Estadão – A temática ambiental, social e de governança (da sigla em inglês, ESG) está em destaque nos negócios em uma série de setores no Brasil e no mundo. Por ser um setor que lida diretamente com o meio ambiente e por ser relevante na geração de emprego e renda no país – sendo responsável por, pelo menos, 21% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária) – o agronegócio e o ESG estão intrinsicamente ligados. Os desafios socioambientais e de governança hoje postos ao setor podem ser convertidos em inúmeras oportunidades.
Em um contexto de crescentes exigências ambientais e éticas dos consumidores finais em relação à forma como o alimento é produzido, o agronegócio no Brasil precisa responder a esse desafio de aumentar a produção de alimentos preservando os recursos naturais. Será imperativo para o agronegócio produzir mais sobre a mesma base de ativos e produzir mais com menos insumos, reduzindo o impacto das atividades operacionais no meio ambiente.
As tecnologias, sejam de natureza biológicas, físicas, e agora as tecnologias digitais serão importantes aceleradores desse crescimento virtuoso do agronegócio no Brasil. São inúmeras oportunidades para dar escala às práticas sustentáveis, através, por exemplo, das tecnologias do Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que têm entre os focos de atuação o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, o sistema de plantio direto, a fixação biológica de nitrogênio, o tratamento de resíduos animais, a adaptação às mudanças climáticas. Ganharão cada vez mais espaço ferramentas como a agricultura de precisão e as soluções digitais de internet das coisas que aumentam a intuição sobre os processos.
O Brasil detém o maior ativo agroambiental do mundo e o mercado de capitais pode ser também um importante indutor de sustentabilidade. Os financiamentos atrelados a metas socioambientais e de governança podem mobilizar porções substanciais do capital necessário para transformar o Brasil no líder global de agricultura sustentável ao promover uma maior transparência e eficiência no uso de recursos naturais. Existe um potencial enorme para recuperar áreas degradadas, abandonadas e subutilizadas, por exemplo, que poderiam ser objeto desses financiamentos. O uso de pastagens para produção agrícola pode aumentar substancialmente a produção sem a necessidade de conversão de novas áreas.
Dentre os desafios para o agronegócio do Brasil, dentro desse ambiente de negócios pautado por aspectos socioambientais e de governança, talvez o maior seja a criação de novos paradigmas de confiança com os agentes da rede de valor agroalimentar, cujo principal ponto focal é o consumidor. E, para tanto, é importante que o setor e as empresas estruturem diálogos estratégicos com a sociedade, detalhando as ações e compromissos assumidos. É fundamental que as empresas construam uma agenda ESG transparente e mensurável, e que a comunique para a sociedade de uma forma efetiva. Ter uma agenda ESG é sem sombra de dúvidas um diferencial hoje para as empresas, mas, em um ambiente de crescentes exigências socioambientais e de governança, será rapidamente uma necessidade.
*Giovana Araújo é sócia líder de agronegócio da KPMG