Os militares e o genocídio indígena

Os militares e o genocídio indígena

Na FSP, por Cristina Serra – O levantamento mais recente feito pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)informa que 542 índios morreram de covid-19 e 16.656 foram contaminados. A doença atingiu 143 etnias diferentes espalhadas pelo Brasil.

Com base nos números do Ministério da Saúde sobre pessoas internadas, o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves calculou que os indígenas contaminados tem 98% a mais de chances de morrer do que pessoas de cor branca. Também comparados aos brancos, negros tem 46% e pardos 72% mais chances de morrer devido à Covid-19.

Epidemias nas Américas começaram com o desembarque dos primeiros europeus em praias tropicais. Surtos de varíola, sarampo, gripe, cólera, coqueluche e outros males dizimaram por completo povos indígenas e deixaram outros à beira da extinção. É o que o antropólogo norte-americano Henry Dobyns chamou de “cataclismo biológico”.

A vulnerabilidade dos índios deveria ter ensejado ação decisiva do Estado para evitar que o vírus chegasse às aldeias. O que se vê, ao contrário, é o incentivo para a invasão de grileiros e garimpeiros, que levaram a doença para dentro das terras indígenas.

O governo foi capaz de covardia maior. Vetou o fornecimento de água potável para os índios; despachou um carregamento de cloroquina para algumas aldeias e disse que bebessem água dos rios. Um deboche quando se sabe que dezenas de rios estão contaminados com o mercúrio dos garimpos ou com agrotóxicos.

Os militares —que controlam o Ministério da Saúde— não gostaram quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes os associou a um genocídio. O dicionário oferece muitos sinônimos: extermínio, chacina, massacre, matança, carnificina, eliminação, extinção, exterminação, aniquilação, aniquilamento, destruição, mortandade, morticínio.

Que eles escolham qualquer um e durmam em paz com suas consciências. Se conseguirem.

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