Já se passaram quatro meses do sumiço de Fábio Júnior Fernandes de Souza, 39 anos, que estava internado na Associação Trindade Santa, em Vilhena, para tratamento de dependência em álcool.
Ele sumiu três dias após chegar na comunidade terapêutica com crises de epilepsia e desorientação por queda com impacto na cabeça, segundo relato da secretária da casa de recuperação, Salete Bueno.
“Quando ele chegou não tínhamos registro de que tinha qualquer tipo de doença. O acolhemos na casa de triagem onde deveria ficar de 10 a 15 dias, mas ele sumiu sem levar nada. A última vez que foi visto foi perto da porteira”, contou Salete.
Quem procurou a 1ª Delegacia de Polícia do município para registrar o desparecimento no dia 31 de outubro de 2020, foi o monitor da Associação, Roberto Carlos Neto.
“Eles apenas disseram que iam entrar em contato caso descobrissem algo sobre o paradeiro do Fábio”, contou o monitor.
Os dois colaboradores disseram que a polícia nunca fez buscas ou colheu depoimentos na comunidade que o acolheu e de onde sumiu.
Para saber que tipo de investigação foi feita e se havia algum fato novo, a reportagem falou por telefone com o delegado regional Fábio Campos.
Ele disse que em casos como esse sem relação com suspeitas de crimes não há o que investigar, pois tudo indica que o desaparecido apenas foi embora para lugar incerto.
Ao ser questionado se procederia assim com qualquer desaparecimento, inclusive, de familiar, o delegado respondeu rispidamente: “Escreva o que você quiser. Já sei onde quer chegar”.
A ligação telefônica foi interrompida pelo delegado.
De fato há suspeita de ‘pouco caso’ com Fábio que é integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, em acampamento no município de Alto Alegre dos Parecis.
Sem querer revelar a identidade, uma liderança do movimento contou que a luta para garantir o tratamento de Fábio é antiga e que não há um dia em que não procurem por ele.
“A verdade é que a polícia não deu importância ao caso de Fábio, mas não vamos desistir dele. Há anos damos suporte ao companheiro! Quem arcou com os custos de tratamento em outro período de internação foi o movimento com o fornecimento de produtos alimentícios à Associação Trindade Santa. Fizemos buscas por conta própria na região e acionamos também a polícia no Mato Grosso”, disse.
Várias tentativas de pedidos de apoio registradas em aplicativo de conversas.
A comunidade terapêutica Renascer atende dependentes químicos de todo país, principalmente de municípios de Rondônia e do norte do Mato Grosso.
À reportagem o delegado regional disse que a família não demonstrou muito interesse pelo desaparecido, mas ligações telefônicas e panfletos que foram espalhados na região provam o contrário.
Luciana Ferreira, esposa do Fábio, conta que foi à delegacia distante mais de 300 km de sua casa logo após o sumiço dele, mas não obteve informação alguma sobre a investigação.
“Os agentes nos falaram apenas que a ocorrência estava registrada e que tínhamos que esperar. Por conta própria tentamos investigar indo a vários locais e ouvindo pessoas, mas não encontramos nenhuma pista. Ainda confio que a polícia possa ajudar a achar meu marido”, diz Luciana.
Nesta segunda-feira, 01, após a reportagem, a esposa de Fábio e o monitor da casa de recuperação que registrou a ocorrência do desaparecimento receberam ligações da polícia civil de Vilhena.
Ambos disseram que foi a primeira vez que ligaram para colher informações.