AMANDA GORZIZA, CAMILLE LICHOTTI E RENATA BUONO, na Revista Piauí
No dia em que vinte estados brasileiros registraram piora nos números da Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro disse que o país vivia um “finalzinho” de pandemia. Mas os números mostram o contrário. Em dezoito estados e no Distrito Federal, as mortes pela doença estão em alta – e esta emergência de saúde teve um custo alto para a vida dos brasileiros. O número de mortos por Covid-19 no Brasil é 38 vezes o da China, país mais populoso do mundo. Os chineses contornaram a crise seguindo as medidas recomendadas pela ciência. No Brasil, o presidente preferiu seguir a cartilha anticiência do governo norte-americano, que hoje lidera o ranking de mortes por Covid-19. Proporcionalmente à população, a taxa de mortes pela doença no Brasil é equivalente à dos Estados Unidos. No combate à pandemia, o país se tornou um pária. Na capital do Rio de Janeiro, a taxa é o dobro da de Londres. A taxa no estado de São Paulo é três vezes a da Rússia. E as alternativas para sair da crise são escassas. Até o mês passado, o Canadá já havia garantido nove vezes o número de vacinas que o Brasil adquiriu para a população. Nesta semana, o =igualdades calcula o saldo da condução desastrosa da pandemia no Brasil.
Na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro comemorou o desempenho do país no combate à pandemia. “O Brasil foi um dos países que melhor se saiu no tocante ao combate à Covid, levando em conta a questão econômica”, disse. Mas os números revelam que, por aqui, a epidemia cobrou um preço muito alto. O Brasil, mesmo com um sexto da população chinesa, teve 38 vezes o número de mortes por Covid-19 do país asiático. Isso significa que, para cada chinês morto com a doença, 38 brasileiros morreram.
A tragédia brasileira se compara à dos Estados Unidos, cuja cartilha anticiência foi seguida pelo presidente Bolsonaro. Os EUA têm um dos piores desempenhos na pandemia. Lá, a taxa de mortes por Covid-19 foi de 87 óbitos a cada 100 mil habitantes até dia 10 de dezembro – equivalente à taxa brasileira.
Nova York é uma das cidades mais afetadas pela doença no mundo. Na cidade norte-americana, a taxa de mortes por Covid-19 foi de 293 a cada 100 mil habitantes – o dobro da taxa na capital paulista.
Mas os números paulistas não trazem boas notícias. Em números absolutos, as mortes em São Paulo e na Rússia são equivalentes – até dia 10 de dezembro foram registradas 43 mil mortes no estado paulista e 44 mil no país euro-asiático. Proporcionalmente à população, o quadro se mostra ainda mais grave: São Paulo registrou uma taxa de 94 mortes a cada 100 mil habitantes por Covid-19 – é o estado brasileiro com maior número de óbitos. A taxa da Rússia, até a mesma data, foi de 31 óbitos a cada 100 mil habitantes. Ou seja, proporcionalmente à população, o estado de São Paulo registrou o triplo de mortes de toda a Rússia.
No Rio de Janeiro, o alto número de mortes por Covid-19 vem se mantendo constante no mês de dezembro. Proporcionalmente à população, a capital carioca registrou, até o dia 10, uma taxa de óbitos de 205 a cada 100 mil habitantes – o dobro da taxa de Londres.
Na última quinta-feira (10), o dia em que 20 estados brasileiros registraram piora nos números da Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro disse que o país vivia um “finalzinho” de pandemia. Mas os dados mostram o contrário. Em Fortaleza, mais de 13 mil casos de Covid-19 foram confirmados em novembro – o dobro do que havia sido registrado em outubro. Em relação ao mês anterior, houve um aumento de 96% – sete vezes o aumento verificado no Rio de Janeiro no mesmo período.
O país não tem um plano claro para sair da crise. O investimento nas vacinas, única solução definitiva para a pandemia, mostra que o Brasil está despreparado. Até novembro, o Canadá assegurou nove doses de vacina para cada habitante, em uma combinação com várias empresas diferentes. O Brasil, por outro lado, só tinha garantido 1,2 para cada pessoa – número insuficiente, já que a maior parte das vacinas demanda duas doses para imunização. O cálculo leva em conta a compra das vacinas produzidas pela AstraZeneca, pela SinoVac e as distribuídas pelo consórcio mundial Covax. Isso significa que, até o mês passado, o Canadá garantiu nove vezes o número de vacinas que o Brasil adquiriu para a população.
Fontes: Ministério da Saúde; Organização Mundial da Saúde; Centers for Disease Control and Prevention; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; United States Census Bureau; Governo do Estado de São Paulo; The World Bank; Secretaria Estadual da Saúde do Rio de Janeiro; Governo do Reino Unido; Brasil.io (com dados de boletins estaduais); Airfinity (dados publicados em artigo da revista Nature).