A cada dois minutos morre um brasileiro de Covid-19
Carta Maior, Por Lygia Jobim
O diabo foi generoso com o tenente. Primeiro ao lhe jogar no colo a presidência da república, fruto da vitimização por uma facada que lhe serviu de pretexto para não comparecer aos debates da campanha eleitoral. Depois, no seu segundo ano no Planalto, ao lhe proporcionar, através da pandemia do Covid-19, a oportunidade de colocar em prática seu projeto de redução da população.
A semente do extermínio a que hoje assistimos foi lançada em 1991, quando, ao discursar na Câmara dos Deputados em agosto de 1991, discurso cuja íntegra se encontra no final deste texto, se declara a favor da esterilização forçada para reduzir o aumento populacional, aplaudindo a notícia de que sete milhões de mulheres haviam sido esterilizadas em nosso país.
Conseguiu aprovar apenas 2 projetos, em seus 27 anos como deputado. O primeiro estende o benefício de isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para produtos de informática. O outro autorizava o uso da substância fosfoetanolamina sintética, a “pílula do câncer”, para curar esse mal. Esta teve seu uso barrado pelo STF por falta de comprovação científica sobre a eficácia no tratamento da doença.
Em 2020 lançou a cloroquina como remédio capaz de curar o COVID-19, tendo a recomendação inclusive sido incluída em um aplicativo do Ministério da Saúde e seu Ministro levou, para a cidade de Manaus, que está morrendo asfixiada, ao invés de oxigênio, grande quantidade deste medicamento.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – não existe medida terapêutica cientificamente comprovada contra Covid-19, ou seja, não é possível falar em “tratamento precoce” e indicar remédios específicos. Assim, o Ministro da Saúde, após dizer que jamais falou em tratamento precoce, a pedido do Conselho Federal de Medicina retirou o aplicativo do ar, o que não impediu que este Ministério tivesse, na mesma ocasião, uma publicação marcada pelo Twitter como enganosa.
A verdade é que a pandemia encontrou o tenente e sua tropa no lugar certo para colocar em prática a política da morte. Se a ditadura havia errado, segundo disse, ao não matar 30.000, como Tânatos está matando muitos mais.
Como diz a pesquisa do Centro de Pesquisas e Estudos de Direito Sanitário (CEPEDISA) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) e a renomada organização Conectas Direitos Humanos, não se pode falar que o resultado assombroso do tratamento dado pelo governo à pandemia, seja fruto de negligência ou incompetência. Há um claro objetivo na sistemática adotada e que segue um plano macabro no qual se incluem as falas de Bolsonaro.
O que estamos assistindo é um crime não culposo. É um crime doloso e como tal deverá ser tratado no futuro.
O que se percebe agora é que, com a chegada da vacina, aquele que um dia já defendeu a esterilização forçada, parece ter sido tomado pelo desespero de não conseguir concluir sua obra a tempo. Não apenas insiste com mais ímpeto em propagandear medicamentos inócuos para a doença, mas que pode gerar graves efeitos colaterais, como continua a desmerecer a vacina, única salvação para a humanidade.
Quando já havíamos ultrapassado 200.000 mortes pela Covid-19 e dois imunizantes foram, no mesmo dia, aprovados pela ANVISA, o país não viu aquele que senta na cadeira presidencial fazer um pronunciamento à nação que governa. Sufocado por seu próprio veneno foi incapaz de fazê-lo para que não víssemos sua baba nauseabunda escorrer da latrina que é sua boca.
Com muito esforço dispomos de uma quantidade ínfima de vacinas e não temos previsão da chegada de insumos para a produção que já estamos capacitados a fazer. A China, cujo embaixador por mais de uma vez reclamou da forma como seu país era tratado pelo tenente, seu chanceler e seu filho 03, posterga o envio dos mesmos esperando, com justa razão, um gesto de retratação pelas ofensas ditas por eles.
Avisou que sua especialidade é matar e é o que vem fazendo diariamente. Hoje, sem contar as subnotificações e os erros em diagnosticar a causa da morte, a cada dois minutos morre um brasileiro de Covid-19.
