Queimadas que se repetem

Queimadas que se repetem

Entender a dinâmica do fogo é fundamental para controlar as queimadas. Para medir o impacto desses incêndios é preciso saber as regiões mais afetadas, a frequência das queimadas e que tipo de cobertura vegetal é atingida. De 2000 a 2019, cerca de 1,5 milhão de quilômetros quadrados foram queimados pelo menos uma vez no Brasil – área que corresponde a dois Chiles. Só em territórios de vegetação nativa, a área queimada nesse período é quatro vezes a do Reino Unido.

CAMILLE LICHOTTI E RENATA BUONO, na Revista Piauí

Em áreas de floresta, onde o fogo não é um fenômeno natural, foram dois Uruguais. Nestas regiões florestais, as queimadas estão relacionadas, principalmente, à ação humana – seja para desmatamento ou manejo agrícola. O Mato Grosso é o estado com maior área queimada nos últimos vinte anos – tanto em territórios de pastagem, agricultura e atividades rurais, quanto em superfícies cobertas por vegetação natural. Lá, o fogo atingiu uma mesma área, de quase 30 quilômetros quadrados, por todos os anos da última década. Isso é o equivalente a oito Central Parks queimando a cada ano, repetidamente, no Mato Grosso.  Nesta semana, o =igualdades mostra o resultado de vinte anos de fogo no Brasil. 

Nos últimos vinte anos, pelo menos 18% do território brasileiro foram atingidos pelo fogo. Isso significa que 1,5 milhão de quilômetros quadrados foram queimados pelo menos uma vez no Brasil desde 2000. A área afetada nesse período é equivalente a duas vezes a área do Chile. 

De 2000 a 2019, 68% do território queimado no Brasil correspondia à vegetação nativa. Ou seja, cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados queimados eram vegetação natural dos biomas brasileiros. Na Caatinga, por exemplo, mais de 80% das queimadas aconteceram em áreas de vegetação nativa. Na Amazônia, queimadas em coberturas florestais e campestres correspondem a mais da metade da área atingida pelo fogo. Ao todo, o território de vegetação nativa queimado no Brasil, nos últimos vinte anos, corresponde a quatro vezes o território do Reino Unido. 

O Cerrado foi o bioma mais afetado pelo fogo nos últimos vinte anos. Além de concentrar mais da metade de todas as queimadas, a região já teve 41% do seu território atingido pelo fogo nos últimos vinte anos – mais de 825 mil quilômetros quadrados. A área corresponde a três estados de São Paulo e dois do Rio de Janeiro, somados. 

 Na Amazônia, mais de 420 mil quilômetros quadrados foram queimados de 2000 até 2019. As condições climáticas deste bioma fazem com que o fogo não seja um fenômeno natural. Para os pesquisadores, a ocorrência de queimadas está normalmente associada à ação do homem, seja para desmatar ou para manejo agrícola. Somente neste bioma, o fogo consumiu uma área equivalente a quatro Cubas nos últimos vinte anos.   

Nos últimos vinte anos, 330 mil quilômetros quadrados foram queimados apenas em áreas de floresta. Esse processo não é natural e os pesquisadores associam essas queimadas principalmente à atividade humana. O incêndio deste tipo de cobertura vegetal pode aumentar a concentração de carbono nestas regiões – primeiro pela combustão e, posteriormente, pela progressiva mortalidade de árvores. Ao todo, a área florestal queimada no Brasil, de 2000 a 2019, é equivalente a duas vezes o território do Uruguai. 

O Pantanal teve um aumento de 996% na área queimada em 2019. Em 2018, foram 1.105 quilômetros quadrados de área queimada – uma área equivalente a da cidade do Rio de Janeiro. No ano seguinte, a área atingida foi de 12.114 quilômetros quadrados, o equivalente à cidade do Rio de Janeiro e a área do todo o Líbano, somadas. 

O Mato Grosso é o estado com maior área queimada nos últimos vinte anos, tanto em territórios antrópicos, usados para pastagem, agricultura e atividades rurais, quanto em vegetação natural. E o problema é recorrente: uma mesma área de quase 30 (27,98) quilômetros quadrados queimou todos os anos, por duas décadas, somente neste estado. Isso é o equivalente a oito Central Parks queimando por vinte anos no Mato Grosso. 

Fontes: MapBiomas; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; The World Bank.

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