Com 1 bilhão de acessos por dia, um site liderado por uma cientista americana se tornou, em pouco tempo, a fonte de maior autoridade para monitorar o coronavírus ao redor do mundo.
Na BBC
O portal da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, exibe o número de casos confirmados, de mortes e de sobreviventes em todos os países do mundo e passou a ser usado por veículos de comunicação e até governos para acompanhar a evolução da pandemia.
Outros sites disponíveis para acesso são o da OMS e da plataforma Wordometer, como mostrou esta reportagem da BBC News Brasil.
À frente do portal da Universidade Johns Hopkins está a americana Lauren Gardner, codiretora do Centro para Ciências de Sistemas e Engenharia da instituição. Anteriormente, ela trabalhou com modelagem espacial das epidemias de sarampo e zika.
‘Milhões de olhos ao mesmo tempo’
Em entrevista ao site americano ScienceInsider, Gardner que a ideia para criar o site aconteceu em janeiro, quando o surto começou a se espalhar pela China – a primeira morte por coronavírus aconteceu em Wuhan em 11 de janeiro.
“Meu aluno de pós-graduação Ensheng Dong, que é chinês, estava pessoalmente interessado. Em algumas horas, construímos o painel original. E no dia seguinte [22 de janeiro] eu compartilhei no Twitter, e o site viralizou”, disse ela à ScienceInsider.
Segundo Gardner, o site agrega automaticamente informações de diferentes fontes e é atualizado de hora em hora. Também existe um cuidado para evitar uma contagem dupla de casos.
“Há milhões de olhos nele o tempo todo. Recebemos milhares de e-mails”, explica.
“Agora também temos um sistema de detecção de anomalias que nos alerta para discrepâncias nos relatos de casos que coletamos automaticamente”, acrescenta.
Gardner diz que o site começou com “cerca de seis pessoas” e que contou inicialmente com o apoio interno da universidade.
“Estávamos explodindo os servidores da Amazon com toda a demanda. Agora, o Laboratório de Física Aplicada [na Hopkins] ajuda na curadoria e na tecnologia de dados de back-end. A Esri, empresa que possui o software de mapeamento, ajuda a gerenciar a plataforma. Os funcionários da Hopkins gerenciam a mídia e as comunicações. Mas o grupo ainda é muito menor do que deveria ser para o que estamos fazendo”, assinala.
Embora o trabalho manual seja menor, uma vez que o site é automatizado, ele é “cansativo”, ressalva a pesquisadora.
“Por mais de dois meses, estávamos tentando tomar decisões sobre onde coletar dados, quais dados eram confiáveis, como agregá-los, validá-los. Inicialmente, fizemos tudo manualmente. Agora, quase tudo é automatizado com várias verificações cruzadas”, explica.
“O painel é atualizado automaticamente a cada hora. Também estamos em um turno rotativo de 24 horas para questões como servidor e curadoria de dados. Por exemplo, temos um estudante de doutorado que mora na Inglaterra e que inicia o nosso turno pela manhã (por causa do fuso)”, acrescenta.
“É um grande esforço de serviço público baseado em voluntários. Estamos apenas tentando o nosso melhor para que seja o melhor possível, mas sabemos que não é perfeito”.
Apesar desse esforço, o site esteve envolvido em polêmicas – identificou Taiwan como Taiwan (a China considera o país uma província rebelde) e inicialmente localizou os casos confirmados de coronavirus dentro do cruzeiro de luxo Diamond Princess, que estava em quarentena no Japão, no meio dos Estados Unidos.
“As implicações geopolíticas têm sido estressantes e perturbadoras. Só quero relatar os dados que serão os mais úteis e adequados para as pessoas que estão tentando obter acesso a eles. O vírus não se importa com as fronteiras”, diz.
Segundo Gardner, com a automatização completa do site, ela e sua equipe estão concentrados em fazer outros tipos de pesquisa.
“Quase 90% dos meus interesses e esforços estão concentrados na modelagem matemática em torno dessa doença. Estamos fazendo uma avaliação de risco em tempo real do que está acontecendo nos Estados Unidos, com o objetivo de fornecer esses resultados aos formuladores de políticas públicas”, diz.
Gardner diz acreditar que o trabalho vai continuar “por pelo menos mais alguns meses”
“Estamos fazendo isso desde janeiro. Largamos todo o resto do laboratório. E provavelmente será assim por pelo menos mais alguns meses. E acho que acompanharemos o surto por um ano. Portanto, estamos nos esforçando 110%, com certeza”, conclui.