Um evento evangélico no leste da França, que durou uma semana no mês fevereiro, contribuiu para disseminar o coronavírus em todo o país, segundo autoridades sanitárias.
Na BBC – A celebração religiosa, um importante foco de contaminação, também tornou o leste da França a área mais afetada pelo vírus causador doença covid-19, com 587 casos confirmados dos cerca de 2,3 mil registrados até o momento no país.
Até o final de fevereiro, a região da Alsácia, no leste da França, não era o centro das atenções do noticiário sobre o coronavírus, mais concentradas no norte do país.
A situação mudou drasticamente no início de março, após a celebração religiosa da igreja pentecostal Porta do Sol Cristã, de 17 a 24 de fevereiro, que reuniu cerca de 2 mil pessoas em Mulhouse, localidade do Haut-Rhin, na Alsácia.
Os participantes do encontro evangélico vieram de toda a França, inclusive de territórios ultramarinos, como a Guiana, onde quatro casos de pessoas que estiveram no encontro foram confirmados. Vários também eram de localidades do leste.
“Houve muita confraternização. É um contexto propício para a contaminação”, afirma o médico Jonathan Peterschmitt, filho do pastor da igreja evangélica Porta do Sol Cristã.
“Quando rezamos, podemos nos dar as mãos”, diz a responsável pela comunicação da igreja de Mulhouse, acrescentando que no momento em que ocorreu o encontro religioso as precauções decorrentes do vírus não haviam sido implementadas pelas autoridades.
O pastor da igreja também foi contaminado. Em um comunicado, os organizadores do encontro evangélico ressaltam que nenhum participante tinha sintomas gripais e que naquele momento não havia nenhuma recomendação do governo.
“A França estava no nível 1 (de medidas preventivas), ou seja, o vírus não circulava de maneira geral na população”, diz o comunicado da igreja, acrescentando que só posteriormente as autoridades limitaram o número de pessoas em eventos (atualmente no máximo mil).
Mas no departamento de Haut-Rhin, onde fica Mulhouse, reuniões com mais de 50 pessoas foram proibidas para conter a propagação.
Até o final de fevereiro, o principal foco de contaminação na França era a região do Oise, no norte. No intervalo de apenas uma semana, entre o final de fevereiro e o início de março, o número de casos de coronavírus na França passou de algumas dezenas a mais de mil.
Como o período de incubação pode levar até duas semanas, de acordo com estudos médicos, o evento evangélico representou uma “bomba de efeito retardado que se fragmentou em toda a França”, escreveu o jornal Le Figaro.
Avanço exponencial
A França é o segundo país da Europa mais afetado pela epidemia. Segundo os últimos dados, 2.281 pessoas foram contaminadas no país (quase 500 a mais do que no dia anterior) e 48 mortes foram registradas.
O primeiro caso de um participante do evento religioso contaminado pelo coronavírus surgiu em 29 de fevereiro. Nos dias seguintes, o número foi crescendo de forma exponencial.
No dia 6 de março, o secretário de segurança pública do Haut-Rhin, onde fica Mulhouse, declarou que o número de pessoas infectadas no departamento foi multiplicado por oito em apenas 48 horas, passando de dez para pelo menos 81. Em menos de uma semana, o total já é de 359.
A contaminação também foi acelerada na França após o encontro religioso, com casos de participantes que contraíram o vírus em várias regiões, da Normandia à Córsega, no sul.
Um pastor evangélico de Briançon, no sul, que participou do encontro em Mulhouse, foi contaminado. Ele também é diretor do serviço funerário da cidade e esteve em contato com três prefeitos do sul do país, incluindo o de Briançon, que tiveram de suspender sua campanha às eleições municipais (o primeiro turno é no próximo domingo, dia 15) até saberem se contraíram o vírus.
A covid-19 tem impacto na campanha das eleições municipais. Vários prefeitos cancelaram comícios ou foram obrigados a restringir o número de participantes em até mil, conforme determinação do governo.
As escolas e creches na região do Oise, no norte da França, do Haut-Rhin, no leste, e da Córsega, no sul, foram fechadas até o final de março.
Os hospitais na região leste da França estão saturados e recebem um grande número de ligações de pessoas que querem fazer testes para diagnosticar se houve contaminação.