Lula dá o tom e define o ritmo; Bolsonaro vai ter que aprender a dançar

Lula dá o tom e define o ritmo; Bolsonaro vai ter que aprender a dançar

O capitão entrou no baile. Hoje dançou no palanquinho do Palácio do Planalto. Depois que o ex-presidente Lula tocou o trombone em São Bernardo do Campo, o candidato à reeleição foi fazer campanha pela vacina que negou aos brasileiros.

Uol, por Olga Curado

Mas o capitão está fora do ritmo. Trouxe uma lista de datas, de números que não contam a verdade sobre o país. Fez a autoglorificação das ações do seu governo, que não combina com a realidade. Cadê a vacina, Pazuello?

A fala sincopada, sem fluência, do capitão, querendo ganhar tempo, é a de um sujeito assustado com o baile. Mas a dança começou. Lula subiu no palanque como candidato às eleições de 2022. O roteiro do ex-presidente, defenestrado pela justiça aparelhada sob os auspícios de Moro e pela indolência e conivência das instituições jurídicas e do Congresso, impedido de concorrer em 2018, é botar luz no que acontece neste momento no país. Precisa de pouca retórica. O descalabro grita por si só. A dança será nas ruas, nas periferias das cidades, nos hospitais. É a música do choro dos desalentados, desempregados, enlutados.

O capitão vai ter que pular miudinho. Não vai poder usar as suas pausas em férias de convescotes com pururucas. Não vai bastar a música do coro da plateia do cercadinho de onde governa. Embora castrado, e paradoxalmente imbrochável, o capitão precisa mostrar se tem fôlego também. Na fala da contradança, ao discursar nesta quarta-feira, pediu colo à mãe, vacinada, e que não virou jacaré. Agora diz que vai se vacinar. Copia Lula. Se o capitão reformado se arredar da sua cozinha e suspender por alguns momentos o lanche com leite condensado, e der uma voltinha na cidade de Brasília, até o HFA, o Hospital das Forças Armadas, lá verá o contêiner alugado para depositar os mortos que não terão espaço na morgue do hospital, que garante a ele e à família, tratamento, cama, mesa e banho. O vácuo de poder, de desgoverno, apontado por Lula no seu discurso em São Bernardo, não é uma novidade. O Pazuello, que ficou no lugar do Zé Gotinha, escondeu todas as doses da vacina, cujos números decrescem a cada dia e desmentem as metas prometidas de imunização. Enquanto isso, crescem as filas dos mortos à espera de atendimento, de respiradores, nos hospitais abarrotados. A turma do capitão desembarca de volta do passeio em Israel, onde foi buscar um spray milagroso contra a covid-19, que não existe, mas aproveitou para ter aula de como colocar máscara.

O ex-deputado federal por 27 anos tenta acompanhar a dança, no ritmo definido por Lula. Cadê a vacina, Pazuello? O general não dá conta e o capitão reformado faz uma pirueta e abre a Porta da Esperança: o astronauta-ministro está desenvolvendo uma nova vacina.

E segue o baile. Toca aí mais um lamentável refrão. A perda de prestígio do Brasil no exterior, hoje apontado como pária, celeiro de novas cepas do vírus que avassala o mundo, graças à incapacidade de enfrentar a pandemia. Hoje o Brasil é campeão. Lidera o número diário de mortos pela pandemia em todo o mundo, passando os Estados Unidos, espelho em que se mirou o capitão reformado. E segue o baile. Não tem emprego, não tem comida, não tem vacina. Não tem diálogo, não tem ciência. Mas tem promessa: de mais armas. O capitão tem um olhar fixo. Dos que só conseguem enxergar um ponto no grande horizonte. Quer um Brasil farto em armas. Fuzis, escopetas, rifles, revólveres que irão parar nas mãos das milícias das Muzemas, que irão matar outras Marielle. E segue o baile. O capitão vai ter que pular miudinho. Vai ter que rebolar para tapar o cheiro das queimadas na Amazônia. E vai ter que rebolar para tapar os ouvidos penetrados pelos uivos dos animais carbonizados no Pantanal e o trotar da boiada do Salles, devastando o meio ambiente. Vai ter que rebolar para não tropeçar no mundo perplexo com o desgoverno do imbrochável. O negacionista cloroquínico, inquilino do Palácio do Planalto, hoje autorizou os seus asseclas a usarem máscaras, aquela que o filho dele aprendeu a pôr na cara em Israel, mas que o papai proíbe em casa. O capitão apregoava, antes do início do baile, que máscara não reduz o risco de contágio, que distanciamento social não funciona, e que bom mesmo é spray nasal e cloroquina. Vai ter que aprender a dançar. A música da realidade é outra.

Segue o baile. A Terra não é plana.

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