40tena

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Sigo a dormir tarde e acordar cedo, mas agora ando falando com os passarinhos.

Estreitei muito a conversa de miolo de pote com as pipiras, sabiás e um que não sei a espécie, elegantíssimo, a quem dei o apelido de cigano.

Não sei assoviar, por isso os chamo espremendo os beiços como quem manda beijo.

O bem-te-vi, bem vejo o quanto é alegre!

O sabiá, ah, sabiá… esse sabe assoviar.

O sanhaço-cinzento de corpo atlético não gosta muito de se misturar.

O mamão servido todas as manhãs, ele gosta de beliscar sozinho.

Não tenho muita planta metida a besta no meu jardim.

Tenho a sombra de uma árvore imensa do quintal do vizinho, mas os passarinhos vêm comer na minha janela da cozinha numa primavera tropical que vestia o pergolado que caiu.

O Ernande Segismundo colocou uma tábua e uma vasilha que serve de piscina à orquestra sinfônica que não cobra nada pelo espetáculo matinal.

Falo cada coisa com os passarinhos…
Falo de tudo!

Eles sabem que não sei fazer pudim, que odeio manteiga gelada e o quanto praguejo arrivistas.

Enquanto passo o café, a conversa rola.

É um cante lá, que eu canto cá, todo santo dia, como Patativa dizia.

Eles com o gozo deles e eu com meu padecê.

Eles lá sabem o que é cloroquina pra ter que engolir sem a ciência atestar?

Pode duvidar, mas estou treinando e ainda vou escutar os passarinhos a cantar : Bolsonaro vai passar… Bolsonaro vai passar… 🎶

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