País registrou mais de 300 mil mortes esta semana; médico reforça importância de ações de prevenção e isolamento social
Cristiane Sampaio, Brasil de Fato
Há um conjunto de medidas que estão dadas e que são óbvias, mas o governo não tem interesse em agir
O Brasil encerra mais uma semana com novos recordes relacionados à pandemia do novo coronavírus. Na última sexta-feira (25), o país registrou 3.650 mortes em um intervalo de 24 horas. Foi a segunda vez que a marca de 3 mil mortes foi ultrapassada. O total de óbitos chegou a 307.112, segundo dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).
Outra marca havia chamado a atenção na última segunda-feira (22): as autoridades sanitárias reportaram 1 milhões de novos casos em 15 dias, totalizando 12 milhões de infectados. O intervalo anterior, entre os 10 e 11 milhões de doentes, havia se dado em 18 dias.
Segundo boletim da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado na sexta (26), a doença segue avançando entre o segmento jovem e os dados atuais levantam preocupação no que se refere à população com idade entre 30 e 59 anos.
Houve aumento exponencial nas notificações de casos de covid nessa faixa quando se consideram os números registrados do início do ano até 13 de março deste ano. Os dados analisados mostram um salto de 565,08% (30 a 39 anos), 626% (40 a 49 anos) e 525,93% (50 a 59 anos).
Também se destaca o aumento de 35% na quantidade de mortes de jovens e adultos em 2021. O dado se refere a um comparativo com os números do ano passado. Enquanto isso, o país segue amargando outros estragos da crise sanitária, com filas de espera para acesso a Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e risco de falta de medicamentos e oxigênio para pacientes internados.
Os dados que estampam o descontrole da crise potencializaram as críticas multilaterais ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), conhecido pelos ataques às políticas de isolamento e pela defesa de supostos medicamentos milagrosos para o que chama de “tratamento precoce” da covid-19 – método já condenado por diferentes especialistas e entidades médicas por conta de riscos à saúde.
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Para o médico de família Aristóteles Cardona Jr., da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, o atual cenário ajuda a desfazer o discurso do governo sobre a eficácia do “tratamento precoce” e demonstra a importância das ações de prevenção por meio do isolamento social.
Ele destaca que, diferentemente do que havia no começo da pandemia, quando o vírus ainda parecia um fantasma desconhecido, hoje há vasta literatura sobre o tema que sustenta a eficácia desse tipo de medida.
“É [preciso] restringir a circulação de pessoas por um tempo para reduzir a circulação do vírus e fornecer condições econômicas para que as pessoas fiquem em casa. Ou seja, há um conjunto de medidas que estão dadas e que são até óbvias neste momento, mas o governo não tem interesse nem em tocar um processo nacional, que seria essencial neste momento”.
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O médico lembra que os maiores riscos de infecção por covid estão relacionados à contaminação do ambiente, por isso a importância do lockdown.
“O grande perigo de transmissão do vírus é pelo ar. Então, é evitar o máximo, quando for possível, sair de casa e, quando sair, optar sempre por lugares abertos. Locais fechados têm que ser o mínimo possível e, quando for inevitável [ir], que não haja aglomeração de pessoas. Quanto menos pessoas, menor é a chance de o vírus estar circulando”.
As taxas de isolamento seguem abaixo da meta em diferentes lugares do país. Em São Paulo, por exemplo, o governo registrou índice de 44% entre os dias 15 e 19, segundo divulgado no domingo (21), quando o estado encerrou a primeira semana da fase emergencial da quarentena.
Edição: Poliana Dallabrida