Depois que a burocracia alemã do Terceiro Reich executou as medidas de desapropriação e concentração dos judeus, o regime nazista chegou a um ponto crítico. Qualquer passo adiante significaria o fim a existência do judaísmo na Europa ocupada.
No DW, Doris Bulau (gh)
No jargão nazista, a superação desse limite era descrito como a “solução final da questão dos judeus”. Na verdade, a expressão “solução final” era um eufemismo para a palavra “morte”. O objetivo era matar todos os judeus e pessoas “não arianas”, que aos olhos dos algozes nazistas eram “indignos de viver”.
Em 1º de setembro de 1939, Adolf Hitler assinou um decreto autorizando os médicos e psiquiatras a concederem o que chamavam de “morte de misericórdia” a doentes incuráveis, deficientes mentais e físicos. Esse programa de “eutanásia” atingia todos os cidadãos judeus na Alemanha. Uma das testemunhas dessa máquina mortífera, o tenente Peter von der Osten, lembra que “não se ouviam nem gritos nem tiros. Eles (os judeus) eram impelidos para a morte pelos alemães, mas sem gritos. Pode-se dizer que pairava no ar um silêncio de morte, algo muito deprimente”.
Óculos, único auxílio permitido
A partir da tomada do poder pelos nazistas, os judeus passaram a ter uma existência fantasma na Alemanha. Diariamente, eram decretadas novas proibições e manobras maliciosas. O sobrevivente berlinense Hans-Oskar Löwenstein lembra que os nazistas confiscaram quase todos os pertences dos judeus: telefones, rádios, toca-discos, máquinas fotográficas. O único equipamento que se podia usar eram os óculos. A água quente foi bloqueada e o acesso aos elevadores e às sacadas de frente para o passeio público. Nas cozinhas, os fogões a gás e elétricos foram lacrados. À disposição dos judeus residentes no seu edifício ficaram apenas dois fogões a gás e dois fervedores elétricos. Era, portanto, uma situação terrível. Peixes de aquário, flores, plantas ornamentais — tudo era proibido para os judeus.
Câmaras de gás
O “programa da eutanásia” abrangeu três operações: matança de cinco mil portadores da síndrome de Down e crianças com deficiências físicas em orfanatos; fuzilamento ou morte nas câmaras de gás de 70 mil adultos, entre eles deficientes físicos e mentais; ampliação da máquina de extermínio, inicialmente planejada somente para a Alemanha, aos territórios ocupados da Polônia.
A sobrevivente Rozele Goldstein não consegue esquecer os horrores do Holocausto. “Eu realmente não tinha esperanças de sobreviver. Quando estava uns cinco minutos deitada na vala, pensei que a morte ainda viria. Só notei que ainda estava viva quando ouvi os assassinos indo embora cantando, bêbados.”
Extermínio geral
O policial Jouzaz Maleksames defende-se ainda hoje da acusação de haver participado do extermínio de judeus na Letônia. “Não nos preocupamos com os judeus; isso não nos interessava. Não ouvimos nada a respeito do fuzilamento de judeus, ciganos ou civis”, diz. Os carrascos nazistas, porém, eram solícitos quando recebiam ordens de seus superiores, não importando se as vítimas eram crianças, mulheres ou homens recolhidos em hospitais ou clínicas psiquiátricas ou se, além disso, eram judeus, ciganos, homossexuais ou simplesmente “não arianos”. Segundo o soldado Reinhold Emmer, “era impossível opor-se às ordens superiores”.
Deportações
As deportações para os campos de concentração do Leste Europeu corriam a todo vapor desde o início da guerra. Trens cheios de passageiros dirigiam-se para Auschwitz, Treblinka, Sobibor ou Buchenwald. As câmaras de gás funcionavam sem cessar. Já na rampa de desembarque, os médicos nazistas examinavam os deportados que chegavam nos trens superlotados. Idosos, crianças, doentes e pessoas frágeis eram mandados diretamente para as câmaras de gás ou comandos de fuzilamento. Quem conseguira suportar o esgotamento físico da viagem era submetido a trabalhos forçados. Anãos, gêmeos e deficientes físicos que chamassem a atenção do médicos eram selecionados para experiências genéticas e morriam em consequência da brutalidade dos testes de laboratório.