Os mais de 102 mil km² desmatados pela atividade é o maior já registrado pelo Inpe comparado ao mesmo período em anos anteriores. Especialista alerta que a situação deverá piorar nos próximos meses.
Por Laís Modelli, G1
A mineração desmatou 102,42 km² na Amazônia entre 1º de janeiro e 13 de agosto, o equivalente a mais de 10,2 mil campos de futebol, segundo dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), reunidos pelo G1. A área já é maior que o registrado nos 12 meses de 2020, quando a atividade devastou 100,26 km².
O desmatamento causado por mineração na floresta amazônica no período analisado também é o maior em toda a série histórica do Deter/Inpe, iniciada em 2015:
- 2021: 102,42 km²
- 2020: 80,49 km²
- 2019: 86,51 km²
- 2018: 65,24 km²
- 2017: 39,6 km²
- 2016: 32,73 km²
Os dados do Inpe não fazem menção ao “garimpo” – extração de minérios predatória e ilegal, geralmente relacionada ao ouro e não à indústria – nem diferenciam a mineração legal (que tem autorização da Agencia Nacional de Mineração) da ilegal.
Dados reunidos pelo Instituto Socioambiental (ISA) alertam para crescimento do garimpo na região: os alertas de desmatamento causado por garimpo aumentaram 16% dentro de áreas protegidas da Amazônia entre agosto de 2020 e 2021. Fora dessas áreas, o aumento no período foi de 26%.
Para Antônio Oviedo, cientista ambiental e pesquisador do ISA, os fatores que explicam o aumento do garimpo são uma combinação entre falta de fiscalização do governo e os projetos de lei em discussão no Congresso que visam acabar com demarcação de terra indígena e liberar de mineração nesses território, como o PL 490 e o PL 191.
“A grande maioria dos alertas de garimpo está nas terras indígenas (22%) e unidades de Conservação (53%), e a fiscalização não está atuando ali. O aumento também é decorrente da expectativa de que o projeto de lei que visa abrir as TIs para a mineração seja aprovado, e aí esses criminosos apostam na política do fato consumado, ou seja, já estão lá explorando e acham que com a aprovação da lei eles serão legalizados”, diz Oviedo.
O cientista ambiental alerta que o desmatamento por mineração e garimpo nos próximos meses deverão aumentar até o final do ano, uma vez que entramos no principal período que ocorrem os desmatamentos e incêndios na Amazônia.
“A partir de agosto, as chuvas diminuem e isso facilita as atividades de desmatamento e garimpo nas margens dos rios. a tendência é que esta degradação aumente ao longo dos próximos meses, entre (setembro a novembro”, alerta Oviedo.
O G1 procurou o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pedindo dados sobre fiscalização e aplicação de multas relacionadas ao garimpo e mineração legal e ilegal na Amazônia. Nenhum retornou o contato.
Líderes indígenas denunciam avanço do garimpo ilegal e ameaças
Mês de maior devastação foi marcado por violência
Maio de 2021 foi o mês em que a mineração mais desmatou a Amazônia em toda a série histórica do Deter/Inpe, com 37,94 km² de desmatamento em um único mês. Na sequência aparece maio de 2019, com 34,47 km² devastados pela atividade.
Garimpeiros invadiram aldeia na TI Munduruku e queimaram casas de indígenas contra o garimpo no local, em 26 de maio. — Foto: Coletivo de audiovisual do povo Munduruku
Em maio, garimpeiros entraram em confronto com a Polícia Federal em Jacareacanga, no Pará, enquanto esta realizava a Operação Mundurukânia para conter o garimpo na terra indígena Munduruku. Os manifestantes pró-garimpo tentaram invadir a base da PF e depredar patrimônio da União, aeronaves e equipamentos policiais.
As aldeias foram cercadas e uma estrada foi interditada, impedindo o andamento da operação, que durou apenas dois dias. No mesmo dia em que os policiais federais interromperam a operação, os garimpeiros invadiram e incendiaram uma aldeia.
O município de Jacareacanga, aliás, é o segundo mais desmatado por mineração no Brasil este ano, com 17,92 km². Em primeiro lugar está Itaituba, com 44,26 km². Ambos ficam no Pará e estão distantes cerca de 300 km.