Jovem espanhola viraliza com discurso de ódio

Jovem espanhola viraliza com discurso de ódio

Espanha, ano do boi de metal do calendário chinês. No mesmo dia em que o rapper Pablo Hasél foi preso, provocando uma série de manifestações pela liberdade de expressão em todo o país, outro “ícone” jovem ascendeu ao pódio midiático e virótico das redes.

Mas por motivos bastante diversos.

Susana Bragatto, na Folha

Foi no último sábado (12), em Madri, durante um evento de umas 300 pessoas convocado pela organização neonazista Juventude Patriota.

Durante o ato –uma homenagem à Divisão Azul, formada por voluntários espanhóis que lutaram na Segunda Guerra Mundial sob as ordens de Adolf Hitler –, assume o microfone uma moçoila.

Entre outras pérolas, ela mandou esta: “O inimigo sempre vai ser o mesmo, ainda que com distintas máscaras: o judeu. Porque não há nada mais certeiro do que esta afirmação: o judeu é o culpado.”

Ora, que loucura, um cara preso por cantar contra a monarquia e uma adolescente solta fazendo Heil Hitler de rouge allure.

Pera. Antes de seguir, contemplem:

Vejam a foto e me digam se a carinha de influencer do Instagram não é, infelizmente, parte inapelável do show.

Junto com a aparência, as caras e bocas com que pontua seu discurso viraram meme, comentário, presença replicada por 1308741708 em nossas retinas cansadas de tanta notícia.

(e por mim aqui também, porque, não, a gente não pode deixar quieto)

https://twitter.com/LukaBanjah/status/1361780082449203202?s=20

Claro que viralizou, a desgraçada.

***

Isabel Medina Peralta, 18, estudante de História, é filha de Juan Manuel Medina, atual membro do Partido Popular. Trata-se de um direitista de carteiriña, com passado vinculado à Aliança Nacional, partido neonazista espanhol.

Pois, pasme, esse pai ultraconservador (e é ela quem conta em uma das muitas entrevistas que ‘ganhou’ nos últimos dias) a expulsou de casa, alarmado e farto de tentar tirar os nazilivros de suas mãos. “Meus pais não me dirigem a palavra”, disse.

Com a imediata viralização do discurso antissemita da jovem esta semana, alguns foram logo conectando a nazitrupe ao Vox, partido de ultradireita espanhol, afeito a discursos xenófobos, homofóbicos e racistas.

Em uma conta do Twitter que desde então foi encerrada pela plataforma, Peralta retrucou: nananina. “Eles [Vox] são sionistas, capitalistas, democratas e constitucionais. Nós, não”. Ahtá.

O baile contraditório de -ismos e outros supersuprainfraconceitos nas falas da xovem me dão cócegas. Tristeza. Histeria. Horror.

A menina se declara “fascista”, mas partidária de um “regime socialista”.

Ela nega, no entanto, a alcunha de “influencer nazi” que algum órgão de imprensa lhe deu. “Nunca me definiria como nazista”, disse, em entrevista ao jornal El Español, que a apelidou de “musa falangista”. “Me considero nacional-socialista e fascista, mas, pra mim, nazi é só um rapado que aparece nos filme de Hollywood”.

Hmm.

Anote, que vem então a receita infalível pra ser um bom nacional-socialista-não-nazi: “nele, impera a elegância, escuta Wagner (sic), não se dedica a bancar o malandro ou ao vandalismo, mas luta por uns ideais e segue firme com eles”.

Antes de ser justamente expelida das redes sociais, Peralta chegou a brindar o universo com outras atrocidades. “Nossa civilização se afunda no ocaso de um arco-íris nauseabundo”, tuitou, numa wagneriana trovinha homofóbica.

Em outros momentos, chamou imigrantes de “bazófia (lixo, resto)” que se dedica a “violar e roubar”, declarou ser racista (“não estou a favor da mestiçagem”…..ಠ_ಠ!!), contra o feminismo (“desvirtua a mulher e a manipula”), e por aí vai, porque chega de dar ibope pra tanta mierda.

Não, não podemos tratá-la simplesmente como uma jovem ensandecida de batonzinho vermelho. Infelizmente, é muito mais do que isto. Atrás de uma ‘influencer’ dessa vem gente bailando com a flautinha de Hamelin.

A Federação de Comunidades Judaicas da Espanha (FCJE) condenou o discurso de Peralta e demandou uma investigação pública por crime de ódio.

Isabel, do hebreu Elisheba. Peralta, de Pedralta, zona alta de Navarra, e Medina (cidade, em árabe) –ambos, sobrenomes toponímicos adotados por muitos judeus sefarditas ao longo dos séculos.

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