Informações do Monitor da Floresta do PlenaMata trazem estimativas em tempo real, com base nos dados do Inpe, e apontam recorde do desmatamento nos primeiros sete meses do ano; chegada do verão amazônico traz expectativas de números ainda maiores para o restante de 2022.

Mais de 300 milhões de árvores foram derrubadas na Amazônia brasileira entre 1º janeiro e 10 de agosto de 2022, de acordo com dados inéditos do Monitor da Floresta do PlenaMata, uma iniciativa do MapBiomas, InfoAmazonia, Natura e Hacklab pelo fim do desmatamento. Nesse período, foram perdidas mais de 1,4 milhão de árvores por dia, uma média de 1.024 a cada minuto e, a cada segundo, de 17.

Contador do PlenaMata traz estimativa em tempo real de árvores derrubadas na Amazônia Legal. No fechamento desta reportagem, em 10 de agosto, marcava mais de 305 milhões de árvores derrubadas por desmatamento em 2022.

Para Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede de mais de 70 organizações da sociedade civil, o número de 300 milhões de árvores derrubadas representa um “genocídio ecológico”. 

A Amazônia é uma fornecedora de chuva para o país inteiro. Além disso, o desmatamento vai levar a floresta a um ponto de colapso, que é quando ela começa a não existir mais tal como sempre existiu – e isso pode levar à perda da Amazônia, o que seria uma tragédia climática global.

Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima

“Essas derrubadas também trazem a violência, a invasão de terras, a criminalidade, a ilegalidade, e isso atinge diretamente as populações que vivem na floresta, como indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Então, muitas vezes, o corte de árvores vem acompanhado também do corte de vidas”, complementa. 

O contador utiliza como base os alertas diários de áreas desmatadas do DETERFerramenta do governo federal que gera alertas rápidos para evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia e no Cerrado[+], do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e multiplica pela quantidade média de árvores estimada pela ciência para cada hectare de floresta na Bacia Amazônica, que é de 565 árvores por hectare — número obtido de um amplo estudo publicado em 2013, realizado por mais de 100 cientistas.

Como os alertas do Deter são divulgados semana a semana, o contador inclui uma estimativa em tempo real de quantas árvores estão caindo até o presente momento.

No entanto, os alertas do Deter geralmente detectam menos desmatamento que o PRODESProjeto para o mapeamento oficial das perdas anuais de vegetação nativa na Amazônia Legal[+], o sistema do Inpe que consolida a perda anual da Amazônia. Considerando a média da diferença entre os dois sistemas, o contador do PlenaMata também conta com um fator de correção que garante mais precisão no cálculo.

Os números do contador sofrem alterações de acordo com a data dos alertas detectados. Nesta ilustração, as estimativas correspondem aos valores em 10 de agosto de 2022. 

Segundo o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, o que o contador faz é transformar os dados de desmatamento do Inpe em números de árvores tombadas.

 Tudo isso para representar de forma mais concreta o significado da derrubada da floresta. Em vez de falarmos em áreas, abordamos em números de árvores, o que dá um pouco mais de noção do tamanho do desastre.

Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas

Assim, o Amazonas, estado mais desmatado no primeiro semestre de 2022, lidera o ranking de árvores tombadas entre janeiro e agosto. 

ÁRVORES DERRUBADAS ENTRE JANEIRO E AGOSTO DE 2022

Amazonas: 95,8 milhões de árvores
Pará: 89,5 milhões de árvores
Mato Grosso: 59 milhões de árvores
Rondônia: 41,6 milhões
Acre: 10,5 milhões de árvores
Roraima: 4,8 milhões de árvores
Maranhão: 2,6 milhões de árvores
Tocantins: 302,6 mil árvores
Amapá: 35,2 mil árvores

O desmatamento na Amazônia brasileira acelerou em 2022, com 5.457 km² de florestas perdidas entre 1º de janeiro e 29 de julho, segundo o monitor. Esse é o maior valor já registrado para o período desde o início da série histórica, em 2016. A área desflorestada representa um aumento de 9% em relação aos primeiros sete meses de 2021. 

A pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Bianca Santos, alerta que a chegada do verão amazônico, período que vai de julho a novembro, traz expectativa de crescimento “em ritmo acelerado” do desmatamento na região no segundo semestre.

A derrubada da floresta acaba sendo mais facilitada com a diminuição das chuvas e as queimadas. Outro fator que também contribui para a tendência de alta é a realização das eleições, quando, historicamente, as ações de fiscalização costumam diminuir. 

 Bianca Santos, pesquisadora do Imazon

“O desmatamento também ameaça a existência de povos e comunidades tradicionais, como os indígenas, que vêm sofrendo cada vez mais com o aumento da violência na região amazônica, que está diretamente ligada ao desmatamento”, diz a pesquisadora.

Efeitos do desmatamento

A floresta amazônica contribui para a manutenção do clima na Terra ao estocar grande quantidade de dióxido de carbono (CO2), um dos gases responsáveis pelo efeito estufa e aquecimento global. No entanto, um estudo liderado pela pesquisadora do Inpe Luciana Gatti e publicado em julho de 2021 na revista científica Nature aponta que o lado leste da Amazônia tem perdido a função de reter o gás carbônico.

A pesquisa, uma das mais completas sobre o assunto, apurou a concentração de CO2 em diferentes regiões da Amazônia entre 2010 e 2018 e mostrou que o nordeste e sudeste da floresta, os mais desmatados e queimados, já emitem mais dióxido de carbono do que absorvem, ou seja, tornaram-se fontes de emissão de CO2.

Em entrevista ao InfoAmazonia e PlenaMata, a cientista explica em detalhes o fenômeno “catastrófico” e alerta que o processo tem reduzido ainda a formação de chuvas na região e aumentado a temperatura a níveis preocupantes, com impactos na saúde humana, na segurança das populações e na economia brasileira, uma vez que o agronegócio é diretamente afetado pelas mudanças no clima.

Bianca Santos, do Imazon, acredita que para frear o desmatamento na Amazônia é necessário fortalecer os órgãos ambientais de fiscalização para combater de forma eficiente crimes como garimpo ilegal, grilagem de terras e invasões de florestas públicas e áreas protegidas. “Infelizmente são crimes que estão se tornando cada vez mais frequentes”, lamenta.

“É necessário também garantir a aplicação de punição aos desmatadores ilegais utilizando imagens de satélites como provas em processos de crimes ambientais, como o STJ adotou recentemente depois de um estudo realizado pelo Imazon com o objetivo de barrar a legalização de terras que foram ocupadas de forma ilegal”, reforça a pesquisadora.


Reportagem do InfoAmazonia para o projeto PlenaMata.

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