia documental”, pontua Stuckert.

Noite das Ideias

A exposição faz parte do evento Noite das Ideias, que nasceu em Paris há quatro anos com a intenção de debater assuntos importantes para o mundo. Na primeira edição brasileira, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo se juntam ao restante do mundo para celebrar e refletir sobre o tema deste ano: A Floresta – como ser vivo e lugar de seres vivos. Na próxima quinta-feira, a Aliança Francesa recebe, de 18h a meia-noite, conferências, mesas-redondas, performances artísticas e projeções de vídeo sobre o tema.

Serviço

Índios Brasileiros
Exposição de Ricardo Stuckert

De hoje a 28 de fevereiro, na galeria da Aliança Francesa
SEPS Q 708/908
Entrada franca

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