Marcos Coimbra, do VoxPopuli, sobre o vídeo:
Para o sociólogo e diretor do Instituto VoxPopuli, Marcos Coimbra, o vídeo da reunião ministerial vai acelerar a queda de popularidade de Bolsonaro, que pode chegar a modestos 20%, e enterra os sonhos de Moro como reserva ética e moral do país. Mas, para Coimbra, o vídeo mostra que quem perdeu mesmo foi o Brasil. Veja o vídeo, leia a transcrição.
“Fernando me pediu uma opinião a respeito de quem ganhou e quem perdeu naquela famosa reunião do Bolsonaro com a tropa dele. A minha avaliação é que simplesmente todo mundo perdeu. Perderam eles, perdeu Moro, perdeu Bolsonaro, perderam os milicos que estavam lá, perderam os idiotas da turma do Bolsonaro e perdeu quem estava fora daquela sala, quem viu a gravação. Foi uma calamidade em todos os sentidos.
Por que que o Bolsonaro perdeu? Perdeu porque não entende o que está acontecendo com ele, com a imagem dele, com as perspectivas de apoio popular para o governo dele – portanto, com as possibilidades eleitorais dele em 2022.
Bolsonaro está em queda acentuada desde, pelo menos, março, quando a condução estapafúrdia da epidemia, seja no plano sanitário seja no plano econômico, fez com que ele perdesse aceleradamente apoio nas classes médias entre pessoas com um nível maior de informação. No final de março o Ipespe/XP fez uma pesquisa telefônica, como todas atualmente, que deu que ele tinha 36% de pessoas avaliando como ruim ou péssimo o governo. Dois meses depois, em 20 de maio, essa proporção tinha passado para 50%. E naquela mesma pesquisa de março, 30% achavam ótimo ou bom o governo dele. Essa proporção caiu para 25.
Em outras palavras, ele aumentou a reprovação em 14 pontos, diminuiu a aprovação em 5 e caiu a proporção de pessoas que avaliavam o governo como regular. Ou seja, ele tá com metade da proporção que avalia negativamente, apenas metade avalia positivamente.
Essa queda é causada, como eu estava dizendo, pela condução da epidemia. E isso fica mais claro ainda quando eles perguntaram a respeito da maneira como Bolsonaro estava lidando com o coronavírus: 58% disseram que de maneira “ruim ou péssima” e 19% apenas que de uma maneira “ótima ou boa”. Então, lá em cima dava 50 a 25. Aqui já está dando 60 a 20. E essa proporção, tudo indica que é aonde vai chegar a avaliação do conjunto da obra do cara. Vai ficar nessa casa de 20%, tendendo pra menos de 20.
E isso nós sabemos aonde vai dar: provoca grande reação no sistema político, o Centrão começa a achar que talvez não seja boa ideia, o mercado começa a duvidar da capacidade dessa turma de permanecer no poder… Ou seja, tudo se acelera no sentido negativo depois que você cai desse patamar de 20%, que logo vira 15 e sabe-se lá onde que para.
Ele tem um piso, que é formado por esses idiotas que vão pra rua pedir pra ficar doentes, fazer palavra de ordem contra tudo e contra todos.
Bolsonaro há muito tempo não está mais na fase de manter o apoio que tem. Ele não tem mais aqueles 30% que achava que tinha. Ele está mais perto da metade desses 30% do que de preservar os 30. E isto obviamente justificaria uma estratégia completamente oposta dessa que ele tá adotando. Ele não precisa manter o que tem, ele precisa é conquistar o que não tem. E em algum sentido, reconquistar o que perdeu. E isso, a tal da reunião definitivamente, não faz.
No máximo a reunião açula esse núcleo de idiotas que gosta de ouvir idiotices. Mas essa classe média mais educada, mais informada, que saiu da base do governo, que passou a achar que ele é ruim ou péssimo, essa turma definitivamente não volta: porque ele fala palavrão, porque ele é grosseiro, porque ele não mostra nenhuma capacidade de resolver os problemas do país. E ainda tá envolvido nesse mundo dele, da turma dele lá no Rio de Janeiro.
Moro perdeu ou ganhou? Claramente perdeu. Um cara que queria ser a expressão da moralidade, da ética, das boas práticas morais, o que que ele estava fazendo naquela reunião? Por que que ele não se levantou e saiu? E por que que ao sair ele não pediu a demissão? Pelo contrário, o que ele fez foi tentar ficar. Então como é que alguém que luta pra ficar naquele mundo pode achar que sai bem? Ele sai sujo, porque ele se sujou – se é que ele não foi sempre isso que ele mostrou ser durante esse período em que foi unha e carne com Bolsonaro.
Então, perdeu Bolsonaro – porque não sabe o que fazer, porque não tá entendendo o que tá acontecendo com ele, porque acha que tem que ficar mantendo uma coisa que ele não tem mais. Ele teria é que fazer uma outra coisa, mas não sei se ele consegue, não sei se ele tem capacidade intelectual ou bom senso pra pensar uma estratégia mais adequada a ele mesmo.
Perdeu o Moro porque mostrou ser o que no fundo sempre foi: um oportunista, um picareta que usou da sua força no sistema judiciário, apoiado por uma parte grande da grande imprensa brasileira e se tornou esse personagem melancólico, que sai com o rabo entre as pernas depois de ficar participando de uma reunião como aquela.
Perdeu todo mundo. Esses milicos que estão achando que estão prontos pra governar o Brasil, eles são uns incompetentes de marca maior. Tem um tal de Braga Neto que posa de figura competente, a pessoa vê o que o cara fala, e você vê que é um completo analfabeto em questões do que seria necessário pra este momento.
Tem esse general velho que fica falando mal da democracia, só ameaça todo mundo. Enfim, essa geração de milicos, sinceramente, é das piores, das que mais atrapalham a tentativa de recuperar a imagem especialmente do Exército depois de vinte anos de ditadura.
E aquela fauna de idiotas do Bolsonaro perdeu porque não tem o que ganhar, é tudo um bando de completos desqualificados.
E é claro que perdemos todos, porque você ter um país que é governado por gente como aquela é profundamente chocante. E chocante ver que nós estamos no meio de uma crise sanitária, humana, gravíssima. Da qual nós não vamos sair tão cedo. Com essa maneira completamente despropositada de condução da epidemia que está sendo feita no Brasil.
Nós já somos o segundo país com o maior número de casos, vamos ser em breve o primeiro em número de mortos e nós não vamos sair tão cedo dessa situação, de uma epidemia que não acaba. Porque não funciona assim.
E as consequências disso na economia nós estamos vendo. Esse bestalhão desse Paulo Guedes achando que uma receita velha, superada, anacrônica, que, sei lá, deu certo no Chile no auge de uma ditadura, de um golpe militar cruel como foi aquele lá do Pinochet, que foi o único lugar do mundo que aquele tipo de proposta funcionou. Lá parou, não funcionou em lugar nenhum do mundo, e neste mundo pós pandemia, menos ainda. Então, esquece. Nós não vamos sair tão cedo da crise sanitária e não vamos sair tão cedo da crise econômica.
E é por essas e por outras que perdemos todos ao ver que é assim que nós somos governados.”