UOL, por Rubens Valente – Um ofício distribuído pelo DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) de Vilhena (RO) no último dia 15 diz que “está sendo realizado” entre os indígenas um suposto “tratamento profilático com ivermectina para a população maior de dez anos” e um suposto “tratamento kit covid para todos os indígenas que apresentarem sintomas” da doença causada pelo coronavírus.
Os DSEIs são vinculados à Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), um órgão do Ministério da Saúde. A unidade de Vilhena é responsável pelo atendimento de 6 mil indígenas de 144 aldeias e 43 etnias diferentes, além de manter quatro casas de saúde indígena nos municípios de Cacoal e Vilhena, em Rondônia, e de Juína e Aripuanã, em Mato Grosso.
Localizada por telefone pela coluna, a coordenadora do DSEI Vilhena que assina o documento, Solange Pereira Vieira Tavares, disse que “kits covid” foram entregues por prefeituras da região e usados por indígenas no ano passado, a pedido dos próprios indígenas, e desde que assinassem um termo de compromisso. Mas agora o distrito estaria vivendo “uma nova fase”, “estamos vacinando”. Ela disse que iria “averiguar” se os medicamentos ainda estão sendo usados porque apontou um erro no ofício: uma funcionária do DSEI teria copiado a frase sobre o uso dos remédios de um ofício anterior, do ano passado, como se fosse um cenário atual. “Esse texto do parágrafo nono é de quando começou a covid”, disse a coordenadora. Solange não soube dizer se crianças acima de 10 anos usaram a ivermectina nem quantos indígenas foram medicados. “Não sei [dizer] agora a faixa etária, porém… Por exemplo, o município de Cacoal distribuiu kits para a população, com ivermectina, e nós pegamos. Nós recebemos do município […]. O kit é de cada município, protocolo de cada município. Aí os indígenas quiseram. Os municípios distribuíram para toda sua população. […] O município fez uma declaração para o paciente assinar. Quem quis tomar teve que assinar esse termo. Cada pessoa que tomou assinou o termo. […] Inclusive os indígenas”, disse a coordenadora.
O Ministério da Saúde e a Sesai em Brasília foram procurados na terça-feira (16), mas não se manifestaram até o fechamento deste texto. O ofício foi enviado para os chefes da Funai (Fundação Nacional do Índio) de Cacoal (RO) e de Juína (MT) e dezenas de lideranças indígenas da região. No documento, Solange afirma que é necessário reforçar o isolamento social nas aldeias frente ao agravamento da pandemia, cita recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde e pede que seja determinada “uma quarentena no período de 15 de março a 29 de março de 2021” nas aldeias. Nesse período, diz o documento, as lideranças não devem permitir entradas e saídas dos indígenas e autorizar apenas o ingresso de servidores do DSEI e da Funai.