18 organizações, em seis estados diferentes, vêm utilizando a tecnologia com o objetivo de diminuir taxas de desmatamento e focos de incêndio.
No MundoGeo
Os drones vieram para ficar na Amazônia. Eles são os novos aliados no combate às invasões de terra e o desmatamento ilegal. Apenas o WWF-Brasil já doou equipamentos para 18 organizações, além de cursos de capacitação e outras ferramentas que otimizam o uso dos dados gerados pelos drones, como GPS, telefones celulares e notebooks – no monitoramento de seus territórios, antecipando possíveis focos de fogo e invasões.
Entre elas estão: a Associação do Povo Indígena Tenharim Morõgwitá (Apitem), no Sul do Amazonas; a Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes em Xapuri (Amoprex), no Acre; o Instituto Kabu, no Pará; o Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre; e as prefeituras das cidades amazonenses de Boca do Acre, Apuí e Humaitá.
Ao todo foram doados 19 equipamentos, em seis estados do Norte do Brasil, com um investimento na ordem de R$ 300 mil.“Atuamos com drones desde 2016. O primeiro trabalho foi realizado na contagem de populações de botos na Bacia Amazônica, depois como reforço para monitoramento territorial na Amazônia e no Cerrado. Desde o ano passado, o objetivo é que a tecnologia ajude também na proteção contra o desmatamento e as queimadas”, diz Osvaldo Barassi Gajardo – Analista de Conservação Sênior do WWF-Brasil.
“Atuamos com drones desde 2016. O primeiro trabalho foi realizado na contagem de populações de botos na Bacia Amazônica, depois como reforço para monitoramento territorial na Amazônia e no Cerrado. Desde o ano passado, o objetivo é que a tecnologia ajude também na proteção contra o desmatamento e as queimadas”
diz Osvaldo Barassi Gajardo – Analista de Conservação Sênior do WWF-Brasil
O uso de novas tecnologias para a conservação da natureza é uma tendência irreversível, presente no mundo inteiro. A utilização de armadilhas fotográficas, big data, sensores de ruído, fotos de satélites e tagueamento de animais ameaçados tem facilitado o trabalho de diversos defensores da natureza, que se valem desses recursos para proteger e gerar informações sobre animais, plantas, populações e territórios.
Monitoramento em TIs
Com 1.867.117 hectares, os Uru-Eu-Wau-Wau, situados em Rondônia, têm aplicado a tecnologia com drones para monitorar seu território remotamente, enfatizando às denúncias de crimes ambientais e os riscos da biodiversidade naquela região.
A manutenção de Terras Indígenas são um dos instrumentos mais poderosos de conservação do Meio Ambiente – nos últimos 40 anos, apenas 2% das Terras Indígenas perderam suas florestas originais. Esses territórios mantêm estoques de recursos naturais, promovem serviços ecossistêmicos e ajudam na regulação climática do planeta. Mesmo assim, são regiões bastante ameaçadas, que vários problemas, como ocorrência de garimpo, roubo de madeira e invasão de terras.
“Com a chegada dos drones, o trabalho de monitorar nossa região ficou muito mais fácil. A primeira vez que usamos o drone por conta própria nós encontramos uma área desmatada enorme, muito próxima das rotas que utilizamos dentro da Terra Indígena, mas que jamais imaginávamos que fosse atingida pelas invasões e pelo desmatamento. Por terra a gente não acha o que acha com o drone”
afirmou o coordenador da Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau, de 20 anos
Preservação
De acordo com Bitaté, com o drone foi possível encontrar às margens do Rio Jamari, dentro da Terra Indígena, um ninho de Gavião-Real (Harpia harpyja) – localizado numa trilha acessível a 2 horas de caminhada da aldeia Jamari, onde Bitaté vive – porém, com o drone, é possível acessar o ninho de um ponto específico do meio do rio, acessível a 30 minutos da aldeia.
“Acabou que começamos a monitorar a situação daquele ninho também. Toda vez que passávamos por aquela região, levantávamos o drone para saber se ele ainda estava lá”
O Gavião Real é uma das mais poderosas aves de rapina do mundo – e a maior do Brasil. Ela chega a 1 metro de altura, 12 quilos e 2,25 metros de envergadura com as asas abertas. É uma ave rara, imponente e que vive de maneira solitária em regiões florestais remotas. Para diversos povos indígenas, é considerado um animal sagrado, “dono” da floresta e cujas penas são utilizadas para fazer flechas, penas e cocares.
Monitoramento em tempo real
Em patrulha realizada pelos Uru-Eu-Wau-Wau, no final de julho, o grupo descobriu 18 pontos de desmatamento, sendo 15 deles com registro fotográfico, por meio de drone. Nesta operação, os indígenas passaram 4 dias excursionando dentro de seu território. Além das áreas identificadas, eles localizaram um invasor num acampamento com armas, motosserra e motocicleta a mais de 8 quilômetros da TI, sendo encaminhando à delegacia e preso.
Identificar e denunciar
Para o coordenador-geral da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé (RO), Israel Valle, é possível falar em trabalhos antes dos drones e depois dos drones.
“Antes, nós usávamos informações via satélite, que sempre vinham com algum atraso. Quando chegávamos na área, ela já estava queimada. A gente trabalhava com o que aconteceu. Com os drones você consegue identificar o desmatamento e uma queimada, por exemplo, e fazer uma denúncia imediatamente”
A Kanindé é uma das maiores e mais importantes organizações indigenistas do Brasil e uma das parceiras do WWF-Brasil nesta iniciativa.
“Em dezembro de 2019, realizamos um treinamento para 40 pessoas na operação dos drones. Dois Uru-Eu-Wau-Wau e o representante da Kanindé participaram desta capacitação. No primeiro semestre, a Kanindé deu início à replicação desses conhecimentos, promovendo um treinamento para outros 15 indígenas, que aprenderam a usar algumas das funcionalidades deste equipamento”
informa Gajardo
Mas a utilização dos drones vai além do monitoramento territorial. Valle destaca que os indígenas têm utilizado a ferramenta registros do dia a dia das aldeias, seja no plantio de café e na preparação da roça, por exemplo – compondo um registro etnográfico importantíssimo para os indigenistas brasileiros.
Segurança e agilidade
Outro benefício dos drones está na agilidade e segurança dos patrulheiros que estão fazendo o monitoramento. Antes o grupo gastava um dia inteiro andando pela mata, mas agora conseguiram reduzir para metade do tempo e com uma abrangência territorial mais ampla.
O uso dos drones permite que as associações de base da Amazônia realizem seus trabalhos de monitoramento e proteção territorial de forma mais segura e qualificada.
“Este tipo de ferramenta permite obter elementos e evidências concretas, e ajudam a subsidiar denúncias que serão encaminhadas aos órgãos públicos competentes que lidam com fiscalização ambiental”
finaliza o executivo do WWF-Brasil
Aumento nas queimadas
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), julho de 2020 registrou um aumento de 28% nos índices de queimadas na Amazônia em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 6.803 focos em 2020 contra 5.318 em 2019.