Sem internet nem aprendizagem

Sem internet nem aprendizagem

Revista Piauí, por LUIGI MAZZA E RENATA BUONO – Ao menos dez estados começam a retomar as aulas presenciais, após dezesseis meses de escolas fechadas na pandemia. O Ministério da Educação não fez, até hoje, um levantamento nacional sobre o impacto do isolamento no aprendizado das crianças e adolescentes. O que se sabe é que, no universo de 47 milhões de estudantes matriculados no ensino básico, os mais pobres e os que vivem em cidades com pouca infraestrutura foram os mais prejudicados.

Antes da pandemia, ao menos 4,3 milhões de estudantes não tinham acesso à internet, e, durante o ano letivo de 2020, apenas 6,6% das escolas públicas forneceram internet em domicílio para os alunos. Um terço dos colégios da rede pública não teve qualquer tipo de aula à distância – fosse ao vivo, gravada, pela internet, pelo rádio ou pela televisão. E mesmo a reabertura das escolas tem sido marcada por desigualdades: entre os alunos de maior renda, 38% estudam em colégios que voltaram a ter aulas presenciais, enquanto no grupo dos alunos mais pobres a proporção é de apenas 16%. O =igualdades mostra as desigualdades no acesso ao ensino no Brasil e como tudo se agravou na pandemia.

No final de 2019, ao menos 4,3 milhões de estudantes brasileiros não tinham acesso à internet. O dado considera apenas alunos com 10 anos de idade ou mais. Nesse caso, os 4,3 milhões equivalem a cerca de 12% do número total de estudantes dessa idade. A grande maioria deles – 4,1 milhões – estavam matriculados na rede pública.

No ano letivo de 2020, apenas 6,6% das escolas públicas forneceram internet gratuita ou subsidiada aos alunos que estavam em ensino remoto. O dado foi obtido pelo Inep a partir de um questionário enviado a todas as 179 mil escolas da rede básica no Brasil, das quais 168 mil (94%) responderam. Na rede municipal, que concentra metade dos estudantes, apenas 2% das escolas forneceram internet para os alunos. Na rede estadual, foram 21% das escolas, enquanto na federal, a menor de todas as redes, foram 82,5%.

Em 2020, apenas 64,7% das escolas da rede municipal – que concentra a maior parte das escolas e dos estudantes brasileiros – contavam com internet em suas dependências. Nas escolas particulares que atendem ao ensino fundamental, a proporção era de 97,6%. Na rede estadual, 92,1% das escolas tinham internet; na rede federal, todas tinham.

No Distrito Federal, 42% das escolas públicas ofereceram internet gratuita ou subsidiada para os alunos durante o ano letivo de 2020. É uma proporção seis vezes maior que a média nacional, de 6,6%. Rondônia foi o estado que menos garantiu internet para os alunos em isolamento: apenas 0,5% das escolas públicas de lá ofereceram o serviço.

No ano letivo de 2020, apenas 64% das escolas públicas no Brasil disponibilizaram aulas ao vivo ou gravadas para seus alunos, fosse por meio da internet, do rádio ou da televisão. Em alguns estados, a proporção foi ainda menor: no Amazonas e no Pará, só 33% das escolas públicas ofereceram esse serviço. Entre as escolas particulares, no Brasil todo, o cenário foi outro: 88% delas promoveram aulas à distância durante a pandemia.

Até julho, a retomada das aulas presenciais se deu sobretudo nas escolas particulares frequentadas por alunos de maior renda. Uma pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann, pelo Itaú Social e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostra que, entre os alunos matriculados nas escolas de nível 4, 5 e 6 na tabela de Indicadores de Nível Socioeconômico (INSE) do Inep, 36% já tinham a opção de assistir a aulas presenciais. Entre os estudantes de escolas de nível 1, 2 e 3 do INSE, apenas 16% tinham essa opção. Os diferentes indicadores do INSE são calculados com base na renda das famílias vinculadas a cada escola, assim como nos seus bens e poder aquisitivo. Quanto mais alto o indicador, maior o nível socioeconômico da escola.

Até o dia 5 de agosto, já haviam sido vacinados ao menos 3,2 milhões de trabalhadores da educação básica, um dos grupos prioritários no plano nacional de imunização. Desse total, apenas 671 mil tinham completado o ciclo vacinal – ou tomando duas doses, ou tomando uma vacina de dose única. Os outros 2,6 milhões ainda aguardavam pela segunda dose da vacina que haviam tomado.

Fontes: Pnad Contínua (IBGE); pesquisa “Resposta educacional à pandemia de COVID-19 no Brasil” (Inep); Censo da Educação Básica 2020; Pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Ministério da Saúde.

Envie seu Comentário

comments