Jair, o terrorista

Jair, o terrorista

Tijolaço, por Fernando Brito – Passo mais uma tarde lendo artigos e ouvindo comentaristas políticos na tevê tentando entender “qual é o pensamento” de Jair Bolsonaro.

Há tal perplexidade que me sinto perdendo tempo em ouvir observações sobre como ele se contradiz e fala hoje o inverso do que falou ontem.

Porque é inútil tentar entender Jair Bolsonaro como se ele fosse um ser humano, ainda que com baixo grau de empatia, de humanidade e, até, de inteligência.

Ele é, mas não é esta a chave para compreender o que faz.

O traço essencial de Bolsonaro é ser – aliás, já o provou quando queria explodir latrinas de quartéis – um terrorista.

Sim, Jair Bolsonaro não encara a política no sentido aristotélico, como uma associação de seres humanos procurando uma ideia de bem comum. É, antes, o que sugeria Homero, ao falar dos que “têm sede de combates e, como as aves rapinantes, não é capaz de se submeter a nenhuma obediência”.

A política, portanto, é para ele apenas uma forma de enfraquecer a resistência da presa, acossá-la, confundi-la, usando as hienas do senso comum que comanda com seus zurros estúpidos.

Percebeu a presa – isto é, a Nação – ferida e confusa pelo espancamento em praça pública da política promovida por Sérgio Moro, trouxe para si a alma e depois o próprio corpo do chefe dos linchadores, sugou-lhe o significado e o descartou.

Realismo, em Bolsonaro, é apenas o grau de dissimulação necessária para impulsionar seus delírios. Apedreja e a afaga com a mesma facilidade, porque nenhum dos gestos é sincero, apenas é útil para seus objetivos autocráticos.

Não teve, nunca teve, e não tem partido, não tem a associação como forma de política, mas a desagregação é sua verdadeira estratégia de poder. Em grau de “pureza”, diga-se, bem superior aos seus contendores nesta via, como os Moro, Huck e Doria que nos abundam.

Bolsonaro é o produto depurado da estupidez que remanesceu numa sociedade à qual o moralismo empolgou.

Esta madrugada, para ilustrar o que pretendiam dizer ao defender que era preciso “ucranizar” o Brasil, para levá-lo ao clima neonazista daquela ex-república soviética, usavam e abusavam das imagem das chamadas “jornadas de junho” de 2013.

Não é o golpe militar que Bolsonaro pretende, mas a imobilidade das Forças Armadas, corrompidas pela ideia de uma apropriação indireta do poder – a direta é, hoje, politicamente impensável – diante da ação de falanges que colocam o país sob ameaça e, assim, refém de sua vontade primitiva.

O bolsonarismo não é apenas um câncer enquistado, é a sua metástase em todo o organismo social.

Uma parte do Brasil, como na Síndrome de Estocolmo, apaixonou-se por que a sequestrou de sua capacidade de sentir e refletir corretamente a dor que sente.

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