O SOBE E DESCE DA POBREZA

O SOBE E DESCE DA POBREZA

Revista Piauí, por Luigi Mazza, Thallys Braga e Renata Buono |

Os brasileiros mais pobres vivem uma era de extremos. Em dois anos de pandemia, o Brasil oscilou entre um dos menores índices de pobreza da série histórica do IBGE, iniciada em 2012, e o maior índice de todos. Isso se explica pelo vaivém dos programas sociais implementados pelo governo federal. No começo da pandemia, a renda dos 10% mais pobres da população despencou ao menor patamar já registrado; em seguida, com a criação do auxílio emergencial, ela foi catapultada a um pico histórico, para, logo em seguida, com o fim do auxílio, despencar a um patamar pré-pandemia. Essa variação gerou uma instabilidade inédita – uma “montanha-russa da pobreza”, na expressão cunhada pelos pesquisadores Marcelo Neri e Marcos Hecksher, o que tem impacto sobre o bem-estar social. O país encerrou 2021 no ponto mais baixo dessa montanha-russa: 29,6% da população – o equivalente a 62,9 milhões de brasileiros – tinham renda per capita de até R$ 497, patamar usado internacionalmente para traçar a linha da pobreza. Um recorde. O novo benefício do governo, Auxílio Brasil, começa a reverter esse quadro, mas seu impacto ainda não está claro. O =igualdades ilustrou a instabilidade vivida pelos brasileiros pobres.

O fim do auxílio emergencial jogou 10 milhões de brasileiros na pobreza em 2021. Segundo os dados colhidos pelo IBGE, havia no ano passado 62,9 milhões de brasileiros vivendo com uma renda domiciliar per capita de até R$ 497 (ou equivalente ao valor de US$ 5,50 por dia ajustado por paridade de poder de compra). É o maior patamar da série histórica medida pelo IBGE. Em 2020, havia 53,1 milhões de brasileiros nessa condição.

A renda média dos 10% mais pobres do Brasil fez uma trajetória de montanha-russa nos últimos dois anos. De um patamar de R$ 114 registrado antes da pandemia, ela caiu para R$ 52 no primeiro mês de isolamento. Em agosto de 2020, no auge da distribuição do auxílio emergencial, a renda saltou para uma média recorde de R$ 215. Os ajustes – e a posterior extinção desse auxílio – fizeram o valor cair para R$ 55 no começo de 2021. Já no final do ano, com a implementação do Auxílio Brasil, essa média começou a subir, chegando a R$ 96 em novembro.

O sobe e desce da pobreza no Brasil reflete as mudanças nos programas de distribuição de renda do governo federal. Se antes da pandemia os benefícios de programas sociais recebiam em média R$ 12, com a criação do auxílio emergencial a média saltou para R$ 136. Meses depois, no começo de 2021, a extinção do auxílio fez essa média cair a R$ 14 – valor que desde então vem crescendo, graças à implementação do Auxílio Brasil. 

Os 5% mais pobres do Brasil foram os que mais perderam renda em 2021 na comparação com 2020, proporcionalmente. De um patamar de R$ 59 de renda média mensal domiciliar per capita, caíram para R$ 39 – uma oscilação de 34%. Os mais ricos só perderam 6% da renda, passando de R$ 17 mil para R$ 15,9 mil. Com isso, o abismo da desigualdade se alargou. Em 2020, um brasileiro dos 5% mais pobres precisaria de 24 anos para obter a renda que um brasileiro dos 1% mais ricos obtinha por mês (R$ 17 mil). Em 2021, essa distância aumentou para 34 anos.

O salário mínimo em 2021 foi de R$ 1.100. A renda média per capita dos 5% mais pobres do Brasil, porém, foi de apenas R$ 39 – o equivalente a R$ 1,30 por dia. Para atingir o valor de um salário mínimo, portanto, um brasileiro desse grupo precisaria de 846 dias (ou 2 anos e 3 meses). Já um brasileiro dos 1% mais ricos precisaria de pouco mais de 2 dias.

Pernambuco foi o estado onde a pobreza cresceu de forma mais acentuada em 2021. A proporção de pernambucanos vivendo com até R$ 497 por mês aumentou de 42,4%, em 2020, para 50,3%. No Brasil, o incremento foi de 25% para 29,6% no mesmo período.

Em 2021, tanto Rio de Janeiro quanto São Paulo viram a pobreza aumentar de forma mais aguda nas periferias do que nas capitais. O contraste no Rio foi notável: a proporção de pobres na capital cresceu menos do que 1 ponto percentual, ao passo que na região metropolitana de Duque de Caxias o aumento foi de 7 pontos percentuais.

Fontes: A Montanha-Russa da Pobreza (FGV); o Mapa da Nova Pobreza (FGV); Pnad Contínua: Rendimento de Todas as Fontes – 2021 (IBGE).

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