Segundo o deputado Luis Miranda, o encontro aconteceu no dia 20 de março, um sábado, quando Bolsonaro disse que tomaria providências e enviaria o caso para o diretor-geral da PF. “Não tive mais resposta sobre o caso”, relata o parlamentar. Ele diz ainda que as vacinas compradas com superfaturamento estavam para vencer, entre abril e maio.
247 – O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) relatou em entrevista à CNN no início da tarde desta quarta-feira (23) que informou Jair Bolsonaro pessoalmente sobre a suspeita de corrupção no contrato de compra da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde.
O parlamentar disse ter enviado inicialmente uma mensagem a um “adjunto” de Bolsonaro informando a pressão incomum que seu irmão, o servidor da pasta Luis Ricardo Miranda, estaria sofrendo para fechar um contrato suspeito da compra das vacinas. Os dois irão depor na CPI da Covid na sexta-feira (25).
No mesmo dia – 20 de março, um sábado – o assessor de Bolsonaro propôs um encontro pessoalmente entre eles e Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, por volta de 16h. O parlamentar compareceu à residência oficial da Presidência acompanhado do irmão e da esposa e comunicou o chefe do Planalto sobre os detalhes da negociação, inclusive com documentos.
De acordo com o servidor Luis Ricardo, as suspeitas se baseavam em alguns elementos: o invoice – nota fiscal para pagamento – estava em nome de uma empresa que não era nem a fabricante da vacina, na Índia (Bharat Biotech), nem a representante legal dela no Brasil (Precisa Medicamentos), mas de uma terceira. Havia também acordos diferentes no contrato inicial e no invoice – como o pagamento antes da entrega das vacinas, no caso do último documento. Durante a entrevista, o deputado apresentou um áudio do irmão com o relato dos pontos.
Na conversa com Bolsonaro, segundo o deputado, o presidente disse que tomaria providências e que levaria o caso ao diretor-geral da Polícia Federal. Depois do encontro na Alvorada, o parlamentar contou ter cobrado o adjunto por mensagens via Whatsapp. Chegou a perguntar se ‘o presidente estaria chateado’ com ele por alguma coisa e depois indagou se o caso havia sido levado adiante.
Vacinas prestes a vencer
No dia 24 de março, quarta-feira, Luis Miranda relatou ter enviado ao assessor uma “informação bastante complicada”. “Além de tudo, as vacinas ainda estavam, segundo o documento que foi encaminhado ao meu irmão, em prazo de vencimento. Venceriam entre abril e maio. Ou seja, a importação, a distribuição e a vacinação da população seria praticamente impossível. Teria que fazer uma mágica”.
“Então eu mandei uma mensagem na quarta-feira dizendo ‘olha, os caras ainda estão mandando vacinas que vencem em abril e maio’. E não tive mais resposta sobre o caso, não sei dizer qual foi dado o prosseguimento, não tive mais contato. Eu até encontrei o presidente recentemente num evento que eu fui convidado. Falei ‘presidente, preciso falar com o senhor’. E ele me mandou entrar em contato com o chefe de gabinete dele. Eu falo que é urgente, mas nunca mais consegui falar nem com ele nem com nenhum assessor dele sobre o tema. E eu só estou aqui hoje porque estouraram o áudio do meu irmão no MPF”.
O valor do contrato, que envolve a aquisição de 20 milhões de doses da Covaxim, é de R$ 1,61 bilhão. O custo unitário é de US$ 15, o mais alto dentre todas as vacinas adquiridas pelo Ministério da Saúde – no site da Covaxin, a dose da vacina era anunciada a US$ 2. O sócio da Precisa Medicamentos, Francisco Emerson Maximiano deveria prestar depoimento à CPI nesta quarta-feira (23), mas a oitiva foi adiada para a semana que vem.