No Tijolaço, por Fernando Brito – Há um inequívoco regresso a tempos de selvageria, no Brasil e no mundo, e ele está associado a um processo, que vem de anos, de destruição da política como forma de representação e afirmação dos grupos sociais.
É o píncaro da obra do neoliberalismo que data do final do século passado e a aceitação da ideia de que a política é um mal, é a corrupção, que os partidos se assemelham – e tudo se faz para que pareçam, mesmo – a quadrilhas.
A ideia de liberdade se reduziu, em todos os campos, a um direito individual que se sobrepõe ao coletivo, inclusive na própria questão sanitária, onde estes grupos começaram recusando as vacinas e, agora, clamam pela liberação ampla, geral e irrestrita de todas as atividades em meio a uma pandemia mortal.
Da mesma forma, a ideia de progresso foi sendo restringida ao sucesso individual, dissolveu-se a ideia de classe, categoria profissional, sindicato, associação e tudo o que pudesse ser o progresso como ganho social.
Em 2013 começamos a colocar em prática de forma expressa esta despolitização da vontade coletiva, quando até na própria esquerda passou-se a louvar a ausência dos partidos e de suas bandeiras nas manifestações, numa demonização da política que, nos anos seguintes, iria demonstrar todo o seu desastroso potencial de nos levar aos agora conhecidos “apolíticos de direita”. Ou de extrema direita.
O resultado é que as manifestações, seja pela infiltração de provocadores (inclusive nas próprias forças policiais fascistizadas) seja pela incontrolável e irresponsável agressividade de algumas de suas periferias acabam deixando margem para que o discurso da lei e da ordem termine por ser invocados contra elas.
Não se deve temer o discurso fácil e descomprometido de que somos todos “antifascistas”, porque somos desde sempre e nada nos confundirá com provocadores e irresponsáveis. Nem mesmo os que tenham “boas intenções” que, como se sabe, lotam o inferno.
Movimentos sociais são do povo, mas se as lideranças do povo são excluídas deles, tornam-se erráticos e contraproducentes, pois legitimam, pela ação de provocadores e de irresponsáveis, o castigo do próprio povo.
O que ocorreu em Curitiba, ao final do ato antiditadura, mostra o perigo de deixar, como deixou-se outras vezes, que a provocação e o conflito, como deseja a direita, sejam a marca dos protestos.
Já nos basta a pandemia para nos tirar da rua, não precisamos de provocadores.
PS. Como se já não bastasse tudo o mais, os tais “anonymus” ressuscitaram.