Ex-PM tinha relações com Queiroz e família Bolsonaro; foragido há um ano, teria reagido a prisão, segundo a polícia
RedaçãoBrasil de Fato
Apontado como chefe de uma das milícias mais antigas do Rio de Janeiro, o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega foi morto em uma operação na cidade de Esplanada, na Bahia, na manhã deste domingo (9). Nóbrega estava foragido há mais de um ano e era suspeito de comandar o “Escritório do Crime”. O ex-PM também era investigado por lavagem de dinheiro no esquema de “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia confirmou que a Superintendência de Inteligência (SI) do estado passou a monitorar Nóbrega após receber informações de que o miliciano estava escondido na Bahia.
“No momento do cumprimento do mandado de prisão ele resistiu com disparos de arma de fogo e terminou ferido. Ele chegou a ser socorrido para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos“, afirmou a secretaria em nota. A polícia informou que encontrou uma pistola austríaca calibre 9mm e outras três armas no imóvel.
“Procuramos sempre apoiar as polícias dos outros estados e, desta vez, priorizamos o caso por ser de relevância nacional. Buscamos efetuar a prisão, mas o procurado preferiu reagir atirando”, afirmou o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Teles Barbosa, segundo a nota.
A ação que localizou Nóbrega em um imóvel na zona rural de Esplanada foi realizada em conjunto com o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), a Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Litoral Norte, o Grupamento Aéreo (Graer) e a SI.
Esclarecimentos
A secretaria baiana tratou o miliciano como “investigado por envolvimento na morte de Marielle Franco, em 2018”. O Partido Socialismo e Liberdade (Psol), sigla da vereadora assassinada, divulgou uma nota pela manhã afirmando que Nóbrega era suspeito de envolvimento no assassinato de Marielle e Anderson Gomes, e que seria “peça chave para revelar os mandantes” do crime.
Mais tarde, no entanto, o partido atualizou a nota, esclarecendo que era a milícia da qual Nóbrega fazia parte que tinha suspeita de envolvimento na morte de Marielle. A nota atualizada indica que o partido solicitará uma audiência com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, “uma vez que Adriano da Nóbrega era peça chave para revelar diversos crimes, incluindo aqueles envolvendo Queiroz e Flávio Bolsonaro”. O partido afirma ainda que está avaliando medidas que envolvam também autoridades federais. “Seguimos exigindo respostas e transparência para pôr fim à impunidade”, conclui a nota.
Milícia e relação com família Bolsonaro
Adriano Magalhães da Nóbrega foi policial militar e atirador de elite formado pelo Bope. Dentro e fora da corporação, Nóbrega atuou em atividades criminosas que iam desde envolvimento em esquemas de jogo do bicho e lavagem de dinheiro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro até o comando do chamado Escritório do Crime, organização suspeita de ter ligação com o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Antes de ser expulso da corporação em 2014, trabalhou no 18o Batalhão da PM com Fabrício Queiroz, pivô de um escândalo envolvendo um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.
No início de 2019, vieram à tona denúncias de que a esposa e a mãe de Nóbrega eram empregadas pelo gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
Em 2005, Nóbrega havia recebido de Flávio Bolsonaro a Medalha Tiradentes, mais alta honraria concedida pela Alerj. Após ser considerado foragido pela justiça, a deputada estadual Renata Souza (Psol-RJ) apresentou uma resolução para revogar a homenagem.
Edição: Aline Scátola