OMS alerta que a pandemia do coronavírus “se acelera” e agora seu epicentro está na América

OMS alerta que a pandemia do coronavírus “se acelera” e agora seu epicentro está na América

Mundo registra mais de 150.000 novos casos confirmados em um dia, a maior cifra alcançada até agora em 24 horas.

El País, CARLOS SALINAS|ORIOL GÜELL

Cidade Do México / Barcelona 

A pandemia do novo coronavírus está longe de refluir. Impulsionada pela disseminação do patógeno na América e pelos constantes surtos em países que já sofreram a primeira onda da doença, como China e Alemanha, a maior crise de saúde do último século permanece no centro das preocupações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“A pandemia está se acelerando”, alertou nesta sexta-feira o diretor geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Nesta quinta-feira foram registrados 150.000 contágios no mundo, o número mais alto em um dia até agora. Quase metade foi na América. Até agora, cerca de 8,5 milhões de pessoas foram infectadas em todo o mundo e mais de 454.000 morreram, segundo o último balanço da Universidade Johns Hopkins. “O mundo está entrando em uma nova fase perigosa”, alertou Ghebreyesus. “O vírus ainda está se espalhando de forma rápida, ainda causa mortes e a maioria da população não está imunizada”, acrescentou o diretor da entidade.

A OMS alertou nesta sexta-feira para um aumento de casos e mortes por covid-19 na América, a região que se tornou o epicentro da pandemia. A organização teme que, em vez de as curvas epidemiológicas do continente se achatarem, tenha ocorrido um aumento nas últimas horas, com atenção especial ao Brasil, o país latino-americano mais afetado pela covid-19 e onde seu presidente, o ultraconservador Jair Bolsonaro, mantém um discurso de negação das conseqüências da pandemia.

Dados da Universidade Johns Hopkins mostram que há mais de quatro milhões de infectados no continente e um total de 213.044 mortes. As estatísticas da OMS revelam que no Brasil houve o registro de 34.918 infecções por covid-19 e 1.282 mortes entre quarta e quinta-feira, elevando o total para 955.377 casos confirmados e 46.510 mortes, as cifras mais elevadas na América Latina. “Continuaremos com esses números por algum tempo”, disse Alexandre Naime, chefe de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em declarações citadas pela Efe.

O outro país mais afetado pela pandemia é os Estados Unidos, imersos em uma efervescência de manifestações de protestos por abusos policiais contra a população afro-americana. A OMS registra nos últimos dois dias 27.921 novos casos positivos e 722 mortes. Os Estados Unidos somam 2.149.166 de contágios confirmados e 117.472 mortes. Estados como a Califórnia mantêm altos níveis de contágio e nesta quarta-feira registraram um novo recorde diário, com 4.000 novos casos. Em meio a um confronto político entre os Estados e o Governo federal pela abertura econômica, o governador do Estado, Gavin Newsom, ordenou nesta quinta-feira que a população use máscaras tanto ao sair de casa como em locais públicos fechados, relata The New York Times. Uma decisão contrária ao que faz o presidente Donald Trump, que se recusa a usar uma máscara, apesar das recomendações dos especialistas.

Na quarta-feira, o Chile registrou o maior aumento de casos desde que as autoridades alertaram para as primeiras infecções. Por causa da demora no processo de atualização de dados, as autoridades adicionaram 31.412 novos contágios às suas estatísticas, elevando o total para 225.103 casos e 3.615 mortes. O país impôs duras medidas sanitárias em um esforço para conter a propagação do vírus. Nesta sexta-feira, o procurador nacional, Jorge Abbott, anunciou o endurecimento das penalidades para quem não cumprir as orientações. Na terça-feira, o Senado chileno aumentou a pena de prisão para quem infringe as normas de saúde de 61 dias para três anos, além de multas que podem chegar a 12 milhões de pesos chilenos, aproximadamente 500.000 dólares. “Vamos ser implacáveis”, disse Abbott.

A OMS também está preocupada com a situação no México, onde o presidente Andrés Manuel López Obrador declarou em diferentes ocasiões que seu país “domou” a curva de contágio. As estatísticas da agência mostram que entre terça e quarta-feira houve uma “escalada preocupante”, relata a Efe. Na quinta-feira, 5.662 novas infecções foram registradas no México, elevando o total para 165.455 casos confirmados e 19.747 mortes. Muitas áreas do país ainda estão com o sinal vermelho, que é a referência estabelecida pelas autoridades de saúde para alertar que a possibilidade de contágio permanece alta. Em razão de um discurso ambíguo, em que se repetiu que não seriam tomadas medidas severas contra quem descumprisse as medidas de restrição, a população tem retomado as atividades públicas.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) ―o braço da OMS no continente― também expressou preocupação com o caso da Nicarágua, pois seu presidente, Daniel Ortega, inicialmente fez pouco caso do impacto da pandemia e ordenou que seus seguidores saíssem pelas ruas de Manágua sob o lema “Amor nos tempos da Covid”. Médicos locais criticaram a estratégia das autoridades e alertaram para um aumento considerável de mortes e contágios. Essas denúncias fizeram com que o Ministério da Saúde local demitisse mais de 15 médicos de hospitais públicos, por isso, nesta quinta-feira, mais de 90 escritores, encabeçados pelo Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa encaminharam uma carta a Ortega e sua mulher, a vice-presidenta Rosario Murillo, em que exigem a reintegração do pessoal médico.

“Seu país tem o maior recorde de mortes de enfermeiros na América Central. Mesmo com esse alto risco, o pessoal da saúde continua a prestar serviços, apesar das condições inadequadas. Que em vez de agradecimentos recebam cartas de demissão injustificadas, nos obriga a alçar a voz em solidariedade a eles e ao povo da Nicarágua”, diz a carta, que, entre outras personalidades, é assinada por Salman Rushdie, Ángeles Mastretta, Almudena Grandes, John Carlin, Héctor Abad Faciolince, Guadalupe Nettel e a atriz Julie Christie.

No restante do mundo, a Alemanha é o país que registrou o maior surto da doença nos últimos dias, com cerca de 700 trabalhadores de um matadouro e uma fábrica de embalagens da empresa Tönnies, na Renânia do Norte-Vestfália. O Governo também colocou em quarentena outras 700 pessoas em um prédio em Göttingen (centro do país), onde houve dezenas de contágios.

Já a China considera que controlou o surto que deixou Pequim em alerta, com um total de 183 pessoas infectadas, depois do registro de 25 novos casos. O país agora está focado em localizar a origem do foco, que os primeiros indícios apontam para uma cepa de origem europeia.

Sinais preocupantes também vêm de países que até agora vinham conseguindo enfrentar a epidemia de maneira mais benigna, como Portugal. O Governo admite “dificuldades em quebrar as cadeias de transmissão do vírus” depois de registrar 375 casos em um único dia, relata Javier Martín del Barrio.

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