Aos 16 anos fui vítima de violência praticada por um ex-namorado que não aceitava o fim do relacionamento.
Eu disse 16 anos. Imagine sua filha, irmã, você.
Foram vários dias de agressões físicas e ameaças de morte contra minha família.
Foi um sufoco pra me libertar.
Naquela época não tinha Lei Maria da Penha, nem se falava de violência contra a mulher.
Coragem de contar aos meus pais? Nunca! Morria de medo que o agressor os matasse.
Com coragem que tirei não sei de onde o larguei na primeira agressão, mas aí vieram outras e outras.
Sofri várias, nas ruas, na minha escola, onde ia. Ele esperava nas esquinas para me atacar.
Um cunhado me socorreu e o agressor fugiu de Rondônia com medo de peia e de ser denunciado.
Ele era mais velho e gozava de popularidade na cidade.
Morreu recentemente e causou comoção nas redes sociais.
Vi muita gente o agradecer pela sua colaboração no segmento de dança em Porto Velho e por sua humanidade.
Me perguntei: como um sujeito tão mau enganou tanta gente por tanto tempo?
Alguns sabiam que era perverso e mesmo assim teceram muitos elogios após sua morte. Não foi com eles, por que se importar?
Pensei em perguntar por que a quem sabia e dizer a quem não sabia do que ele era capaz.
Duas pessoas próximas me disseram pra perdoar e pedir a Deus o descanso pra ele.
Só pensava: esse não sobe. Esse desce.
Confesso, não me alegrei, mas também não fiquei triste com a morte dele. Foi estranhamente frio o alívio.
Na verdade só pensei que nunca mais sentiria aquele medo paralisante que me acompanhou a vida toda.
Ele havia recentemente voltado pra Porto Velho e quando o reencontrei, garanto, o medo que eu senti foi o mesmo de quando era adolescente.
O chão se abriu quando dei de cara com ele, mesmo hoje sendo uma mulher forte, esclarecida, protegida, desabei de medo.
Quem nunca sentiu esse medo não sabe o que é.
A violência mesmo após interrompida persegue a mulher feito uma sombra maligna.
Quando ouvir um grito de medo desse, corra pra ajudar!
Tudo que eu queria era que alguém corresse pra me ajudar. Muitos viram e nada fizeram.
O #djivis pode estar do seu lado e não o vê.
Uma mulher pode estar gritando e você não ouve.
Eu vivi esse terror.
Mas, aqueles olhos de fúria me encarando, me reduzindo a medo, nunca mais!
Hoje eu vou pra cima quando um homem tenta me parar, me calar. E uns me dizem louca. Não sabem como construí minha coragem.
Fez escuro, o amanhã chegou e hoje eu canto.