A mãe, duas filhas e o padrasto testaram positivo para o novo coronavírus há mais de uma semana na Policlínica Osvaldo Cruz em Porto Velho.
A identidade de todos será preservada para que as dificuldades que enfrentam não sejam maiores. O drama da família não foi noticiado, chegou ao blog como denúncia para que todos saibam como infectados pela Covid-19 são tratados pela prefeitura da capital e pelo governo do estado.
A primeira a sentir os sintomas e procurar uma unidade de saúde no dia 28 de março foi a mãe e o resultado saiu três dias depois. Ela tem 47 anos, é hipertensa, tem sete filhos e mora com os dois mais novos de 2 e 12 anos de idade, com a filha e o neto de 1 ano.
A mãe conta que conseguiu fazer o teste porque o marido trabalha em hospital.
Dois dias depois ele e uma das filhas também começaram a sentir os sintomas, foram testados e confirmaram que estão com a doença.
Quem conta essa história é a outra filha que vamos chamar de Luísa e pegou o resultado positivo no dia 7 de abril. Ela divide a casa com uma amiga que fez o teste e deu negativo (ou pode ser falso negativo) e mora no mesmo terreno com um irmão que não sabe se foi infectado.
Já se passaram 10 dias do primeiro caso na família e nenhum contato foi feito pelas equipes que monitoram os testes confirmados em Porto Velho.
A família conta que a única orientação dada quando saíram os resultados foi a de que deveriam ficar em casa tomando dipirona.
Uma das filhas passou mal nesse período e procurou a Unidade de Pronto Atendimento da Zona Leste, mas foi tratada com grosseria e mandada de volta para casa.
“Eu só queria ser atendida porque eu estava ruim. Eu tenho um bebê de um ano, se ele passar mal por isso ou por outra coisa, como vou fazer? Não posso ir na UPA, nem vão à minha casa ver como estou?”, pergunta.
Ouça áudio:
O cotidiano da família é de angústia pelo abandono dos que estão à frente do controle da pandemia e de medo pelas pessoas próximas que ainda não foram testadas.
Estão em casa, tomando dipirona e não conseguem falar com ninguém no Call Center do governo do estado que dizem funcionar 24 horas.
“Poxa…já se passaram 10 dias desde que a minha mãe recebeu o resultado positivo e ninguém veio perguntar como estamos. Já tentei várias vezes esse atendimento por telefone e a ligação cai ou fico ouvindo dicas de uma gravação. Quando as pessoas que estão convivendo com a gente serão testadas? Ninguém diz”, cobrou Luísa.
Com tantas pessoas infectadas, uma não pode ajudar a outra.
Só o padrasto tem emprego com carteira assinada. As mulheres trabalham na informalidade e dependem do auxílio-emergencial do governo de 600 reais.
O atendimento remoto pelo Call Center não orienta sobre como sobreviver à Covid-19 neste sofrimento familiar e com o mínimo de dignidade.
Este blog ligou e confirmou em várias tentativas a precariedade do sistema.
O número da opção de urgência remete a um questionário e termina com várias orientações a quem se declara com todos os sintomas.
Luísa pede:
O presidente do Partido Cidadania em Rondônia, o professor e advogado Vinícius Miguel, testou positivo no último dia 07 e também não recebeu ligação e muito menos visita de alguma equipe da saúde.
Leia aqui:
Sobre o Call Center, ele denunciou a ineficiência do serviço antes de ser infectado ao Tribunal de Contas do Estado.
Agora é mais um que não consegue atendimento num serviço que deve custar muito caro. Que deve custar vidas.