Ricardo Kotscho, no UOL – Com o sistema de saúde em colapso no Amazonas, todo dia batendo recordes de óbitos e casos de contaminação, o general Eduardo Pazuello foi a Manaus na segunda-feira como o salvador da pátria, prometeu mundos e fundos, de oxigênio a médicos, equipamentos e insumos, inaugurou 10 camas de UTI e 100 de enfermaria e anunciou que a vacinação começará no “dia D, na hora H”.
Usando uma alinhada camisa branca de mangas compridas, até parecia um médico em meio àquele cenário de terra arrasada, com pacientes dormindo no chão, parentes desesperados em busca de um leito, enfermeiros correndo de um lado para outro sem saber o que fazer.
Depois de semanas de silêncio, o general agora resolveu falar pelos cotovelos, fazendo discursos com voz de comando. E aproveitou para mentir novamente sobre a necessidade o uso da cloroquina, com “comprovação científica”. De quem? “Senhores, senhoras, não existe outra saída: nós não estamos mais discutindo se esse profissional ou aquele concorda. Os conselhos federais e regionais já se posicionaram, são a favor do tratamento precoce, do diagnóstico clínico”. Sem vacinação, ministério bate tambor pela cloroquina Cheio de si, sabendo que está com o cargo a prêmio, depois de fracassar no combate à pandemia e sem conseguir comprar vacinas e seringas, Pazuello pressionou a Secretaria Municipal da Saúde a tratar seus pacientes com cloroquina e outras drogas rejeitadas pelos epidemiologistas. No documento enviado à secretaria, o Ministério da Saúde considera inadmissível a não utilização de remédios sem eficácia comprovada, uma obsessão do capitão presidente Bolsonaro, a quem o general obedece cegamente. “Ele manda e eu cumpro”, já disse. Para entender o furdunço sanitário em que nos metemos em meio à pandemia, sem vacinas até agora, precisamos lembrar como o pândego general de divisão Eduardo Pazuello chegou ao Ministério da Saúde como “especialista em logística”. Teich se recusou a recomendar remédio sem eficácia comprovada Após a queda do segundo ministro, Nelson Teich, o Breve, Pazuello assumiu como interino com a missão de mudar o protocolo para o uso da cloroquina, o que o antecessor se recusou a fazer e por isso pediu o boné. Décimo ministro militar no governo, a primeira providência do general foi nomear uma tropa de 17 oficiais das Forças Armadas para cargos civis na sua assessoria, inclusive na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão técnico agora comandado por um contra-almirante amigo do presidente, que participou com ele de atos antidemocráticos. Depois de ser efetivado no cargo, Pazuello contraiu covid-19 e, ao retornar ao cargo, após passar duas semanas fora de combate, estava bastante animado, como conta Malu Gaspar na matéria “”Quem é feliz não pega covid”, na edição de janeiro da revista Piauí. Não se sabe se foi pelo efeito dos remédios que tomou, mas na reunião com sua equipe, no começo de dezembro, o ministro teve a coragem de comemorar os resultados da gestão: “Quantas coisas a gente fez desde que chegou aqui. Graças a essa gestão, a classe média aprendeu que tem de haver o diagnóstico precoce e que não é necessário intubar o paciente. Tanta gente morreu por causa de recomendações erradas! Parece que está passando um filme na minha cabeça. Agora eu tenho uma equipe, está aqui comigo o Markinhos, que vai cuidar do meu marketing pessoal”.
Quem é feliz não pega covid Beleza, agora vai. Markinhos é Marcos Eraldo Arnoud Marques, publicitário que Pazuello conheceu quando foi secretário da Fazenda de Roraima, durante a intervenção federal no estado, e que seria “nomeado em breve”, para um cargo de confiança. Outro assessor especial do ministro é Zoser Plata Bondim Hardman de Araújo, advogado conhecido por defender ex-banqueiros, políticos e acusados de formar milícias, relata a repórter. Nenhum dos 20 participantes da reunião usava máscara. Quando cobrados, os assessores debocham: “Quem é feliz não pega covid”. Donde se pode concluir que Pazuello e seu chefe, que já foram contaminados, devem ser dois infelizes, mas mas o assessor Zoser arrancou risadas ao atacar o governador paulista, João Doria, inimigo número um do governo. “Doria é o maior pau pequeno, um boiola”. Vale a pena ler a reportagem inteira de Malu Gaspar para conhecer o nível e as preocupações dos responsáveis pela saúde dos brasileiros em tempos de pandemia. Procura-se candidato a ministro Nada acontece por acaso. Mais dia, menos dia, Pazuello será rifado, como foram os outros ministros, por mais discursos que ainda faça, para proteger o chefe e vender a cura pela cloroquina. . Na época, ele ainda prometia que a vacinação não seria obrigatória (quem falou que seria?) e que trabalharia por uma “vacina campeã”.
Só não contava com a CoronaVac, a “vacina chinesa do Doria”, rejeitada por Bolsonaro, que agora pode ser a salvação da lavoura do governo. O que ainda mantem o general no cargo é que não deve ser fácil encontrar outro ministro tão subserviente e inoperante, como o presidente gosta. E qual brasileiro aceitaria hoje ser o quarto ministro da Saúde do governo Bolsonaro? Quem se habilita?
Vida que segue….