Dandara Pagu

“Pode acabar o petróleo
Pode acabar a vergonha,/
Pode acabar tudo enfim,/
Mas deixem o frevo pra mim.”

Na Folha

A sujeira mais bonita em nosso corpo é a de Carnaval, mas só sabe e sente isso quem leva Carnaval a sério. Sim, eu discordo 100% de que carnaval é pra brincar. Carnaval é coisa séria. É religião —a minha, pelo menos, é.

Na minha casa, o argumento que fazia eu e meu irmão ficarmos pianinho era… “Se você não se comportar não vai pro carnaval”. E ambos dormíamos embaixo da arquibancada enquanto meus avós viam os desfiles dos caboclinhos, maracatus, e eu tinha medo do caboclo de lança porém amava olhar escondida nas pernas do meu vô.

Mas o Carnaval gostoso mesmo é o que brincamos adulto. Na verdade, eu amo viver o presente, e só de pensar que neste ano não tem 10 looks mesmo sendo 4 dias, não tem usar tudo —sim, absolutamente tudo que me oferecerem eu tomo, eu cheiro, eu subo e desço ladeira.

Quinta costuma ter abertura do Carnaval em Olinda, eu sempre falo que não vou queimar a largada já sabendo que é mentira. Sexta eu me seguro, mas não deixo de ir ao banho de cuia porque no sábado eu acordo às 8h, como meu cuscuz e vou pra Mangueira,

Eu Acho é Pouco, Homem da Meia-Noite, e já emendo às 5 da manhã com Cariri.

Durmo um pouco. Dormir pra quê se eu tenho o ano todo pra dormir, não é?

Domingo já vou dançar um brega no I Love e guardo meu corpo porque no outro dia, às 10 da manhã, o meu bloco de Vacas Profanas sai com mais de mil mulheres com seios a mostra. É a catarse, emoção. Comunhão e loucura. Não é pouco, é um grito de liberdade de corpo feminino (criei o bloco depois que sofri violência policial por estar com uma fantasia em que meus seios estavam à mostra).

Na terça saio um pouco de Olinda e vou para Recife, vejo um show no rec beat e fecho em algum after cantando “É de fazer chorar quando o dia amanhece eu vejo o frevo acabar/oh quarta feira ingrata chega tão depressa só pra contrariar”.

No domingo, voltando para São Paulo, eu vou no Navio Pirata e Te Pego no Cantinho.

Me chamaram aqui para contar uma história de Carnaval. Eu preferi contar meu destinos no carnaval, pois cada um que falei me fez sentir lá.

Eu vou me cuidar porque quando o carnaval chegar vai ser babado, correria. Você já imaginou, todo mundo vacinado, carnaval liberado? Vai ser três vezes mais feliz.

Mil vezes mais, na verdade.

Tô dividindo com você o mantra que tenho para não ficar depressiva, porque não vou mentir: eu tô mal real. Mas na esperança que vou descontar esta dor ano que vem.

Dandara Pagu
Idealizadora do Bloco Vacas Profanas e comunicadora digital ​

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