Estamos chegando ao final do segundo mês do ano de 2021, e percebemos a necessidade de fazer memória das injustiças que assolam o povo do campo, da cidade e da floresta.
O ano de 2020 terminou, e com ele renovou-se a esperança de um novo ano atulhado de boas energias. O que não aconteceu, infelizmente. Em janeiro tivemos uma média de 140% de aumento de novos casos de covid em todo território brasileiro. Período em que as medidas restritivas e sanitárias foram praticamente deixadas de lado, por conta das festas de final de ano e que, lamentavelmente, levou o estado de Rondônia a alcançar mais de 2 mil mortes e o Brasil ultrapassar 200 mil vidas perdidas por conta da COVID-19.
Em meio a esperança da chegada da vacina, as injustiças sociais continuam e ganham ainda mais reforço, tendo em vista que “O vírus da desigualdade”, como designado no relatório apresentado pela Oxfam, escancara o contraste social em todo o mundo, atingindo principalmente mulheres, a população negra e integrantes de grupos étnicos minoritários, assim como, o povo camponês.
A conjuntura em síntese é essa. O aumento da desigualdade ressalta também a injustiça do poder judiciário no trato aos movimentos sociais e dos sujeitos envolvidos na luta pela terra. Em Rondônia, iniciamos 2021, mais especificamente no dia 29 de janeiro, com nova ação de pistolagem contra o povo do Acampamento Manoel Ribeiro, localizado na área rural do município de Chupinguaia, em que armas foram apontadas para crianças, mulheres e jovens que integram o grupo de camponeses vinculados a “Liga dos Camponeses Pobres – LCP”, em uma tentativa de despejo forçado e ilegal. O que não se concretizou, sendo isso mérito dos acampados, que mesmo diante todas as dificuldades, seguem em busca de seus direitos e do fim do latifúndio.
Em uma área da fazenda Nossa Senhora Aparecida, desmembrada da antiga Fazenda Santa Elina, palco do massacre de Corumbiara, os acampados sofrem com os vestígios de agrotóxico, causando-lhes perdas produtivas e processos alérgicos que afetam os moradores.
Ainda no horizonte rondoniense, o mês de fevereiro trouxe novo ataque ao povo do campo. O fato apresentado refere-se ao dia 5/02/2021, dia em que 200 das 380 famílias moradoras do Projeto de Assentamento Nova Floresta, localizado nos municípios de Governador Jorge Teixeira e Campo Novo de Rondônia, foram despejadas e tiveram suas casas e lavouras destruídas. À mídia e às organizações e movimentos sociais, a Polícia Militar afirmava que a reintegração havia sido suspensa por 30 dias por conta da pandemia, mas, na verdade, estava organizando toda a força tarefa para a efetivação do despejo.
Um dia antes, no dia 4 de fevereiro, a questão ambiental volta a entrar na pauta do projeto em curso de acumulação do capital no território rondoniense. Modelo que expropria, que nega e visa o fim da heterogeneidade social, principalmente na Amazônia. Neste dia, deputados estaduais e a Sedam voltaram a discutir acerca do Projeto de Lei Complementar 080, que propõe a redução da Reserva Extrativista Jacy-Paraná e do Parque Estadual de Guajará-Mirim.
Devemos compreender esse ataque como sendo um projeto do Estado Neoliberalista que visa a regularização fundiária voltada a facilitação da financeirização da terra, favorecendo ainda mais a fluidez do mercado de terras, tratando-a como commodities. Deixando de ser terra de trabalho, para ser, apenas, terra de recurso. Possibilitando ao máximo a exploração dos recursos florestais, minerais e hídricos, expressando-se no aumento da destruição ambiental.
Não poderíamos deixar de incluir neste resgate, as ações contra a luta pela terra e contra os povos indígenas nessas e em outras paragens do poente de nossa pátria mãe gentil. A exemplo do frio assassinato de Fernando dos Santos Araújo, único sobrevivente da chacina de Pau D’Arco, episódio que ceifou a vida de dez camponeses no sul do estado do Pará. Assim como o assassinato do jovem indígena Isak Tembé, no dia 12 de fevereiro, no município de Capitão Poço no noroeste do Pará.
Outra ação de pistolagem foi denunciada contra os povos da Terra Indígena Uru Eu Wau Wau. Diante do fato, os indígenas estão com o acesso comprometido a aldeia Alto Jamari prejudicando as ações das equipes de vacinação, que agora precisam de escolta para chegar até o local de vacinação.
Além disso, apresenta-se também a tentativa, por meio do Estado, de fechamento da Escola do campo Manoel Francisco de Oliveira, do município de Nova União, em que os pais pedem o apoio da sociedade contra o fechamento da instituição. Neste caso, os movimentos sociais: MST, MPA, MAB, assim como partidos políticos e os sindicatos: SINTERO, STTR, SINDNOV e FETAGRO, convidam toda a sociedade a se posicionar e participar contra mais essa ação em detrimento do povo do campo, por meio de um tuitaço no dia 19 de fevereiro entre às 11 e 12 horas, usando a #FecharEscolaÉcrime.
Diante do que foi exposto, percebemos a imperativa necessidade de fortalecimento dos movimentos e organizações sociais, junto aos sujeitos envolvidos na busca pela garantia dos Direitos Humanos e Sociais, que nos remetam a uma sociedade que zele por sua democracia representativa onde todos os envolvidos compreendam a importância do coletivo, da comunidade, sendo ela maior que os anseios de uma classe, de um modelo econômico.
Dessa maneira, podemos perceber que 2021 se iniciou com um ano de luta, que tenderá a perdas e ganhos. Seja pela pandemia da COVID-19, seja pela criminalização dos movimentos e organismos sociais e dos sujeitos envolvidos na luta por direitos sociais. A CPT-RO se compromete, como sempre o fez, de tentar ser um dos apoios dos povos do campo e floresta, mas também conclama à sociedade que se una em prol de um movimento de um compromisso com a democracia voltada a solução dos desequilíbrios sociais. E que possamos então assumir um compromisso fraternal regidos pelo lema da campanha da fraternidade “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”
Fonte: CPT-RO