Média de idade dos italianos infectados pelo coronavírus é de 63 anos, sendo que 60% deles são do sexo masculino.
Lucas Ferraz
Revista Época
O perfil da maior parte dos mortos relacionados ao novo coronavírus na Itália, o segundo país mais afetado até agora pela pandemia, se assemelha aos da China, epicentro do novo vírus: os efeitos são particularmente fortes nos idosos do sexo masculino que já conviviam com alguma doença.
Na Itália, contudo, diante da população idosa proporcionalmente maior, a taxa de mortalidade da doença causada pelo vírus, a covid-19, chegou nesta segunda-feira (16/03) a 7,7%, enquanto o índice chinês médio é de 2,3%.
Segundo dados do Instituto Superior de Saúde (ISS), órgão subordinado ao Ministério da Saúde da Itália e que monitora a emergência nacionalmente, a média de idade dos italianos infectados pelo coronavírus é de 63 anos, sendo que 60% deles são do sexo masculino.
Os números do ISS sobre as mortes relacionadas à covid-19 mostram que a imensa maioria das vítimas convivia com pelo menos uma ou mais doenças, com maior porcentagem (37%) para as cardiovasculares.
Na China, entre os infectados, 4,7% ficaram em situação crítica, número quase idêntico ao da Itália (5%). Cerca de 45% dos testados positivamente no país europeu sentiram sintomas leves (contra 80% na China) e 24% algum sintoma severo (ante 13%).
O novo vírus já infectou no país asiático mais de 80 mil pessoas, deixando até o momento cerca de 3.200 mortos.
A Itália ainda não registrou morte relacionada ao coronavírus de ninguém com menos de 30 anos, ao contrário do que aconteceu na China. Segundo o médico Franco Locatelli, membro do Conselho Superior de Saúde, isso reforça a necessidade de se proteger aqueles com mais de 60 anos, a faixa mais vulnerável à doença.
“As crianças podem se infectar, até agora os casos que vimos elas desenvolvem sintomas como a de uma gripe ou até conjuntivite. A maioria ficou assintomática. O problema é que elas se tornam transmissoras do vírus, e quase sempre para os mais velhos”, comentou Locatelli.
QUARENTENA AMPLA E GERAL
Em quarentena geral há uma semana, e enfrentando uma emergência iniciada no final de fevereiro, a Itália ainda se prepara para um agravamento dos casos do coronavírus.
Em entrevista nesta segunda-feira (16/03), quando anunciou medidas para aliviar os impactos da crise na economia, o primeiro-ministro Giuseppe Conte sinalizou que o pico do contágio ainda não chegou.
Ele pediu para a população permanecer em casa, como determina decreto do governo em vigor desde o dia 10. Para circular pela rua é necessário comprovar o motivo (se por razão médica ou de trabalho), sob pena de multa.
A média dos novos contagiados no país, que enfrenta a situação mais crítica na Europa, supera os 2 mil infectados por dia. Atualmente, a Itália tem mais de 23 mil pessoas diagnosticadas com covid-19. O número de mortes já passou de 2.150. A região da Lombardia, no norte do país, ainda é a mais atingida, concentrando mais de 1.400 óbitos e com um sistema de saúde próximo do colapso.
“Estamos vendo os casos aumentarem em todo o mundo, esperamos que na Itália seja diferente, mas precisamos esperar alguns dias para avaliar os efeitos da quarentena”, afirmou Locatelli, do Conselho Superior de Saúde, durante a divulgação do balanço nacional nesta segunda.
Segundo ele, é possível o vírus continuar circulando por mais alguns meses no país. “O importante é cercar a difusão agora para proteger o sistema de saúde”, disse.
O governo italiano está fazendo um esforço para aumentar os leitos disponíveis para a emergência nacional. Além de receber esta semana médicos do exterior, um hospital em Roma, na capital, será destinado exclusivamente aos infectados. Estuda-se ainda o uso de hotéis como hospitais improvisados.
O país também está à espera de material hospitalar, como máscaras, que estavam bloqueados em outros países — que, temendo a necessidade interna diante da pandemia global, passaram a restringir a exportação desses produtos.