Balaio do Kotscho – Na época da ditadura original, quem ia para a clandestinidade eram os opositores do regime militar. Nesta contrafação capenga que montaram na campanha de 2018, pegando carona na garupa de um ex-capitão para voltar ao poder, comandando uma tropa de generais de pijama, quem se esconde é o governo para dar posse aos novos” ministros.
Na estrambótica dança das cadeiras promovida na semana passada, alguns só mudaram de gabinete, outros representam apenas uma troca de seis por meia dúzia. O que deveria ser uma solene inauguração do governo Bolsonaro 2.0, com 80 convidados especiais e muita pompa e circunstância, para a posse dos sete novos ministros, acabou virando uma sessão mais secreta do que reunião da maçonaria. Um de cada vez, os ministros nomeados se apresentaram na sala de audiências de Bolsonaro para assinar o termo de posse, acompanhados apenas de algum parente ou padrinho político. Tudo foi consumado rapidamente, longe dos olhos da imprensa, que não pôde nem fotografar os momentos solenes, para ter certeza de que eles realmente haviam tomado posse no escurinho do gabinete presidencial.
Por que tanto mistério? Na segunda-feira, os jornalistas chegaram a ser chamados para providenciar o credenciamento, mas pouco tempo depois foram desconvidados, sem maiores explicações. Para evitar qualquer constrangimento, desta vez não houve nem transmissão dos cargos. Os ministros ejetados do governo não foram convidados. Até o presente momento, o presidente da República não se dignou a dar qualquer explicação à plebe sobre os motivos da troca de ministros, entre eles o da Defesa, e seus três comandantes militares. O único a apresentar seus planos, antes da cerimônia clandestina, foi o ministro das Relações Exteriores, que prometeu fazer tudo ao contrário de seu inesquecível antecessor: defender a saúde, o meio ambiente e o clima. Ou seja, se cumprir o que prometeu, não vai demorar muito no cargo. Personagens de outros carnavais, como o inoxidável Valdemar Costa Neto, dono do PL, condenado no “mensalão”, reapareceram para abrilhantar o evento, sem dar declarações, mas deram uma pista do que poderemos esperar das mudanças. Seria até cômico, se não fosse tão trágico o momento vivido pelo país, aproximando-se dos 400 mil mortos na pandemia, sem nenhum sinal de que o governo pretenda mudar sua política necrófila que está superlotando os hospitais e os cemitérios.
O Brasil nunca foi tão temido no resto do mundo, não pelo seu poder militar, mas pelo que representa de risco para a saúde pública de outras nações, com o coronavírus e suas mutações fora de controle, tanto que já fecharam suas fronteiras para nós. Quando Fernando Collor viu o seu governo indo para o o brejo, ainda tentou escalar um ministério de notáveis, mas agora se trata de famosos “quem?”, retirados do anonimato diretamente para ocupar os mais altos cargos da República. Para um governo que já conta com luminares como Onyx Lorenzoni, Damares Alves e Ricardo Salles, não fará muita diferença a chegada de novos anônimos para as próximas reuniões ministeriais, desde que não não esqueçam de usar crachás (máscaras são proibidas no entorno presidencial). Antes de falar, cada um fará uma breve apresentação para contar de onde veio e como foi parar no governo. São tantas mudanças que, quando a gente consegue decorar o nome de todos eles, já são anunciadas novas mudanças, num troca-troca sem fim (só de ministros da Educação e da Saúde, os dois mais importantes em qualquer país civilizado, já foram quatro). É um perigo passar perto do Palácio do Planalto porque você pode ser o próximo escolhido.