DCD – Publicado em 27 de agosto de 1991 – pág. 15.038 – 26 de agosto de 1991 – o SR.JAIR BOLSONARO (PDC – RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sr~’. e Srs. Deputados, sabemos que esse é um dos temas mais explosivos da atualidade sócio-econômica do nosso País, mas, como envolve questão gravíssima, a ninguém é dado omitir-se dianté dele, principalmente se, como nós, exerce uma função de natureza pública. Estamos fazendo referencia ao crescente problema da falta de uma política efetiva de controle de natalidade no Brasil, que precisa encontrar, com urgência, uma forma legal de promover esse controle com vistas a que o casal possa obter autodomínio físico e psíquico sobre a prole que pode e que deseja ter. Em razão disso, vamos mais longe, pois até mesmo a expressão “planejamento familiar” consideramos inadequada, já que a vemos como expressão de um conceito que não atende à necessidade de que o Brasil tenha um programa oficial voltado ao controle dos índices de natalidade. É certo que o nosso País, até mesmo por obediência ao que se acha inscrito no Capítulo dos Direitos Sociais da Constituição, tem obrigação de assegurar assistência médica oficial a todos os brasileiros, para que possam, livremente, decidir sobre o número de filhos que desejam ter. Por isso, somos favoráveis a que todos os hospitais públicos ou conveniados tenham condições de realizar vasectomia e laqueadura de trompa, métodos eficientes e aprovados de contracepção, desde que precedidos de ampla campanha pelo rádio e pela televisão. Considero, mesmo, que um programa com essas características é mais urgente e necessário que, por exemplo, a campanha publicitária sobre a instalação de cinco mil escolas, batizadas com o nome de Ciac, porque escola não é creche, não é restaurante e não é jardim de infância, mesmo porque esses empreendimentos têm, na verdade, o grande e principal mérito de constituir-se na alegria de empreiteiras, ávidas pelos lucros fáceis distribuídos à mão larga pelos poderes públicos. Também queremos fazer referência à denúncia que está sendo formulada pelos partidos de esquerda brasileiros, dando conta que cerca de que 7 milhões de mulheres foram esterilizadas, até agora, em nosso País, fato que nos leva a um único comentário: se tais procedimentos médicos não tivessem sido realizados, certamente teríamos, hoje, mais 10 ou 12 milhões de menores em situação irregular, engrossando a multidão de crianças que se acham em completo estado de miséria. E preciso que as famílias brasileiras se conscientizem da necessidade de proles mantidas sob controle, porque essa é a única solução que não atinge a dignidade dos casais, porque não interfere em uma decisão que deve pertencer exclusivamente a eles, permitindo-lhes ter filhos que possam viver longe da miséria e que sejam úteis à sociedade. Sem dúvida que esse tema, por sua inegável importância e por seu caráter de relevante prioridade, deve mesmo constar, de forma obrigatória, nos currículos escolares, a fim de que possa ter sentido educativo para a população, pois só o esclarecimento das pessoas é que lhes possibilitará decidir, com segurança e independência, sobre questão delicada, que envolve o foro íntimo de cada um. Lembro aqui que sou, antes de Parlamentar, membro de nossas gloriosas Forças Armadas, onde o serviço militar obrigatório recruta por ano cerca de 800 mil homens, dos quais somente 200 mil são considerados aptos para servir à Pátria, a maioria sendo reprovada no exame médico, o que prova que de nada adianta à Nação ter uma multidão de brasileiros subnutridos, que não têm condições de ser úteis ao seu País. É preciso, portanto, que todos tenhamos os pés no chão e passemos a tratar desse tema sem demagogia” sem interesse partidário ou eleitoreiro, porque de nada adiantam nossas convicções religiosas, políticas ou filosóficas quando está em jogo, sem dúvida, uma questão bem mais grave e que, de fato, interessa à segurança nacional, que é a viabilização do País e sua colocação no caminho certo do desenvolvimento social e econômico. Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente Sr~’ e Srs. Deputados