CPT denuncia: Roubo de madeira, grilagem e projeto de usina ameaçam extrativistas em Rondônia

CPT denuncia: Roubo de madeira, grilagem e projeto de usina ameaçam extrativistas em Rondônia

Por Luciana Oliveira – Angelim, Aquariquara, Castanheira e outras 13 árvores dão nomes às reservas extrativistas da região de Machadinho do Oeste e Vale do Anari, em Rondônia.

Todas as reservas dessa região estão sob intensa pressão da extração ilegal de madeira.

A grilagem é também grave ameaça às áreas protegidas para a conservação do meio ambiente.

De 21 reservas estaduais, 16 estão em Machadinho do Oeste.

Acampamentos de invasores já foram destruídos.

Quem invade se sente estimulado com a política antiambiental do governo que enfraqueceu os órgãos de fiscalização.  

Seringueiros que nasceram em reservas, como provam documentos, foram obrigados a viver de aluguel e a depender de cesta básica na cidade.

Outros tiveram o perfil de extrativista questionado, o benefício do Plano de Manejo negado e as casas destruídas com fogo.

A tensão aumentou nos últimos quatro anos, segundo os extrativistas. Com vídeos, denunciam e pedem socorro.

“Eu choro assim porque eu fico envergonhado, com raiva, medo, nervoso desse pessoal. A Sedam é péssima no estado nosso. Péssima. Eu não recebo um centavo de manejo de 2016 pra cá. Não sei pra onde esse dinheiro tá indo. É muito dinheiro, muita madeira. Estão destruindo nossa reserva, doutora. Estão destruindo nossa reserva e nós não temos o direito de falar nada”, desabafou um extrativista que não quer sua identidade revelada.

Um relatório de missão ao Conselho Nacional de Direitos Humanos apontou 16 mortes brutais na região nos últimos 10 anos.

À reportagem, um seringueiro contou sobre morte após tortura: “E daí pegaram uma mandioca, né? De aproximadamente 30 cm mais ou menos, numa espécie de grossura de um copo desses de vidro comum e colocaram no ânus dele, né?

E daí ele era uma pessoa muito preservada, acanhada. E ele teve uma temporada junto com a gente. E a gente via que pra ele lavar uma roupa de serviço ele entrava dentro do banheiro. Ele se escondia. Ele não lavava em frente a qualquer pessoa.

E ele foi com esse material ingerido dentro dele. E o tempo foi passando e o médico fazendo tratamento diferente e quando viu que ele estava com o “pé da barriga muito inchado” foi que fizeram um RAIO-X. E nesse RAIO-X comprovou o material ingerido dentro dele. E quando foi pra fazer a operação dele, segundo o filho, que tava junto com ele, ele não resistiu mais. Porque estava todo infecionado”.

O pior está por vir se a construção da usina hidrelétrica de Tabajara for autorizada.

A promessa com a obra é de empregos na região.

O custo é alto para uma usina que vai gerar em média 237 Megawatts de energia.

O estudo de impacto ambiental se restringe a uma área bem menor do que a que será atingida.

Os prejuízos ao meio ambiente e às pessoas estão sendo questionados na justiça.

“Do ponto de vista ambiental, do discurso que o governo promove, que vai proteger, que vai segurar o desmatamento, não tem coerência falar isso e ao mesmo tempo aprovar projetos frouxos, com licenciamentos frouxos, com regras frouxas”, diz Luís Fernando Novoa, Coordenador do grupo de pesquisa Territorialidades e Imaginários na Amazônia/UNIR

Para discutir o roubo de madeira, a grilagem e o projeto da usina que ameaçam as reservas extrativistas, a Comissão Pastoral da Terra realizou um encontro e audiência pública em Machadinho.

Os extrativistas ouvidos apontaram a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental como órgão violador de direitos, por ação e omissão.

Eles denunciaram a falta de transparência e controle nos Planos de Manejo. Quem vive na Resex Aquariquara também culpou a associação Aseva, associação que estaria direcionando o acesso ao benefício.

Um surto de depressão por causa dos conflitos atinge as comunidades.

Um seringueiro passou mal durante a audiência

“Muitas delas se encontram em estado depressivo, grave. Alguns casos a gente teve até situação de tentativa de suicídio”, denunciou Valdirene de Oliveira, Ouvidora Geral da Defensoria Pública de Rondônia.

A Sedam nega indiferença ao que ocorre nas reservas.

“Não estão tão desassistidos assim. A gente esta acompanhando e perto, o escritório da Sedam aqui de Machadinho do Oeste está tentando acompanhar a situação de todos os extrativistas”, disse Fabrício Pereira De Jesus, gerente do Escritório da Sedam em Machadinho do Oeste

Em carta encaminhada a órgãos fiscalizadores os extrativistas pedem providências urgentes.

Pedem auditoria nos Planos de Manejo e proteção para que seja garantida a soberania de seus territórios e de práticas tradicionais.  

” A CPT é um braço da igreja católica, uma profética junto aos pequeninos fazendo ecoar seus gritos. Não há nada de escondido que não seja colocado em cima da mesa. As violações sofridas por vocês, cedo ou tarde, serão escancaradas por nós, seja na justiça, nos meios de comunicação, seja nas instâncias internacionais”, disse Maria Petronila, da CPT.

Assista a reportagem:

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