Médica que defende hidroxicloroquina é afastada do Hospital Albert Einstein

Médica que defende hidroxicloroquina é afastada do Hospital Albert Einstein

Nise Yamaguchi fez declaração controversa sobre o nazismo; médica afirmou que houve interpretação errônea

Carta Capital

Defensora do uso da hidroxicloroquina contra a covid-19, a médica Nise Yamaguchi foi afastada de suas funções no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. O hospital alegou que ela foi infeliz em uma analogia entre a pandemia do novo coronavírus e o nazismo.

A oncologista e imunologista comparou o pânico com a proliferação da doença ao medo que a “massa de rebanho de judeus famintos” teria em relação a militares nazistas. A declaração ocorreu em entrevista ao programa Impressões, da emissora estatal TV Brasil, em edição exibida em 5 de julho.

“O medo é prejudicial para tudo. Em primeiro lugar, te paralisa, te deixa massa de manobra. Qualquer pessoa… Você pega… Você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela massa de rebanho de judeus famintos, se não os submetessem diariamente a humilhações, humilhações e humilhações, tirando deles todas as iniciativas? Quando você tem medo, você fica submisso a citações terríveis”, afirmou.

Em nota, o Hospital Albert Einstein disse que “respeita a autonomia” do exercício profissional de todos os médicos, mas chamou a declaração de Nise de “insólita”, “infeliz” e “infundada”.

“Trata-se, contudo, de hospital israelita e a Dra. Nise Yamagushi, em entrevista recente, estabeleceu analogia infeliz e infundada entre o pânico provocado pela pandemia e a postura de vítimas do holocausto”, escreveu a empresa. “Como se trata de manifestação insólita, o hospital houve por bem averiguar se houve mero despropósito destituído de intuito ofensivo ou manifestação de desapreço motivada por algum conflito. Durante essa averiguação, que deve ser breve, o hospital não esperava que o fato viesse a público.”

A suspensão foi confirmada pela médica à emissora SBT. Ela afirmou que recebeu um telefonema do diretor clínico, por quem foi comunicada de que não poderia mais prescrever, nem atender pacientes pela empresa.

A profissional atribuiu o afastamento à sua defesa à hidroxicloroquina como a cura da covid-19. A substância não tem eficácia comprovada cientificamente contra o vírus, segundo informa a Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar disso, o presidente Jair Bolsonaro faz campanha ativa em favor do uso do medicamento nas fases iniciais da doença.

“Eles acreditam que minha fala sempre em prol da hidroxicloroquina, que eles consideram que não tenha fundo científica, denigre o hospital. Porque todo mundo relaciona a minha presença ao hospital. E eu sempre tenho colocado que eu não falo pelo hospital. Eu estou lá atendendo os meus pacientes, eu faço parte da oncologia, da imunologia, e eu faço a defesa da hidroxicloroquina porque eu tenho a certeza de que ela cura os pacientes nas fases iniciais”, declarou.

Nise disse ainda que sua posição em relação ao remédio é compartilhada por parcela “silenciosa” da comunidade médica.

“Eu insistindo que esse remédio pode curar pessoas, eu estaria indo na contramão daquilo que o hospital, com os seus médicos, com o seu corpo científico, decidiu”, disse. “Eu não acredito que a comunidade inteira pensa assim. Eu acho que a gente tem uma grande maioria silenciosa. Porque a maioria dos médicos, que inclusive é contra, tomou quando ficou doente.”

Sobre a entrevista à TV Brasil, a médica disse que houve “mal-entendido”.

“Eles se referiram também a uma fala que eu teria dito, na semana passada, que foi interpretada de uma forma errônea. Eu falei que existia uma citação muito grave no mundo com o pânico que foi instalado, com o medo que levava as pessoas a ficarem reféns dos seus algozes”, argumentou. “É o medo de ficar doente. Porque todo mundo fala que não tem cura, que não tem tratamento, que você vai morrer. Toda noite, tem uma série de campanhas para a pessoa ficar cada vez mais amedrontada e achar que vai entrar no aparelho de respiração imediatamente. E eu estou dizendo para o público que existe tratamento sim”, afirmou ela.

