Bolsonaro chega a 1.000 declarações falsas ou distorcidas com 492 dias de mandato

Bolsonaro chega a 1.000 declarações falsas ou distorcidas com 492 dias de mandato

Aos Fatos – Jair Bolsonaro ultrapassou a marca de mil declarações falsas ou distorcidas ditas desde o início de seu mandato, mostra o contador do Aos Fatos que checa sistematicamente as falas do presidente passíveis de verificação. O número foi alcançado nesta quinta-feira (7), quando ele afirmou que a pandemia de Covid-19 já teria ceifado 10 milhões de empregos formais, o que não é atestado pelos dados disponíveis.

A milésima declaração enganosa, aliás, reúne os dois temas que mais acumulam inverdades ditas por Bolsonaro: novo coronavírus (22,7% do total checado até agora) e economia (14%). Desde janeiro de 2019, Aos Fatos já checou 1.684 falas do presidente, a maioria delas falsas ou distorcidas (mil ou 60%).

Até o momento, Bolsonaro disseminou duas informações enganosas por dia, em média. Declarações checadas como verdadeiras são compiladas, mas não aparecem na base de dados, que busca acompanhar e analisar o volume de desinformação do discurso presidencial.

Nos momentos de crise no governo, as afirmações enganosas do presidente foram ainda mais frequentes. Em 2019, por exemplo, durante o aumento das queimadas na Amazônia, entre julho e agosto, e na época do derramamento de óleo no litoral nordestino, entre setembro e novembro, Bolsonaro falou informações falsas ou distorcidas em 84,6% das declarações no período, percentual acima da média geral (60%).

Também por conta destes dois momentos, o tema meio ambiente ganhou destaque entre as inverdades do discurso de Bolsonaro, acumulando 61 declarações falsas ou distorcidas nas duas crises. A campeã, repetida nove vezes, foi a afirmação de que o desmatamento na Amazônia em 2019 estava abaixo da média dos anos anteriores. Não estava.

As duas grandes crises de 2019 foram superadas este ano pelos desdobramentos da pandemia de Covid-19 em termos de volume de desinformação propagada por Bolsonaro. O novo coronavírus representa 35% de todas as declarações do presidente checadas pelo Aos Fatos, incluindo as verdadeiras. Ele proferiu 228 falas que foram verificadas como falsas, imprecisas, exageradas, insustentáveis ou contraditórias. Nesse tema, a cada dez manifestações sete estão incorretas.

O presidente, por exemplo, se contradissediversas vezes sobre a preocupação com a vida da população durante a pandemia. Enquanto, no dia 7 de maio, disse que nunca deixou de preocupar com a questão, em ocasiões anteriores ele minimizou os riscos da infecção e sugeriu que as mortes decorrentes da Covid-19 seriam inevitáveis.

Bolsonaro tem falseado, inclusive, ao falar de ações governamentais no combate à pandemia. No dia 30 de abril, o presidente anunciou em sua live semanal no Facebook que a segunda parcela do auxílio emergencial destinado à população de baixa renda durante a pandemia já estava sendo paga. Entretanto, até a publicação desta reportagem, em 8 de maio, o governo ainda não tinha liberado essa fatia do benefício.

Entrevistas somam o maior número de declarações falsas ou distorcidas de Bolsonaro até agora. Nas conversas com jornalistas ou apresentadores, foram 389 inverdades. Discursos aparecem na sequência, com 251 citações enganosas, e, em terceiro lugar, estão as lives no Facebook, que acumulam 224 declarações com diferentes graus de distorção.

Nas postagens de Twitter e Facebook, o presidente faz, em média, mais afirmações classificadas como verdadeiras. Isso se deve principalmente ao fato de essas plataformas serem usadas para publicar balanços de ações do governo que, em geral, são reproduzidos do material institucional de divulgação de ministérios e secretarias.

Isso não significa que o presidente não use dados falsos ou distorcidos em publicações nas duas redes sociais. Em abril, por exemplo, ele alardeou no Facebook que a OMS (Organização Mundial da Saúde) orientaria a masturbação infantil como política educacional. A alegação distorce um guia da seção europeia da entidade com orientações para educadores sobre abordagens de educação sexual em diferentes faixas etárias. O post do presidente foi apagado posteriormente.

Com a pandemia, o novo coronavírus se tornou o tema mais mencionado pelo presidente em suas falas (aparece em 35,1% das declarações, verdadeiras incluídas), seguido por economia (34%) e meio ambiente (7,6%). Esses também são os temas sobre os quais o presidente mais falseia ou distorce: 22,7% são sobre o novo coronavírus, 14% de economia e 8,8% de meio ambiente.

A afirmação falsa mais repetida pelo presidente desde a posse (ao menos 24 vezes) é a de que a escolha dos seus ministros seguiu critérios puramente técnicos. O argumento não é verdadeiro pois, além de evidências atestarem que a seleção foi política, muitos dos escolhidos não têm formação ou experiência na área que foram designados. É o caso de Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo. Ainda que, como deputado, tenha integrado a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Turismo, ele nunca propôs nem relatou matérias sobre o tema.

Outras declarações incorretas recorrentes no discurso de Bolsonaro é que o STF (Supremo Tribunal Federal) teria decidido que as ações de isolamento social seriam apenas de responsabilidade dos governos estaduais e prefeituras (repetida 17 vezes), que 70% da população do Brasil se infectar pelo novo coronavírus (16 vezes) e que não houve nenhuma denúncia de corrupção durante seu governo (13 vezes).

A contabilidade e a checagem das declarações do presidente é feita diariamente pela equipe do Aos Fatos — que mapeia canais oficiais, redes sociais e meios de comunicação. Como o objetivo da ferramenta é acompanhar o volume de desinformação no discurso presidencial, as declarações classificadas como verdadeiras não são contabilizadas nem ficam visíveis. Desde que o contador estreou, a assessoria de Bolsonaro nunca respondeu aos pedidos de esclarecimento enviados por Aos Fatos.

Pioneira no Brasil, a base de dados foi criada a partir de uma ideia concebida originalmente pelo Fact Checker, seção de checagem do jornal americano Washington Post.

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