Vídeo mostra a trajetória do líder do governo Bolsonaro e pivô do escândalo da Covaxin; financiado por empresários da saúde, ministro da Saúde do governo Temer tentou sucatear o SUS; ele tem latifúndios no Piauí e quadruplicou sua fortuna em doze anos
Por Luís Indriunas e Alceu Luís Castilho
Depois de muito relutar, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) abriu o jogo durante seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e revelou o nome do chefe do esquema de venda superfaturada da vacina indiana Covaxin: o líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O político, empresário e fazendeiro paranaense foi citado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, quando Miranda denunciou o esquema para o capitão.
Menos de uma semana depois, outra denúncia envolvendo Ricardo Barros aparece. Seu indicado para a diretoria de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, foi acusado de negociar uma propina de um dólar a mais para cada vacina AstraZeneca comprada. Menos de 24 horas depois, Dias foi exonerado e a CPI convocou-o, juntamente com Barros. Os senadores querem detalhes das negociações escusas e a relação dessas denúncias com o presidente da República.
Bolsonaro e Barros são aliados de longa data. Foram companheiros de partido por dez anos, como mostra o 13º vídeo da série De Olho no Genocídio:
DE ORIGEM RURALISTA, DEPUTADO QUADRUPLICOU SUA FORTUNA EM 12 ANOS
Ricardo Barros vem de uma família tradicional do Paraná. Seu avô Odwaldo Bueno Neto enriqueceu comprando terras de pequenos produtores na região de Maringá, reduto eleitoral do político. O próprio Barros aumentou sua fortuna durante sua carreira política. Em 2006, quando foi candidato, ele declarou R$ 1.255.746,74 ao Tribunal Superior Eleitoral. Em 2018, esse valor tinha quadruplicado: R$ 5.529.650,21. De Olho nos Ruralistas já falou sobre sua face agrária: “Novo líder do governo na Câmara tem latifúndio em região de conflitos no Piauí”.
Os 5.204 hectares declarados ao TSE por Barros estão no município Baixa Grande do Ribeiro, uma região de transição entre a Caatinga, o Cerrado e a Floresta Amazônica. Além desses imóveis, o deputado tem declaradas outra fazenda no Paraná e participações em incorporadoras de imóveis, loteadora de terrenos, locadora de veículos, escola de ensino técnico, emissora de rádio e loja de roupas. Entre os bens não declarados, há uma sociedade em terreno em Marinalva (PR) cotado em R$ 56 milhões.
Enquanto acumula bens, Ricardo Barros ganha dinheiro de empresários do setor de saúde. Em 2014, recebeu para sua campanha R$ 100 mil de Elon Gomes de Almeida, sócio dos grupos Aliança Saúde e Qualicorp. Quando tornou-se ministro da Saúde do governo Michel Temer, em 2016, Barros defendeu a diminuição do tamanho do Sistema Único de Saúde e cortou cerca de R$ 50 bilhões do seu orçamento, além de dizer que “quanto mais gente tiver plano de saúde, melhor”.
O empresário ficou famoso por suas declaraçõesque menosprezavam quem precisa de atendimento médico e não pode pagar. “Homens trabalham mais, por isso não acham tempo para cuidar da saúde”, afirmou o então ministro em uma ocasião. Em outra entrevista, ele falou que “a maioria das pessoas chega ao posto de saúde com efeitos psicossomáticos”.
Engenheiro civil de formação, Barros conseguiu ampliar apoio de Bolsonaro com discurso negacionista sobre a pandemia, apoiando o uso da cloroquina para tratamento da Covid. Numa troca de favores, Bolsonaro nomeou a mulher de Barros, a ex-vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti, como conselheira da Usina de Itaipu. Com rendimentos mensais de R$ 27 mil. Dois dias antes, o deputado Luis Miranda tinha procurado o presidente para denunciar o esquema da Covaxin.
Além das declarações públicas a favor da cloroquina, a CPI da Covid mostrou que Ricardo Barros trabalhava nos bastidores. Entre os doze processos aos quais responde, há um de improbidade administrativa por fechar um contrato de R$ 19,9 milhões para compra de remédios para doenças raras com a Global Gestão Saúde, que não tinha como entregar o produto.
A Global é sócia da Precisa Medicamentos, intermediária da vacina indiana Covaxin, a mais cara entre as vacinas. Além de pressionar para que o contrato fosse fechado a toque de caixa, Barros é autor de uma emenda que facilitaria a importação da Covaxin, garantindo a entrada de vacinas importadas mesmo sem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na defesa de sua emenda, Barros citou a necessidade de compra da Covaxin.
À mídia em geral, Ricardo Barros negaenvolvimento com o caso da vacina chinesa. Bolsonaro também nega: “Não tinha como saber sobre caso Covaxin“. O presidente tem evitado se pronunciar tanto sobre Barros quanto sobre Miranda.
| Luís Indriunas é editor do De Olho nos Ruralistas. |
|| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do observatório. ||