Muito prazer, menopausa

Muito prazer, menopausa


Esta é uma fase da vida que não se limita, nem pode ser definida, como uma condição médica.

Marilza Tavares, no G1

Para começar, vamos fazer as devidas apresentações. Sem medo, encarando de frente essa “acompanhante” que nos escoltará por décadas. E ninguém deve se sentir só: em 2025, haverá cerca de um bilhão de mulheres no planeta entre a pré e a pós-menopausa. Esta é abertura do meu novo livro, “Menopausa – o momento de fazer as escolhas certas para o resto da sua vida” (Editora Contexto). Em 2020, depois de lançar “Longevidade no cotidiano: a arte de envelhecer bem”, ficou claro para mim que, em todas as etapas da vida adulta, podemos dar novo rumo à existência. No climatério, temos tempo para refletir e tomar decisões cruciais cujo impacto fará diferença na saúde física, emocional e psíquica nas décadas que temos pela frente. De acordo com o IBGE, em 1960, a expectativa de vida de uma brasileira estava em torno de 55 anos; em 2019, já tinha pulado para 80 anos. O que antes se caracterizava como uma experiência até breve, porque a menopausa se confundia com o limite da vida, estendeu-se com a mudança do perfil demográfico. Entretanto, não queremos que seja apenas longa, e sim que também seja rica e tenha significado.

Gerações de mulheres que nos precederam sofreram caladas com sintomas que afetaram a qualidade de suas vidas. Perderam o prazer de fazer sexo ou simplesmente abdicaram dele e, embora tivessem a preocupação de conversar com suas filhas sobre menstruação e gravidez, cobriram a menopausa com um manto de silêncio, alimentando o tabu em relação à situação. Nos consultórios, com frequência o atendimento costuma focar no controle de sintomas, como ondas de calor ou mudanças de humor, quando, na verdade, precisamos de uma bússola para navegar por esse oceano desconhecido.

Peça a qualquer mulher, na faixa dos 40, para fazer uma lista de suas atribuições. Há quem tenha filhos ainda pequenos, com um roteiro que inclui acompanhamento escolar, atividades extracurriculares, eventuais aulas de reforço, aniversários. Se são adolescentes, o embate sobre limites se soma às questões acadêmicas. Também cresce o grupo que está na dúvida se resta tempo para embarcar na experiência da maternidade. Casamentos estão começando, outros singram mares tormentosos de crise. Profissionalmente, a inexperiência dos primeiros anos deu lugar a uma maior desenvoltura. Imagine ter tudo isso na cabeça e, no meio de uma reunião, ficar encharcada de suor por causa de uma onda de calor que não apenas traz desconforto intenso, mas pode arruinar sua apresentação? Vamos combinar o seguinte: esta é uma fase da vida na qual alcançamos um estágio de maior independência e autoconfiança, nos campos sexual, afetivo e profissional. Ela não se limita – e nem deve ser definida – como uma condição médica.

O livro está dividido em cinco seções: o corpo, as emoções, as relações, o sexo e o segundo ato, que abrange trabalho e a luta pelos nossos direitos. Contei com a ajuda valiosa de mulheres que foram extremamente generosas em compartilhar suas experiências, dores, temores e alegrias. Cada trajetória e forma de lidar com essa fase é uma espécie de impressão digital, única. Entretanto, embora as vivências sejam diferentes entre si, ao mesmo tempo nos irmanam nos pontos que têm em comum. Este é um convite para transformar a menopausa num movimento!

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