Em nota pública à imprensa, Nise Yamaguchi pediu desculpas e manifestou solidariedade ao sofrimento dos judeus no Holocausto.

Confira a seguir, na íntegra, a nota divulgada pelo Hospital Albert Einstein.

“Com relação a declarações prestadas pela Dra. Nise Yamagushi, o Hospital Israelita Albert Einstein tem a esclarecer o seguinte:

1. O hospital respeita a autonomia inerente ao exercício profissional de todos os médicos, jamais permitindo restrições ou imposições que possam impedir a sua liberdade ou possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho.

2. A Dra. Nise Yamagushi faz parte do corpo clínico do Hospital, sendo admissível que perfilhe entendimento próprio com relação ao atendimento de seus pacientes ou à sua postura em face da pandemia ora combatida, desde que observe as regras relacionadas ao uso da sua condição de integrante do Corpo Clínico em sua comunicação.

3. Trata-se, contudo, de hospital israelita e a Dra. Nise Yamagushi, em entrevista recente, estabeleceu analogia infeliz e infundada entre o pânico provocado pela pandemia e a postura de vítimas do holocausto ao declarar que “você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela MASSA DE REBANHO de judeus famintos se não os submetessem diariamente a humilhações, humilhações, humilhações…”.

4. Como se trata de manifestação insólita, o hospital houve por bem averiguar se houve mero despropósito destituído de intuito ofensivo ou manifestação de desapreço motivada por algum conflito. Durante essa averiguação, que deve ser breve, o hospital não esperava que o fato viesse a público.

A expectativa do hospital é a de que o incidente tenha a melhor e mais célere resolução, de modo a arredar dúvidas e remover desconfortos.”

Confira a nota pública de Nise Yamaguchi.

“Dra. NISE YAMGUCHI, por meio de sua assessoria jurídica, manifesta este esclarecimento.

NOTA PÚBLICA À IMPRENSA:

Vem agradecer as inúmeras manifestações de apoio e solidariedade de todos aqueles que compreendem a importância da discussão da Hidroxicloroquina em tratamento precoce do COVID – 19, tendo exercido esse mister conjuntamente com o Doutor Vladimir Zelenko da Comunidade Chassidica de Nova York pela utilização de seu protocolo no Mundo.

Têm orgulho de ser membro do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein por mais de 30 (trinta) anos, possibilitando ajudar e atender inúmeros pacientes.

Agradece de forma especial todo o apoio por cartas, e-mails e ligações de diversos membros da Comunidade Judaica, que compreenderam que jamais seria ela anti-semita, já que foi ela a maior apoiadora do processo de conversão da sua irmã para o Judaísmo (Greice Naomi Yamaguchi).

Homenageia os brilhantes cientistas judeus na pessoa do seu mentor, o Professor Doutor Reuben Lotan (Z”L) do M.D. Anderson Cancer Center e previamente do Instituto Weizmann de Israel, que muito a apoiou na sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo.

Por tudo aqui já relatado, é cristalino o entendimento de que nunca foi ela antisemita, ao contrário, expressa verdadeira e irrestrita admiração ao conhecimento e toda a contribuição que o povo judeu deu ao planeta, quer por suas percepções cientificas, quer pela sua convivência mais íntima.

Por fim, manifesta o pedido de desculpas por expressões outras e interpretações errôneas sobre assuntos sensíveis ao grande sofrimento judaico que envolveram seu nome, pois é solidária à dor dessa ilustre comunidade como a maior das atrocidades de nossa história ocidental.

Suas palavras, objeto de interpretações não condizentes com suas convicções, foram manifestadas no intuito de expressar a maior dor que ela conhece.”

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