O AMO DE BOI NÃO MORRE; VIAJA PARA OUTRAS ESTAÇÕES INTERGALÁCTICAS!

O AMO DE BOI NÃO MORRE; VIAJA PARA OUTRAS ESTAÇÕES INTERGALÁCTICAS!

Por Antônio Serpa Amaral Filho – Pai Francisco, Catirina e Cazumbá foram os primeiros a chegar à beira do leito de morte de Aluízio Guedes, quando sua voz já fraquejava e a energia do espírito já estava por um fio, minguando feito o pavio de uma vela caseira dando as últimas piscadas de incandescência. Ele arregalou os olhos, assustado, mas logo sentiu uma coisa boa acalmando sua alma, e relaxou…

As visitas tomaram-lhe as bênçãos, entre sussurros e confidências de última hora, lembrando as derradeiras vezes em que encenaram o auto do boi-bumbá, fizeram o batismo dos caboclos, a matança, dançaram as coreografias dos Guararapes, dos Timbiras, Tabajaras, Botocudos, Guaranis e Guaporés e ressuscitaram o Boi, na frente de todo mundo, em pleno terreiro apinhado de curiosos e admiradores, desafiando o poder divino outorgado apenas ao filho de um carpinteiro galileu de nome José! Boi morto, boi posto! E a pândega prosseguia noite à dentro, porque ninguém estava ali pra questionar os mistérios metafísicos da função mestiça! Com uma lágrima escorregando a ladeira Comendador Centeno do seu rosto, Aluízio Guedes agradeceu a presença dos personagens que estiveram com ele a vida toda!

Vieram em seguida o Bicho Folharal, o Padre e o Pajé, com o perispírito do folclorista já quase de saída para as estradas do além. O fraco coração do doente com um pé na vida e outro na história, no entanto, tomou fôlego e ganhou energia quando se viu rodeado desses seres folclóricos que ali estavam para a despedida; sentiu Aluízio a verdadeira revelação da realidade; folclórica era a vida, aqueles seres da cultura popular, sim, é que eram de verdade! Trocaram breves palavras e olhares, rogaram a bênção do mestre e partiram, com a promessa de nunca deixar morrer a tradição que receberam do grande brincante de boi!

As belas índias, os mancebos guerreiros e a marujada do Diamante Negro cercaram Aluízio Guedes por todos os lados, criando um campo energético muito providencial para o seu fraco coração já pelas tabelas, dando os últimos pinotes de vida. Mas, entre a beleza das cunhãs, a altivez dos índios e o calor dos batuqueiros, Aluízio Guedes sentiu por alguns segundos um sabor de vida e morte, um gosto de chocolate, como se ele estivesse em São Vicente ouvindo Milton Nascimento cantando em louvor aos Povos Libertários e ao Coração Americano!

Quando finalmente seu espírito se libertou da matéria, o velho mestre dos bumbás sentiu-se muitíssimo mais leve, olhou pra trás e viu seu corpo material ali prostrado sem vida, numa cena de cinema que ele nunca vira nem nos melhores tempos do Cine Lacerda e do Cine Resky! Mas tava bacana! Olhou ao redor e foi então que viu que não estava só! De um lado postava-se o espírito de Laio em suntuosa galhardia! Do outro, o espírito de Antônio de Castro Alves! Juntos, os dois conduziram Aluízio Guedes para o centro da arena da Flor do Maracujá do Mundo Espiritual, onde o histórico Amo de Boi foi saudado por todos aqueles que já tinham desencarnado e viviam em outras estações das Esferas Espirituais da Terra!

O professor, folclorista, brincante e Amor de Boi Aluízio Guedes, em meio a um intenso facho de luz e aplausos, ficou passado! Pensava o nobre folclorista que Arraial Flor do Maracujá era só coisa do aqui e agora, inventada na Terra por gente como Iedda Borzacov e Flávio Carneiro, cujo o espírito por sinal também estava lá para recebê-lo!

P. S: Paulinho Rodrigues lembra que, Aluízio Guedes, antes de criar o Boi-Bumbá Diamante Negro, juntamente com Antonio de Castro Alves, integrou com Sérgio, Ventania, Dartanhã, o próprio Paulinho Rodrigues e Mariano a mais campeã “Barreira de Amos” do Gigante Sagrado do Bairro Areal, o famoso Boi Corre Campo!

Envie seu Comentário

comments