Ação possibilitou a chegada de medicamentos à Comunidade Palimiu; povos tradicionais vivem sob ataque de garimpeiros
Martha RaquelBrasil de Fato | São Paulo (SP)
Sete garimpos ilegais foram desativados durante operação do Exército Brasileiro na região da Comunidade Palimiu, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. O território vem sendo alvo de frequentes ataques de garimpeiros ilegais armados desde o final do mês de abril.
No último dia 10 de maio, embarcações se aproximaram da comunidade e começaram a atirar contra os indígenas. No dia seguinte (11), um novo tiroteio durante uma visita da Polícia Federal deixou duas crianças mortas – para fugir dos tiros, as crianças de um e cinco anos se esconderam na mata e caíram no rio, morrendo afogadas.
A ação, chamada de Operação Palimiú 1 (o Exército grafa erroneamente o nome da comunidade com um acento agudo na letra “u”), aconteceu entre os dias 12 de maio e 04 Junho de 2021. Os militares informam que suas tropas apoiaram as ações da Polícia Federal (PF), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI/Yanomami) na Comunidade Indígena Palimiu e nas áreas de garimpos ilegais nas proximidades dessa comunidade.
Garimpo ilegal na região da Comunidade Palimiu / Reprodução /Divulgação
Segundo o Exército, foram deslocadas equipes compostas por militares e agentes para prestar atendimento de saúde, assistência social, investigar as ações de garimpeiros ilegais contra a comunidade indígena e combater os crimes ambientais de garimpo que provocavam a degradação do meio ambiente no entorno de Palimiu.
Durante a operação, o Exército afirma que entregou medicamentos e realizou atendimento de saúde em 30 indígenas.
Parte do material apreendido na operação / Reprodução /Divulgação
O trabalho tardio das autoridades brasileiras levou à apreensão dos seguintes itens que estavam em locais ocupados por invasores da Terra Indígenas: 35 motores para garimpagem, 10 geradores /motores de energia, um embarcação, 4500 litros de óleo diesel, uma solda elétrica e apreenderam 50 munições calibre 20, quatro munições calibre 38 e 750 gramas de mercúrio – utilizado na extração do ouro. Não foi informado se havia pessoas no local e se alguém foi detido.
“O Exército Brasileiro continuará realizando operações na Terra Indígena Yanomami, principalmente na região da Comunidade Indígena Palimiu, com o objetivo de impedir a presença de não indígenas que praticam a mineração ilegal”, informou a 1ª Brigada de Infantaria de Selva.
Segundo a Funai, a operação tem como objetivo garantir a proteção das comunidades indígenas e do meio ambiente por meio da presença estatal na região, e deve seguir até que a situação esteja normalizada. De resto, a fundação já havia anunciado, no dia 19 de maio, que mantinha operações no local onde indígenas foram reiteradamente atacados por garimpeiros. A informação da Funai foi desmentida pelos líderes da comunidade.
::Funai diz que presta segurança a Yanomamis sob ataque do garimpo; indígenas desmentem::
Território tem 20 mil invasores
Morada de 27 mil indígenas, a Terra Indígena Yanomami está tomada por uma quantidade quase igual de garimpeiros ilegais. São 20 mil invasores, segundo o Instituto Socioambiental (ISA), dentro do território que ameaçam a vida dos povos originários e geram problemas sanitários, ambientais e culturais em terras indígenas, segundo estimam as autoridades públicas brasileiras.
Mesmo com a pandemia, em 2020 o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami, o equivalente a 500 campos de futebol. Percorrendo novas rotas entre os estados do Amazonas e de Roraima, os garimpeiros ilegais estão agindo mais próximos das comunidades dos povos originários.
Se convertida a área total desmatada na Terra Indígena Yanomami, que é de 2.400 hectares, a dimensão seria composta por mais de 3.300 campos de futebol, sendo 500 só em 2020, que representa um aumento de 30% no avanço do garimpo ilegal no último ano. Só o rio Uraricoera, que fica às margens da Comunidade Palimiu, concentra 52% de todo o dano causado pelo garimpo ilegal.
O território Yanomami tem quase 10 milhões de hectares e é a maior reserva indígena do país.
Imagem aérea de região com garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami / Reprodução /Divulgação
Violência fruto do abandono estatal
Quatro ofícios da Hutukara Associação Yanomami (HAY) pedindo segurança para os indígenas da Comunidade Palimiu foram ignorados pelas autoridades. A operação se deu apenas após o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenar que a União garantisse a segurança dos Yanomami.
Para a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o aumento da onda de violência não se dá de forma isolada e vem acompanhado do abandono dos mecanismos de fiscalização e desmonte das políticas indigenista e ambiental.
“Mesmo diante de um cenário de pandemia que já levou muitos de nossos parentes, os invasores continuam entrando nos territórios indígenas. Dessa forma, como movimento indígena, estamos mobilizados para denunciar as invasões dos garimpeiros em todos os meios legais, tanto nos órgãos local e internacional”, explica a instituição.
“Esperamos que o governo brasileiro cumpra o seu papel de fiscalizar, proteger e retirar imediatamente os invasores, criminosos que ameaçam a vida de diversas famílias em suas casas na floresta”, finaliza.
Em nota, a organização repudiou os ataques aos povos originários. “Em um momento em que os povos indígenas sofrem diversas formas de violência devido aos conflitos territoriais, a Coiab, por meio de suas lideranças nos nove estados onde atua, repudia todos e quaisquer atos de violência e segue na luta pela defesa dos direitos territoriais e à vida da população indígena”.
Edição: Vinícius Segalla