Loja da família Zema faz liquidação com roupas contaminadas por lama em Brumadinho (MG)

Loja da família Zema faz liquidação com roupas contaminadas por lama em Brumadinho (MG)

Produtos foram apreendidos pela Prefeitura, pois estavam sendo comercializados “de forma irregular”

Caroline Oliveira, Brasil de Fato 

A Vigilância em Saúde da Prefeitura de Brumadinho, em Minas Gerais, apreendeu na manhã de quinta-feira (10) roupas e calçados que estavam sendo comercializados pela Loja Zema “de forma irregular”. A loja faz parte do Grupo Zema, que foi criado há cerca de 95 anos pela família do atual governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Partido Novo). 

“Os produtos estavam sujos pela lama da enchente que atingiu o centro de Brumadinho no mês de janeiro. O material foi recolhido e descartado no aterro”, informou a prefeitura da cidade em comunicado oficial. Ao todo, foram apreendidas 179 peças de roupa e 46 pares de calçados que não poderiam nem ser doados, já que o contato com a lama pode provocar doenças. 

“Uma doação dependeria de uma lavagem específica e uma desinfecção que deveria ser feita pela loja, mas diante da dificuldade do trabalho, eles optaram por entregar as roupas e os sapatos para descarte”, afirmou a coordenadora interina da Vigilância, Cristiane Andrade Viana. O estabelecimento foi notificado pela prefeitura e, em caso de reincidência, pode haver a aplicação de multa e até a interdição da loja

Anteriormente, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) já havia denunciado o caso nas redes sociais. “Três anos depois do crime da Vale e semanas após uma das maiores enchentes da história da região, Brumadinho é surpreendida com as Lojas Zema, literalmente, vendendo por ‘20 reais qualquer peça’, em até ‘10x sem juros’, roupas e sapatos sujos de rejeitos”, publicou o movimento em sua página no Instagram. 

Lama tóxica das enchentes 

“A lama voltou para as casas dos atingidos durante esse ano, depois de a maior enchente dos últimos anos cobrir todas as casas até o telhado de água e até a metade de lama”, afirma o MAB na publicação. 

Mauro da Costa Val, primeiro presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, explica que no fundo do Rio Paraopeba existe a lama tóxica proveniente da barragem de rejeitos da mina Córrego do Feijão, pertencente à mineradora Vale, que rompeu em 2019. 

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“O que ocorre? Os rejeitos são pequenos grãos, mais pesados do que a água, então eles sedimentam. Quando não está chovendo e a vazão é pequena, há pouca movimentação da água. Mas quando há grandes enchentes, isso tudo é revolvido. Há uma energia grande, tudo fica chacoalhando, e isso é levado até onde a água vai. Depois, isso sedimenta como lama na casa das pessoas, nas plantações, etc. Essas substâncias tóxicas se espalham”, explica Costa Val. 

Indignação 

José Geraldo Martins, da coordenação estadual do MAB de Minas Gerais, que acompanha os atingidos da Bacia do Rio Paraopeba, afirmou que a comercialização dos produtos causou “muita indignação” na população de Brumadinho.  

“As pessoas ficaram bastante indignadas, porque quem teve a casa invadida pela lama jogou fora roupas, móveis, eletrodomésticos e utensílios que haviam tido contato com a lama contaminada. Enquanto isso, a loja do próprio governador do estado vendendo com desconto em 10 vezes os itens atingidos pela lama. Isso causou muita indignação”, afirmou Martins.  

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Segundo Martins, a loja fica localizada numa avenida que foi afetada pelas enchentes em janeiro deste ano. “Só que os outros lojistas, já que é uma rua de comércio, também tiveram o mesmo prejuízo e a mesma situação, e o mau exemplo veio de cima, da loja de propriedade da família do governador”, afirmou. 

“Além das questões sanitárias, de saúde pública e outras, isso também demonstra uma falta de sensibilidade muito grande em relação ao crime que foi cometido, que ceifou 272 vidas imediatamente e ainda vem destruindo vidas ao longo desses três anos, porque essa enchente deixou lama de rejeito de minério dentro das casas das pessoas.” 

Outro Lado 

Brasil de Fato entrou em contato com o Grupo Zema solicitando um posicionamento sobre o caso, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Edição: Monique Santos

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