Centenas de milhares foram ás ruas, de máscaras, no maior protesto contra o governo durante a pandemia
Redação Rede Brasil Atual*
As manifestações do #29M pelo “Fora Bolsonaro” foram gigantescas nas principais cidades do Brasil. “O presidente genocida também não acelera a vacinação porque ele tem medo disso aqui”, disse a atriz Maria Bopp, a Blogueirinha do Fim do Mundo, diante da imagem da Paulista tomada por mais de 80 mil pessoas no ato desse sábado (28), que pedia pelo fora Bolsonaro. “Se hoje foi assim, imagina com todo mundo vacinado.”
Neste sábado (29) ocorreram manifestações pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro em 213 cidade brasileiras dos 26 estados e do Distrito Federal, e 14 no mundo. Balanço divulgado no final do dia pelos organizadores estimou em 420 mil o número de pessoas que protestaram contra o descaso que já matou 461mil pessoas, contra a falta de vacinas para combater a covid-19, a fome, o desemprego, os ataques aos indígenas, aos negros, ao meio ambiente.
“Se o povo vai às ruas protestar em plena pandemia, é porque o governo e mais perigoso que o próprio vírus”, explicavam cartazes empunhados nos quatro cantos do Brasil. Quem não pode estar nas ruas, diante do receio da ser contagiado pelo coronavírus que assola as pessoas há mais de um ano, inundou as redes sociais da insatisfação com o governo omisso de Bolsonaro. A #29MForaBolsonaro contou com 202 mil participações apenas no Twitter, 1.828.048 postagens e 841 mil retuítes. No fim da tarde e no começo da noite, panelaços foram ouvidos em diversas cidades país afora.
O analista de dados Pedro Barciela aponta que a repercussão foi plural e obteve alto engajamento. “Essa diversidade presente hoje no campo antibolsonarista é o que permite que cada vez mais ele sensibilize outros usuários, converse com outros atores e interfira no debate público. A ideia aqui não é ‘furar a bolha’, mas sim dialogar com o maior número de bolhas possível”, tuitou.
Mobilização unificada
A mobilização do #29M contou com a participação de partidos de esquerda, sindicatos, entidades estudantis, quilombolas, indígenas, movimentos de trabalhadores do campo e entidades de torcidas. A avaliação é de que foi a maior mobilização nacional unificada desde 2017, durante os atos contra o ex-presidente Michel Temer.
“Os atos foram exitosos, do ponto de vista da mobilização. É claro que tem muito mais gente em torno da reivindicação da vacina, do auxílio emergencial de R$600,00. Hoje foi apenas uma amostra do que a sociedade vem reivindicando. Foi um esquenta depois de muito tempo longe das ruas, respeitando as medidas sanitárias, um marco do ponto de vista da mobilização no Brasil”, analisou Rud Rafael, da Frente Povo sem Medo e da Coordenação Nacional do MTST.
Em Brasília (DF), mais de 2 mil manifestantes seguiram em passeata pela Esplanada dos Ministérios ainda pela manhã. Em Belo Horizonte (MG), 18 mil pessoas participaram da mobilização. Em São Paulo (SP), o ato se concentrou na Avenida Paulista, no turno da tarde, e reuniu entre 80 e 100 mil pessoas, de acordo com os cálculos feitos pela organização do ato.
No Rio de Janeiro (RJ), o ato se concentrou na Avenida Presidente Vargas e reuniu uma multidão. Houve distribuição de 2 mil máscaras e álcool. Em diversos momentos, as lideranças relembravam a importância do distanciamento social.
“Foi um ato muito importante em defesa da vida de todos e todas brasileiras. Cada um com seu cartaz, feito em casa, protestando por vacina no braço, comida no prato, auxílio emergencial de 600 reais e fora genocida”, explicou Lígia Giovanella, uma das manifestantes cariocas.
No Sul do país, em Porto Alegre (RS), os atos se concentraram na parte da tarde e reuniram mais de 30 mil pessoas na capital gaúcha. Em Curitiba (PR), os manifestantes se concentraram na praça Santos Andrade e seguiram pelas ruas centrais da cidade. Ao todo, mais cinco mil pessoas participaram da mobilização.
No Ceará, houve mobilização em Fortaleza e também no interior, na cidade de Juazeiro do Norte. Na capital, os manifestantes se organizaram no período da tarde, na praça da Gentilândia e seguiram até a praça da Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Eles distribuíram kits de prevenção ao coronavírus, com máscaras PFF2 e álcool. Em Juazeiro do Norte, o ato foi pela manhã e foi dispersado poucas horas após o início por uma ação da Guarda Municipal e do Polícia Militar do Ceará.
“Estamos aqui, com todos os cuidados, porque tem gente demais morrendo, gente demais nos hospitais, tem gente demais passando fome por causa desse desgoverno e nós estamos aqui porque é muito importante mostrar nossa indignação”, disse a professora Magali Almeida, de Fortaleza.
Em Porto Velho (RO), uma carreata cortou a cidade entre a Zona Sul e Zona Norte. Já em Belém, no Pará , cerca de 3 mil pessoas ocuparam as ruas da cidade. A concentração foi na praça da República e depois o ato seguiu até o Largo de São Brás.
Fechou com chave de ouro
O ato em São Paulo foi o maior do país, com mais de 80 mil pessoas nas ruas. Da concentração em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), por volta das 16h, os manifestantes marcharam pela Rua da Consolação e seguiram sentido à Praça Roosevelt, às 18h. Gritos, cartazes, bandeiras, adesivos pediam o impeachment de Jair Bolsonaro, a compra de mais vacinas e a ampliação do auxílio emergencial. Capitais como Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte também acabaram se surpreendendo com manifestações próximas de superar 10 mil participantes.
A maior manifestação contra Bolsonaro desde o início da pandemia ocupou vários quarteirões da avenida Paulista / Mídia Ninja
Antes do ato, o vão-livre do Masp estava fechado pela Polícia Militar de São Paulo, mas foi aberto pelos manifestantes, após uma forte chuva cair na Avenida Paulista. Totalmente pacífico, o protesto foi acompanhado pela Polícia Militar e pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).
A manifestação foi organizada pela Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular, em conjunto das organizações estudantis, centrais sindicais e outros coletivos independentes. Ao longo do ato, representantes de partidos e movimentos sociais – como a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MTST), Guilherme Boulos – discursaram contra o governo Bolsonaro.
“Chegou a hora de dar um basta e tirarmos o Bolsonaro do governo. Não vamos mais esperar até 2022, enquanto o nosso povo morre. Chegou a hora de semear um projeto de esperança e hoje é só o começo. Viemos às ruas com responsabilidade e sem medo de lutar”, afirmou Boulos.
Responsabilidade
Diferente das manifestações pró-Bolsonaro, em que o uso de máscara não é respeitado, nos atos do #29MForaBolsonaro, Brasil afora, elas estavam em todos os rostos. Em algumas cidades, como em São Paulo, a UNE e o MTST organizaram tendas de distribuição de máscaras PFF2, álcool em gel. Também ofereciam instruções para evitar contaminações no protesto. Os organizadores instruíam as pessoas a trocar máscaras de pano por modelos mais seguros, como a PFF2.
“No Brasil que tem um presidente que nega a vacina, e é um genocida, o povo tem de ir às ruas, porque ficar em casa também está matando”, disse a militante e defensora de direitos humanos Preta Ferreira, ao Mídia Ninja.
*Com a redação de Brasil de Fato