Esta semana, o presidente afirmou que os governadores que não acataram seu decreto sobre as atividades essenciais afloram ‘autoritarismo’
Na Carta Capital
O presidente Jair Bolsonaro pediu a um grupo de empresários que “joguem pesado” com os governadores do País e pressionem pela reabertura dos comércios. Nesta quinta-feira 14, o presidente participou de uma videoconferência promovida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com alguns nomes do setor.
“Um homem está decidindo o futuro de São Paulo, decidindo o futuro da economia do Brasil”, afirmou o presidente, em menção direta ao governador de São Paulo, João Doria. “Os senhores, com todo o respeito, têm que chamar o governador e jogar pesado. Jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra.”
“Nós temos que mostrar a cara, botar a cara para apanhar. Porque nós devemos mostrar a consequência lá na frente. Lá na frente, eu tenho falado com o ministro Fernando [Azevedo], da Defesa… os problemas vão começar a acontecer. De caos, saque a supermercados, desobediência civil. Não adianta querer convocar as Forças Armadas porque não existe gente para tanta GLO [Garantia da Lei e da Ordem]”, acrescentou.
Durante o encontro, o presidente afirmou que as escolhas pelas medidas de distanciamento social e até lockdown de algumas regiões são de cunho político e que têm como objetivo prejudicar o governo. “O que parece que está acontecendo parece uma questão política, tentando quebrar a economia para atingir o governo”, disse.
Desde o início da pandemia do coronavírus, o presidente Bolsonaro vem se mostrando contra as medidas de isolamento social como forma de achatar a curva de proliferação do vírus, desobedecendo as medidas sanitárias, quando não ironizando a letalidade da doença e as vítimas fatais do País, que já ultrapassam a casa dos 13 mil mortos. Bolsonaro segue endurecendo o tom contra governadores e prefeitos.
No último dia 12, anunciou o decreto 10.344, que ampliou o rol de atividades essenciais no País, entre elas atividades industriais e de construção civil, salões de beleza, barbearias e academias. O presidente disse que os governadores que não concordassem com a medida deveriam ajuizar ações na Justiça, além de dizer que estes seriam responsáveis por “aflorar o indesejável autoritarismo no País”.
O governador João Doria, criticado pelo presidente durante reunião com empresários, afirmou em coletiva na quinta-feira 13 que o estado não iria aderir ao decreto, por não haver condições sanitárias, no momento. “Aqui em São Paulo, o governo respeita e ouve seus secretários de saúde, bem como o comitê de saúde, e eles indicam que ainda não temos condições sanitárias e seguras para autorizar abertura neste momento”, declarou.
“Respeitamos os profissionais que atuam nestes estabelecimentos, mas o nosso maior respeito por eles é garantir sua vida, sua existência e sua saúde”, acrescentou.
Doria também criticou a conduta do presidente Jair Bolsonaro. “São Paulo não quer o conflito, mas o diálogo. Quer atitudes para resolver problemas. Não serão com bravatas e ofensas que vamos encontrar caminhos para ajudar milhões de brasileiros a salvarem suas vidas, proteger a vida de seus familiares e amigos”.