Uso da cloroquina contra Covid-19 é ‘perigoso’, ‘carece de evidência’ e tomou aspecto político inesperado, diz Sociedade de Infectologia

Uso da cloroquina contra Covid-19 é ‘perigoso’, ‘carece de evidência’ e tomou aspecto político inesperado, diz Sociedade de Infectologia

Nota foi divulgada nesta segunda-feira (18); entidade afirma que ‘é precoce a recomendação’ do medicamento, já que não há benefícios no seu uso para a Covid-19. Substância é utilizada para tratar malária e lúpus. 

Por G1

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou nota, nesta segunda-feira (18), na qual declarou que o uso da cloroquina contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, “não apenas carece de evidência científica” como é “perigoso, pois tomou um aspecto político inesperado”. 

Segundo a nota, o uso do medicamento para tratar a Covid-19 “vem na contramão de toda a experiência mundial e científica com esta pandemia.” A cloroquina é normalmente utilizada para tratar malária e doenças autoimunes, como lúpus. 

“A escolha desta terapia, ou mesmo a conotação que a COVID-19 é uma doença de fácil tratamento, vem na contramão de toda a experiência mundial e científica com esta pandemia. Este posicionamento não apenas carece de evidência científica, além de ser perigoso, pois tomou um aspecto político inesperado”, diz a nota da SBI. (Veja íntegra do comunicado ao final desta reportagem). 

Contraindicada mesmo em casos leves

31 de março: Mulher segura frasco com pílulas de hidroxicloroquina que usa para tratar lúpus em Seattle, Washington, noroeste dos Estados Unidos. — Foto: Lindsey Wasson/Reuters

31 de março: Mulher segura frasco com pílulas de hidroxicloroquina que usa para tratar lúpus em Seattle, Washington, noroeste dos Estados Unidos. — Foto: Lindsey Wasson/Reuters 

Na nota, a SBI frisa que o medicamento é contraindicado mesmo em casos leves de Covid-19 (que estudos feitos em outros países apontam ser 80% dos casos da doença). 

“Uma das principais críticas em relação aos estudos referidos anteriormente é que muitos dos pacientes avaliados estavam em estado grave quando receberam esses fármacos”, considera a nota.

A entidade cita um estudo feito com 150 pacientes, divididos em dois grupos: um recebeu hidroxicloroquina e o outro, não. A pesquisa, diz a SBI, apontou que “não houve diferença quanto à evolução dos pacientes que usaram ou não esse fármaco, mas vários efeitos adversos relacionados ao uso de hidroxicloroquina foram relatados nos pacientes em uso desse medicamento”. 

A sociedade, então, “conclui que ainda é precoce a recomendação de uso deste medicamento na COVID-19, visto que diferentes estudos mostram não haver benefícios para os pacientes que utilizaram hidroxicloroquina. Além disto, trata-se de um medicamento com efeitos adversos graves que devem ser levados em consideração”, alerta.

A entidade destaca, ainda, que os investimentos nas pesquisas de outras alternativas de tratamento também devem ser priorizados, “para que tenhamos um maior número de terapias com potencial efetivo no tratamento da COVID-19”. Por enquanto, diz a SBI, o isolamento social “é a única medida efetiva para desacelerar as curvas de crescimento dessa infecção.” 

Impasse

O uso da cloroquina para a Covid-19 vem sendo motivo de discórdia entre especialistas e o presidente Jair Bolsonaro. Apesar de não haver evidências científicas que comprovem a eficácia do medicamento contra a doença, que já matou mais de 16 mil pessoas no Brasil, Bolsonaro defende o uso da substância. 

Na semana passada, depois que o então ministro da Saúde, Nelson Teich, alertou sobre os riscos do medicamento, Bolsonaro manteve sua posição sobre o uso dele na pandemia (veja vídeo). 

Após Teich alertar sobre risco da cloroquina, Bolsonaro defende o uso do remédio

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