Lenio Luiz Streck, na FSP – Amanhã tem golpe. Está marcado na agenda, no calendário oficial da República. Golpistas de todo o país já estão credenciados e com a coreografia pronta para enfrentar o comunismo imaginário, invadir o Supremo e finalmente atingir seu sofisticado objetivo de destruir tudo isso que está aí.
As imagens constrangedoras que serão produzidas neste 7 de setembro certamente entrarão para a história, serão estudadas e causarão vergonha a esse país por muitos anos.
“O golpe está aí, cai quem quer”, diz o meme que virou música de Matheusinho e Menor Nico e que tem mais de 55 milhões de views no Youtube. Será que nós vamos mesmo cair em um golpe concebido por esses malucos?
Nossa sorte é que, dessa vez, ao contrário de 1964, como na história atribuída a Garrincha, eles esqueceram de combinar com os russos. Tudo indica que, mesmo se houver o apoio armado de PMs rebeldes, as instituições e a sociedade vão estar preparadas para se defender e transformar essa data em apenas mais um momento patético de um período sombrio da história. O presidente precisa aprender na marra que a Constituição é um texto que tem muito mais do que quatro linhas.
O fato de resistirmos à tosca tentativa de golpe de Bolsonaro não significa, porém, que a democracia esteja fora de risco. Exemplos no mundo todo mostram que existem meios bem mais eficientes de tomar o poder do que o escolhido pelo presidente.
A tentativa de golpe de amanhã não emplaca apenas porque foi concebida por um sujeito despreparado e com um talento absurdo para fazer tudo errado. Se, em vez de Bolsonaro, o eleito fosse alguém um pouco mais capacitado, estaríamos realmente em apuros.
Está claro que uma boa parcela da população brasileira, começando pelos mais ricos, embarcaria tranquilamente em uma aventura golpista se ela fosse embalada com um pouco mais de competência do que o bolsonarismo. Fica o alerta para que o cuidado seja redobrado daqui para a frente.
No prognóstico de que sua história tem apenas três desfechos possíveis, vitória, prisão ou morte, Bolsonaro já sabe que a vitória é a menos provável. Ele está nas cordas, humilhado por seu maior inimigo nas pesquisas, sendo extorquido pelo centrão no Congresso, pressionado pelo STF e exposto pela CPI da Covid. A crise econômica, consequência de sua incapacidade de governar, ameaça seu futuro no cargo e, para fechar a má fase, o presidente foi até acusado de ser corno por um ex-funcionário.
Isso tudo para alguém com uma personalidade tóxica como a dele forma uma equação perigosíssima. Uma das principais causas da violência é a falta da linguagem, da conversa, do entendimento. Pessoas com inteligência limitada, como é o caso de Bolsonaro e parte significativa de seus seguidores, quando perdem a capacidade de argumentar, partem direto para a violência. Isso faz dos atos deste 7 de setembro na avenida Paulista e em Brasília, além de imprevisíveis, extremamente perigosos.
A democracia vai sobreviver ao dia de amanhã. Resta agora saber a que custo.