As Naves do Conhecimento

As Naves do Conhecimento

Por Dietmar Starke – As Metrópoles Brasileiras foram reféns, por décadas de história, da omissão e da insensibilidade política frente ao problema do aumento da população pobre em áreas degradadas periféricas à cidade. Muitos Jovens devido à falta de perspectiva de vida abandonam as escolas muito cedo e são entregues à violência das ruas.

Apesar de o Brasil ser o 5º país mais conectado na internet do Mundo, a desigualdade social exclui a maioria pobre da rede de internet. Para reverter este quadro social, em 2012 a Cidade do Rio de Janeiro iniciou a construção de oito “Naves do Conhecimento” em diversas regiões degradadas da cidade, sendo que quarenta e duas já estão projetadas e planejadas, disponibilizando para a população a mais alta tecnologia informática, com dezenas de projetos para levar conhecimento, profissionalização, cultura, arte e ciência paraàqueles que não tem acesso e recursos para adquirir estas tecnologias. A cidade de Niterói estáconstruindo a terceira Nave do Conhecimento com o nome de Plataforma digital. A Holanda construiuNaves por todo o País, sob o nome e de Bibliotecas Digitais, inclusive modelos de Escolas Digitais do Ensino fundamental foram construídas naquele país, inspiradas nas Naves do Conhecimento. Varias cidades e países estão buscando reproduzir este modelo. 

A Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia, responsável pelo projeto, administra e realiza vários cursos com o objetivo de disponibilizar a informação e educação através da tecnologia contemporânea de processamento de dados para a população carente.Prédio de concepção arrojada que é composto de espaços destinados à: recepção, área de estudos, biblioteca digital Infantil, administração, sala de aula, estúdios de TV, Anfiteatros, com aulas de programação, curso de inglês, produção de vídeos, robótica, realidade virtual e inteligência artificial.

As Naves foram pensadas para criarmos a possibilidade de imaginarmos a Cidade Inteligente, entendendo esta possibilidade como formula para melhorar a qualidade de vida no momento que estamos englobando todos, e não somente alguns. Não há qualidade de vida com exclusão social. Ou pensamos cidades para todos ou não haverá sustentabilidade e qualidade de vida. Desta mesma forma quando pensamos Cidades Inteligentes, ela não existirá enquanto tivermos milhões de pessoas vivendo em estado de pobreza em áreas suburbanas sem saneamento, sem acesso ao conhecimento, à educação, à cultura, a arte a saúde, segurança e renda.

Sem sombra de dúvida as Naves do conhecimento são, sem nenhuma pretensão, ummodelo de Políticas Públicas, reconhecido internacionalmente através de premiações mais importantes do mundo, por seu conteúdo programático tecnológico pedagógico e pela sua arquitetura e inovação. A Nave é um ícone de uma possível ideia de uma Cidade Inteligente porvir, que sinaliza para um país com menos desigualdade social pela inclusão digital.

O projeto das Nave do Conhecimento se concretizado em sua integralidade, se multiplicando em diversas formas por toda a cidade, é um modelo de superação de um paradigma que pode superar a dicotomia entre cidade e favela. A primeira sempre positivada e a segunda ao contrário. As naves do conhecimento é um projeto de políticas públicas que busca fugir do modelo assistencialista para um modelo de que o conhecimento deve ser algo acessível a todos. Saber é poder para citar uma frase de Foucault, e sempre o acesso a este saber foi historicamente negado a uma parcela da população.

A cidade Inteligente, tem que revelar na sua pele a sua mais profunda essência e natureza, não basta ser tecnológica inovadora e sustentável, ela tem que se apresentar como uma imagem pedagógica inspiradora aos usuários dessa cidade. O conceito sustentável arquitetônico da NAVE revela na sua estética tecnológica e poética o conteúdo de seu programa e de seu objetivo político-educacional. Além da solução funcional, foi criado um objeto que pudesse envolver emocionalmente as pessoas, e estimular positivamente o ambiente social degradado do seu entorno. A nave simboliza, assim, a possibilidade de passagem da exclusão para a inclusão, do presente ao futuro da sociedade, a nível das perspectivas de um mundo melhor, um homememancipado socialmente, mais consciente e integrado com ele mesmo, com o coletivo e o meio ambiente.

O Brasil é um país que exclui e marginaliza. Isso é preocupante e com certeza pensar e construir a Cidade Inteligente tem papel primordial. Em uma sociedade disciplinar como diria Foucault e de controle como diriam Deleuze e Guattari, as Naves do Conhecimento se encontram no “entre lugar” um conceito de Derrida para entender que somos todos iguais na diferença. O problema que no Brasil esta diferença ocorre historicamente através da diferenciação de tipos de pessoas. Em um modelo de exclusão cruel, pois não apenas exclui, como estigmatiza e marginaliza as pessoas inviabilizando a sociedade em um futuro bem próximo.  

Eu como arquiteto e Urbanista desejo a igualdade social. Respeito a cada ser humano. Possibilidades de escolhas iguais. Então meus projetos surgem deste desejo de criar espaços de socialização, de compartilhamento, de empoderamento, enfim de igualdade e paz.

Dietmar Starke

Arquiteto Idealizador das Naves do Conhecimento.

Dietmar Starke, de Blumenau, Santa Catarina – Vencedor do prêmio Internacional Architizer A+Awards 2015, com o projeto “Nave do Conhecimento”. Graduado e Mestrado na Universidade de Artes de Berlim, tem projetos de arquitetura e de arte executados na Alemanha, no Egito e no Brasil. Desenvolveu, no Rio de Janeiro, em parceria com a Fundação Bauhaus – Dessau e a prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, o conceituado projeto Célula Urbana. Atualmente é arquiteto da Empresa Municipal de Urbanização (Riourbe) atuou como professor da Universidade Santa Úrsula e associado a vários escritórios internacionais de arquitetura.

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